Queremos desesperadamente ser felizes, perseguimos os momentos especiais, as ocasiões perfeitas, as pessoas ideais. Quase sempre nos desiludimos, porque o problema está nas expectativas elevadíssimas com que procuramos a felicidade.
E depois, vêm as lembranças, o que guardámos de momentos em que nada esperávamos e que nos deram tudo: alegria e gargalhadas, ansiedade e emoção, tristeza, dificuldades e a superação.
Faço hoje 50 anos. Apesar de manter a garra, a vontade de prosseguir e de lutar, reduzi muitíssimo as minhas expectativas... na expectativa de ser mais feliz. É contraditório, claro, como o é quase tudo na vida. Já fui muito feliz, tanto quanto é possível ser. No top estão, indiscutivelmente, os dias em que cada um dos meus filhos nasceu; o dia em que, depois de milhares de visitas à Biblioteca Municipal de Moura como leitora, subi pela primeira vez aquelas escadas como Bibliotecária; e quando, a 2 de Janeiro de 2014 pus o pé no degrau de entrada da Biblioteca Pública de Évora como Bibliotecária da melhor Biblioteca do mundo.
Também tive momentos terríveis, em que me vi perdida e desorientada, sem chão, sem rumo, sem esperança. É mais ou menos assim que me sinto de há uns tempos para cá. Depois de um ano horrível que me fez questionar seriamente a minha forma de agir e de estar na vida, despojada da minha âncora que é a Biblioteca a funcionar, o golpe final foi o desaparecimento do meu pai. O nosso relacionamento nem sempre foi fácil, mesmo sendo ele o homem que mais admirei em toda a vida, e essa combinação fez dele a pessoa que mais me moldou. Mas ficaram coisas por dizer e agora... já não há hipótese nenhuma.
Sei que a esta tristeza se segue a superação e que não estou e jamais estarei sozinha. Alguma coisa devo ter feito extraordinariamente bem para ter estes filhos que a vida me deu. Aqui estão, comigo, todos. Mesmo que agora seja difícil de ver, sei que no futuro me lembrarei deste dia e que aqui encontrarei a felicidade.
Vamos embora, que ainda há tanto para fazer, tanto para viver!