quinta-feira, 27 de abril de 2017

Sim


Faltam aqui muitos, vamos ter que tirar uma foto de grupo!

Sem nenhuma espécie de censura ou de filtragem de informação, entendo, enquanto responsável pela Biblioteca Pública de Évora, que os assuntos se resolvem internamente e não são discutidos nas redes sociais. O que hoje escrevo não é, portanto, uma queixa pública em relação a nada e muito menos uma forma encapotada de reclamar, até porque não tenho motivos para reclamações. Da minha tutela directa nunca tive outra coisa a não ser um apoio firme em todas as horas, um acompanhamento solidário nas aflições, uma alegria genuína nas vitórias (por pequenas que sejam) e uma confiança que me dá alentos todos os dias. Esta situação não me traz qualquer conforto, pelo contrário. Traz-me todos os dias a responsabilidade de não falhar, de não desiludir, de não trair a confiança, de corresponder ao investimento de tempo, transmissão de conhecimento e partilha do caminho que tenho recebido de forma tão franca e aberta.

Posto isto, vamos a factos. A Biblioteca Pública de Évora tem no seu quadro de pessoal activo 3 funcionários. Três. Além deles, temos, em situações de grau de precariedade diversa (muitos deles com o fim dos contratos à vista), mais 8 pessoas, o que já inclui o serviço de limpeza, por exemplo.

Não tenham pena de nós. Queremos ter mais pessoas? Claro que sim, poderíamos aumentar a produtividade, aumentar o número de horas de abertura, incrementar e consolidar programas de animação da leitura. Mas - e agora vão ter mesmo que me desculpar a franqueza - não queremos qualquer pessoa. Queremos pessoas que estejam à altura da capacidade de trabalho e da dedicação que estas pessoas que cá estão já demonstraram.

Em 2016, com base no trabalho praticamente exclusivo do Lúcio Fitas e do Manuel Ferrão conseguimos catalogar quase 30 mil livros do depósito legal retrospectivo e actual, respectivamente. Nos reservados, foram  catalogados pelo Vicente Fino e disponibilizados online mais de 4 mil documentos, ao mesmo tempo que se fazia o atendimento da sala e a inventariação de núcleos até aí sem qualquer registo.

1022 novos leitores, só em 2016, e quase 40 mil documentos requisitados ou consultados presencialmente, graças ao atendimento sempre simpático e disponível da Jú Falcão e à dedicação e empenho da Lourdes Ferreira (que também regista todos os documentos entrados na biblioteca por via do depósito legal). Na sala de leitura, a Paula Santos e o Lúcio (todos os postos funcionam por turnos) atenderam mais de 4 mil leitores.

Já no fim do ano chegaram a Sara, a Paula Mendes e a Tânia, para apoiar e reforçar os postos de atendimento, a catalogação de núcleos específicos e a organização da actividade cultural. A Maria João é a responsável pela limpeza das instalações e o Hugo acode aos fogos que vão surgindo diariamente. Temos ainda a ajuda preciosa, indispensável dos voluntários - a Eunice, a Manuela, a Inês, a Rosa, a Anabela (ou a Célia, de quem sentimos tanta falta...) - que nos vão ajudando a reduzir o que está por fazer. Acho que é essa a meta na cabeça de todos. Não pensar no que falta, pensar apenas que o que fizermos hoje, fica feito.

Na nossa reunião de Março, apresentei-lhes a planificação do Livros à Rua, de que já tínhamos falado, em linhas gerais, em reuniões anteriores. Implicava desdobramento de horários, três semanas seguidas de trabalho sem interrupção, nem sequer ao Domingo, e muitas horas de trabalho extraordinário não remunerado, incluindo a noite do Baile na Biblioteca. Não ouvi um protesto. Só pediram o mapa com a distribuição do trabalho para se organizarem.

Hoje, à minha volta, tenho pilhas de livros que são novidades, porque mesmo no meio desta azáfama, a catalogação não parou, os leitores continuaram a ser atendidos, as reservas recebidas e despachadas.

Compreendam agora por que razão precisei de falar no número de funcionários que a BPE tem. Porque só com essa consciência é possível valorizar o enorme esforço que estas pessoas têm feito, a dedicação e o empenho em que tudo dê certo, a enorme satisfação quando tudo corre bem e a mágoa que nos fica quando, depois de tudo, há quem ande à procura de uma falha para pôr tudo em causa.

Não há falhas, porque eles fazem muito mais do que o que lhes compete. Porque fazem muito mais do que eu poderia esperar. Porque alinham nos meus projectos, nas minhas intenções e porque estão determinados a provar que esta é a melhor biblioteca do mundo. E não pensem que tudo são rosas. Há momentos difíceis, há relações tensas, há projectos que não se cumprem. Mas isso só acrescenta  valor ao trabalho que eles fazem.

Recebo tantas vezes (desculpem a falta de modéstia) felicitações pelo trabalho da Biblioteca. Recebo-as e tenho muito orgulho nelas, porque sei que não são para mim. São para a Equipa da qual eu faço parte e pela qual tenho a sorte de dar a cara. Cada um deles é merecedor dessas felicitações e merecedor do meu agradecimento pela solidariedade, pelo empenho, pelo trabalho, por, a cada desafio, responderem sempre: Sim.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Na antevéspera da véspera

O meu sítio preferido de Évora hoje amanheceu assim. Uma praça desarrumada, saem carros, entram livros, vésperas de dias tão bons, em que o livro ocupa o coração da cidade!






segunda-feira, 10 de abril de 2017

Da capacidade de adaptação

Facto 1:
Em 2017, várias bibliotecas públicas, instituições criadas com o propósito de disponibilizar o acesso à informação, ao conhecimento e à cultura, ainda não têm qualquer presença nas redes sociais. Nem site, nem página de facebook, muito menos twitter ou instagram. Na maior parte dos casos, isto acontece porque os órgãos executivos dos municípios - eleitos pelos munícipes em processo democrático - exigem controlar a informação que é divulgada e não autorizam a biblioteca a ser um canal de comunicação do município.

Facto 2:
Em 2017, os conventos da Ordem do Carmo têm um site e vários têm páginas no facebook (ver Beja: https://www.facebook.com/carmelodebeja) . Estamos a falar de uma instituição altamente hierarquizada e de normas rígidas, como é a Igreja Católica, e de casas de recolhimento, para onde as pessoas optam por ir para se retirarem do mundo exterior e se dedicarem à vida espiritual. No entanto, consideram pertinente e útil divulgar a sua mensagem e o trabalho que desenvolvem.

Tirem as vossas conclusões.

domingo, 2 de abril de 2017

sábado, 1 de abril de 2017

Da boa educação

O menino olha para a máquina de snacks e bebidas e decide dar-lhe uns pontapés. Atira-se a ela com todas as suas forças.  O pai, sentado num dos sofás do átrio,  dá uma cotovelada na mãe e diz orgulhoso: "Olha lá para ele, a ver se consegue tirar alguma coisa da máquina sem pagar!" Enfim, levanta-se e vai buscar o miúdo: "Eu depois logo te ensino a fazer isso como deve ser".

Mãe

Vou herdar-lhe as flores, pedi-as às minhas irmãs. Um dos grandes amores da sua vida. Mas mãos dela, tudo florescia. O galho mai...