Açúcar Amarelo: E por falar em bibliotecas e em memórias...

terça-feira, 19 de julho de 2011

E por falar em bibliotecas e em memórias...

Esta era a biblioteca da minha infância.

Agradeço a imagem ao José Francisco Finha.

10 comentários:

Anónimo20/07/11, 11:44
certamente o zé finha já andava a fazer recolha para o seu livro. desculpem a minha ignorância, mas qual é o indivíduo que está na foto postada na zona superior das estantes do lado direito?
apenas um reparo, se a configuração espacial era essa, o momento da foto já foi no seu período de adolescente.
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Zélia Parreira20/07/11, 14:38
Acho um piadão a estes anónimos... Tão minuciosos, só se esquecem de assinar.

O que é que quer saber, é a minha idade? Nasci em 1970, a 18 de Fevereiro. Não é segredo, se for verificar este dia aqui no blogue, costuma ser assinalado.
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Anónimo20/07/11, 18:40
a dra. zélia não necessitava de ficar chateada com o reparo porque não foi esse o meu objectivo. mesmo assim deixo aqui presente o meu pedido de desculpa.
como eu e o zé somos "quintos", tenho mais ou menos noção da sua idade, o que levou a fazer essa inocente observação.
Mas fiquei sem saber de quem era o indivíduo da foto... :(

significado de "quinto" - pessoas com a mesma idade - termo muito utilizado na freguesia de santo aleixo da restauração
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José Francisco21/07/11, 10:08
Para satisfazer a curiosidade do sr. anónimo, a fotografia faz parte de uma colecção de postais editados pela Câmara Municipal de Moura e data de 1980, tinha eu 4 anos de idade, logo não serei eu que estou na foto. Quanto à foto que está pendurada à direita poderá ser de alguma figura ilustre que contribui para a instalação da BibLioteca/Museu,talvez algum antigo Presidente de Câmara, que na altura da inauguração em 1968 era o Dr. Marquez de Figueiredo ou algum antigo director.
É "Curioso" o sr. conhecer-me a mim e à autora do blog e nós não o conhecermos a si. De facto conheço algumas pessoas de Santo Aleixo que são da minha idade e andaram comigo à escola, mas com o apelido "anónimo" não estou a ver quem seja.
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Zélia Parreira21/07/11, 17:49
Por acaso não é. Não respondi porque é muito evidente. Esta era a biblioteca fixa nº 149 da Fundação Calouste Gulbenkian...
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Gato21/07/11, 23:42
um simples comentário e sem maldade provoca um terremoto com esta intensidade? Por algum motivo fui indelicado com as pessoas referidas no texto ou no comentário posterior?
Haja paciência...
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José Francisco22/07/11, 09:11
O sr. Que está na foto à direita é o Caloute Gulbenkian. Certo? Vou enviar-te a foto.
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Zélia Parreira22/07/11, 09:43
Qual terramoto?
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Zélia Parreira22/07/11, 09:46
Sim, se fizeres uma pesquisa por imagens no google, aparece logo essa. :)
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Tiago Batista29/07/11, 17:20
Na estante da esquerda está um livro fora do lugar! pertence à estante da direita,na prateleira mesmo por baixo do retrato!
aaahhhhh...e está um rato por baixo das mesas!!!!
:D :D
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Açúcar Amarelo

Primeiro, era a viagem de carro. Curvas e mais curvas no carocha amarelo que o meu pai comprou em 1976. Ao princípio, apenas eu e a minha irmã Marta no banco de trás, depois com a Sara e a Patrícia aninhadas entre nós as duas.

Quando chegávamos a Brinches, íamos logo ter a casa da minha avó. Ficava na rua da entrada, perto de uma igreja, e da Escola onde a minha irmã ainda frequentou a tele-escola naqueles meses inseguros de 1974.

Entrávamos sempre pelo quintal, que fazia uma espécie de corredor ao longo da casa e terminava num pátio, aconchegado pela sombra de uma parreira. Lembro-me de passar aí muitas horas, a conversar e sobretudo, a ouvir as conversas dos “grandes”. O meu avô gostava de fazer aí a barba, com uma bacia e um espelho rectangular pendurado no tronco da parreira.

Entrávamos em casa pela cozinha. Ele aí está, o cheiro da casa da minha avó. Cheira a nós, à nossa vida. Cheira a barro cheio de água fresca e a comida a acabar de cozinhar no fogão. Cheira a taipa e a cal.

Da cozinha passávamos para a casa de jantar, que era também a entrada de casa pela porta principal, e daí para os dois quartos. Na cozinha estava também a porta para a despensa, a minha divisão preferida da casa. Como me parecia enorme aquela despensa… Sempre na penumbra, era ali que se guardava tudo. O cântaro do azeite e a conserva das azeitonas, o queijo de cabra sequinho, as mercearias, os chocolates que a minha avó escondia apenas para que levasse algum tempo a encontrá-los e comê-los às escondidas. E era ali que guardava os pacotes de papel pardo com açúcar amarelo. Às vezes, havia dois pacotes. Era sinal que um deles era para nós trazermos para Moura.

Quando o açúcar se acabava, ia com a minha avó à rua que ia dar ao vale, à loja do vizinho Lico. Outra vez o cheiro. Cheirava a linguiça e a queijo, ao feijão e grão ensacados, a café, a farinha, a sabão azul e branco, a cera vendida a peso, a tudo o que a minha imaginação alcançava.

Do lado direito da porta, encostada à parede, estava a saca do açúcar amarelo, com a colher de latão, para encher os pacotes de ¼ e ½ quilo que as mulheres iam comprar. Eu ia sempre ver quando o vizinho Lico enchia o pacote, na esperança de que viessem muitos torrões, que eu adorava comer à socapa.

Às vezes, na volta, e quando a minha avó estava bem-disposta, passávamos pela casa de uma vizinha, ao lado do posto da GNR, para comprar pirolitos. Eram chupa-chupas caseiros feitos com água, açúcar e mel, com a forma de um cone muito esguio. Havia de vários tamanhos e eu levava sempre muito tempo a decidir quais os que queria. Os grandes eram tão bons, mas só podia comprar um ou dois. Dos pequenos podia comprar mais, mas acabavam-se num instante…

Basta-me fechar os olhos. Saborear o açúcar amarelo a desfazer-se numa chávena de café ou a envolver uma fatia dourada. Tudo volta: O carocha amarelo, a luz do dia no quintal da minha avó, a voz do meu avô, a sombra da parreira, o cheiro da despensa. Nós ainda somos pequeninas, a vida está à nossa frente e tudo, absolutamente tudo, é possível.

terça-feira, 19 de julho de 2011

E por falar em bibliotecas e em memórias...

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