segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Nenhum homem é uma ilha.



No momento em que passam quatro anos sobre aqueles dias loucos e felizes da minha transferência para Évora, apercebo-me do impacto que aquele momento da minha entrevista de selecção teve na minha vida, na vida dos meus filhos, mas também na vida de outras pessoas que eu nem sequer sonhava que existiam.

Se eu esperava e desejava muito essa mudança, todos esses, que eu não conhecia, nem imaginavam que, naquela manhã de Novembro de 2013, uma conversa  a decorrer num gabinete da Biblioteca Nacional de Portugal lhes ia desenhar o futuro para os próximos anos. Como eu não imaginava vir a ser o catalisador para que essas mudanças ocorressem.

São tantas ligações, tantas circunstâncias, efeitos colaterais... dá que pensar.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Estrela da manhã

Numa qualquer manhã, um qualquer ser,
vindo de qualquer pai,
acorda e vai.

Vai.

Como se cumprisse um dever.

Nas incógnitas mãos transporta os nossos gestos;
nas inquietas pupilas fermenta o nosso olhar.
E em seu impessoal desejo latejam todos os restos
de quantos desejos ficaram antes por desejar.

Abre os olhos e vai.

Vai descobrir as velas dos moinhos
e as rodas que os eixos movem,
o tear que tece o linho,
a espuma roxa dos vinhos,
incêncio na face jovem.

Cego, vê, de olhos abertos.
Sozinho, a multidão vai com ele.
Bagas de instintos despertos
ressuma-lhe à flor da pele.

Vai, belo monstro.
Arranca
as florestas com os teus dentes.
Imprime na areia branca
teus voluntariosos pés incandescentes.

Vai

Segue o teu meridiano, esse,
o que divide ao meio teus hemisférios cerebrais;
o plano de barro que nunca endurece,
onde a memória da espécie
grava os sonos imortais.

Vai

Lábios húmidos do amor da manhã,
polpas de cereja.
Desdobra-te e beija
em ti mesmo a carne sã.

Vai

À tua cega passagem
a convulsão da folhagem
diz aos ecos
«tem que ser».

O mar que rola e se agita,
toda a música infinita,
tudo grita
«tem que ser».

Cerra os dentes, alma aflita.
Tudo grita
«Tem que ser»."



António Gedeão, in Movimento Perpétuo
Imagem retirada da Biblioteca Nacional Digital, disponível em: http://purl.pt/12157/1/imagens/espolio/035-estrela-manha-1-087.jpg
Sítio temático sobre António Gedeão disponível em: http://purl.pt/12157/1/

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Um amargo que não se desfaz



Destes dias de Esposende, fica-me o travo amargo da intervenção inicial do Senhor Ministro da Cultura e da anunciada subordinação das bibliotecas públicas ao Plano Nacional de Leitura.

Ora, conhecendo as Dras. Teresa Calçada e Elsa Conde, sei de antemão que a ideia, na sua essência, não pode ser esta. Colaboração estreita? Sim! Cooperação efectiva, prática, concreta? Sim! Reforço da participação das Bibliotecas Públicas no PNL? Sim (ainda que, certamente por lapso, a formulação inicial apresentada publicamente as tenha esquecido). Subordinação? Não, nem pensar!

Não é uma questão de hierarquia nem de dependência orgânica. É uma questão de desconhecimento sobre o tanto que as Bibliotecas Públicas têm para oferecer, o tanto que fazem além da justíssima e indispensável promoção da leitura e das literacias.

Concordo plenamente que  toda a sociedade seja convidada a colaborar nesse esforço - e olha que belo exemplo a Biblioteca Municipal Urbano Tavares Rodrigues  em Moura dá, ao nível local, nesse sentido! - mas isso não significa que se reduza a actividade dessas entidades a este único desígnio nacional. Há outros desígnios nacionais, e as Bibliotecas Públicas, no seu todo e nas suas inúmeras valências, deveriam ser um deles.

Aguardemos explicações mais concretas.


Mãe

Vou herdar-lhe as flores, pedi-as às minhas irmãs. Um dos grandes amores da sua vida. Mas mãos dela, tudo florescia. O galho mai...