domingo, 13 de março de 2011

Zélia. Com Z.

Demorei algum tempo para nascer.


As decisões importantes da minha vida são sempre ponderadas, pensadas e repensadas, embora eu aparente ser uma pessoa muito decidida. E esta foi só a primeira de muitas.

A verdade é que receava o mundo que me esperava cá fora. Ninguém me dava garantias, percebem? Só sentia que me empurravam, empurravam e afinal de contas, o ambiente lá dentro era um bocado escuro e claustrofóbico, mas sempre era conhecido e eu já me movimentava relativamente bem ali. Bem, devo confessar que ultimamente já era um bocado apertado, queria virar-me para a esquerda, mas a minha mãe não achava piada e para a direita era mesmo impossível. Esticar-me era um pesadelo, mas o mais difícil era mesmo não conseguir levantar a cabeça…

Enfim, empurrada por todas as forças, conduzida para o caminho inevitável, lá nasci. 18 de Fevereiro, 8h30 da manhã. Naturalmente, onde quer que eu chego, as águas agitam-se e nada é pacífico. A minha mãe queria que eu me chamasse Ana Isabel, mas o meu pai, que estava convencido que eu era um rapaz, nunca ligou muita importância ao assunto. Era óbvio que seria António, como ele.

Esclarecidas todas as dúvidas, o meu pai resolveu impor a sua vontade. Se não era António, podia ser, por exemplo, Antonieta… Foi por estas horas que os meus pais finalmente se viram confrontados com a necessidade de discutir o assunto. Convém aqui esclarecer que os meus pais têm uma maneira muito peculiar de discutir: nenhum dá o braço a torcer e falam sobre tudo menos sobre o tema da discussão. Portanto, não falando, tornou-se óbvio que havia um problema para resolver.

Lá em casa, nesta altura, além da minha irmã mais velha, que nem sonhava que eu estava para chegar e portanto ainda acreditava que a vida podia ser um paraíso, estavam também uma prima, que haveria de ser minha madrinha, e uma vizinha que era, e é, nossa amiga, tão amiga como uma amiga pode ser. O meu pai, carregando certamente a culpa de ter sugerido que eu me chamasse Antonieta, arranjou um livro de nomes. Como a discussão com a minha mãe ainda durava, o que significa que não se ouvia nem um pio sobre o assunto, a minha madrinha e a nossa amiga resolveram lançar mãos à obra, que é como quem diz, ao livro, para escolherem o meu nome (cada vez que me contam esta história, há sempre alguém que diz “Ai Zélia, tanta fatia dourada que comemos nessa tarde…” e eu não consigo deixar de pensar se as fatias teriam açúcar amarelo).

O resto da história é que ninguém me consegue explicar. Como é que, com uma lista de nomes à frente, aquelas duas peças se lembraram de escolher Zélia, permanece uma incógnita. Se era por já terem chegado ao fim do livro sem tomar uma decisão, podiam ter recomeçado, não acham? De qualquer forma, quem esperou uma dúzia de horas, esperava mais um bocado e tinha um nome… como é que eu hei-de dizer? Giro. Normal. Agradável.

---

Já agora:
Significado do nome Zélia aqui, aqui, ou mais completo, aqui.

6 comentários:

  1. Zélia, não é assim tão mau. Eu, que sou Carla, fui quase quase, Nazaré Cristina. Isso, isso sim seria muito mau :)

    ResponderEliminar
  2. As decisões importantes da minha vida são sempre ponderadas, pensadas e repensadas, embora eu aparente ser uma pessoa muito decidida.

    Não penses muito, faz, segue o caminho que o teu eu te indicar. Quanto a nomes, os meus dois próprios, eram de meus avós, ambos naturais do Alentejo, por curiosidade, embora eu tenha nascido em Lisboa, tal como o meu pai, já a minha mãe é natural do Alentejo, do teu Distrito, mas longe da tua zona, em direcção oposta, o primeiro nome do que ainda era vivo, o segundo do que já tinha falecido.

    ResponderEliminar
  3. Vocês têm todos nomes normais, é natural que achem bem. Mas a mim chamam-me constantemente Célia, Gisélia e outras variantes. Além disso, fui sempre, sempre a última em todas as listas que a sociedade insiste em ordenar alfabeticamente (excepto na universidade, onde havia uma colega chamada Zulmira). Enquanto as outras pessoas andam à procura do seu nome em listas, eu vou ao final da dita cuja e... estou lá.

    ResponderEliminar
  4. E olha só que vantagem. Eu, sempre perdida no meio das diversas Carlas, no centro da lista :)

    ResponderEliminar
  5. Zulmira é pior do que Zélia, muito pior.Se lhe chamam constantemente Célia fico contente, assim nunca se esqueçe de mim.lol


    Célia

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.

Mãe

Vou herdar-lhe as flores, pedi-as às minhas irmãs. Um dos grandes amores da sua vida. Mas mãos dela, tudo florescia. O galho mai...