sexta-feira, 31 de julho de 2009

Zeca Afonso (2 Agosto 1929 - 23 Fevereiro 1987)

Traz Outro Amigo Também
(José Afonso)

Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também

Em terras
Em todas as fronteiras
Seja benvindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também

Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também

terça-feira, 28 de julho de 2009

#3

Uma grande tarefa não é mais do que um conjunto de pequenas tarefas à espera de serem feitas.
Acabe com elas, uma de cada vez.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

#2

Em qualquer dia
A qualquer hora
Vou estoirar
P'ra sempre

Mas entretanto
Enquanto tu duras
Tu pões-me
Tao quente

Ja sei que vou arder na tua fogueira
Mas será sempre sempre à minha maneira
E as forças que me empurram
E os murros que me esmurram
Só me farão lutar
À minha maneira

Por esta estrada
Por este caminho a noite
De sempre
De queda em queda
Passo a passo
Vou andando
P'ra frente

Ja sei que vou arder na tua fogueira
Mas será sempre sempre à minha maneira
E as forças que me empurram
E os murros que me esmurram
Só me farão lutar
À minha maneira

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Último dia

Manuel Alegre, de 73 anos, vive hoje o seu último dia na Assembleia da República, após 34 anos de actividade ininterrupta como deputado.

Discordando profundamente de todos os que advogam a saída de Alegre do Partido Socialista, admiro a sua coragem para ficar, divergindo do rumo que o seu partido entretanto tomou e lutando para manter os seus ideais.

Quem está a mais não é Alegre, mas sim os que se esqueceram da verdadeira filosofia do Partido Socialista, do caminho que foi desenhado naqueles fantásticos dias de 1974.

Respeito e concordo com a sua decisão de não integrar uma candidatura liderada pelas pessoas e pelas ideias que já tivemos oportunidade de conhecer nos últimos quatro anos. Se estivesse no lugar dele, faria o mesmo. Pensando bem, até já o fiz.

Tristes são estes tempos em que pessoas como Manuel Alegre são colocadas à margem, para dar lugar a "novos socialistas", cheios de vontade de agradar e ansiosos por saber quando e quanto vão receber em troca. Tristes, muito tristes.


Última Página

Vou deixar este livro. Adeus.
Aqui morei nas ruas infinitas.
Adeus meu bairro página branca
onde morri onde nasci algumas vezes.

Adeus palavras comboios
adeus navio. De ti povo
não me despeço. Vou contigo.
Adeus meu bairro versos ventos.

Não voltarei a Nambuangongo
onde tu meu amor não viste nada. Adeus
camaradas dos campos de batalha.
Parto sem ti Pedro Soldado.

Tu Rapariga do País de Abril
tu vens comigo. Não te esqueças
da primavera. Vamos soltar
a primavera no País de Abril.

Livro: meu suor meu sangue
aqui te deixo no cimo da pátria
Meto a viola debaixo do braço
e viro a página. Adeus.

-
Manuel Alegre

terça-feira, 21 de julho de 2009

De volta

Acabaram-se as férias (quais férias?), estou de volta à minha biblioteca. Ontem acabaram também as Festas de Moura, num ano particularmente difícil para os festeiros.

É difícil ser festeiro, muito, muito difícil. Ninguém quer assumir a responsabilidade, é muito mais fácil ficar em casa e criticar o trabalho daqueles que ousaram dar a cara e meter ombros à tarefa de organizar o momento mais alto da vida da cidade.

Esta postura de "treinador de bancada", que se verifica de igual forma noutras áreas da nossa vida, como o associativismo, a política, as organizações em prol da comunidade, a simples participação na vida escolar dos nossos filhos, não só é um desperdício de forças, de energia, de capacidade de trabalho, como vai minando tudo à sua volta, criando um deserto de ideias e de vontades que nos desanima, nos adormece.

Já é tempo de acordar. Já é tempo de cada um de nós deixar de se lamentar pelo que os outros fizeram. Já é tempo de fazermos melhor. Já é tempo de ter coragem.



Antes que Seja Tarde
Amigo,
tu que choras uma angústia qualquer
e falas de coisas mansas como o luar
e paradas
como as águas de um lago adormecido,
acorda!
Deixa de vez as margens do regato solitário
onde te miras
como se fosses a tua namorada.
Abandona o jardim sem flores
desse país inventado
onde tu és o único habitante.
Deixa os desejos sem rumo
de barco ao deus-dará
e esse ar de renúncia
às coisas do mundo.
Acorda, amigo,
liberta-te dessa paz podre de milagre
que existe
apenas na tua imaginação.
Abre os olhos e olha,
abre os braços e luta!
Amigo,
antes da morte vir
nasce de vez para a vida.
-
Manuel da Fonseca, in "Poemas Dispersos"

sábado, 4 de julho de 2009

Ervançum

No âmbito do Ervançum - Festival Cultural de Santo Amador, será apresentado amanhã, pelas 11 horas, o livro Santo Amador e a Revolução, da autoria de João Ramos.

Trata-se de um trabalho de investigação e recolha de depoimentos que tive o privilégio de ler ainda em rascunho. É sobretudo, o produto do imenso carinho e afecto que o João Ramos tem pela sua terra, não deixando de reflectir a sua perspectiva sobre o mundo, sobre a sociedade e sobre os acontecimentos que se seguiram ao 25 de Abril.

Conheço o João Ramos há cerca de sete a oito anos. Foi sempre um apoiante incondicional dos serviços que a Biblioteca pode prestar à população, e como tal, ajudou em muito ao crescimento que vivenciámos nos últimos anos, quer pela instalação dos pólos nas freguesias, quer pela criação e desenvolvimento das Bibliotecas Escolares. As suas qualidades humanas são bem conhecidas de todos os que trabalharam ou trabalham com ele.

Amanhã estarei em Santo Amador, entre muitos amigos, a testemunhar a publicação do seu primeiro livro. Parabéns!

Mãe

Vou herdar-lhe as flores, pedi-as às minhas irmãs. Um dos grandes amores da sua vida. Mas mãos dela, tudo florescia. O galho mai...