A forma como a morte nos vai rodeando é assustadora. Mais do que todas as dores nas pernas, rugas de expressão ou filhos crescidos, é a morte de pessoas conhecidas que me confronta de forma avassaladora com o envelhecimento.
Não tenho problemas com a idade. Declaro-a onde for preciso. São 43 anos cheios de uma vida intensa, de experiências, de escolhas assumidas e bem resolvidas. Penso muitas vezes no que gostaria de ter feito e não fiz, mas quando constato o que já fiz, sei que não perdi tempo. Convivo bem comigo e com o que estes anos me trouxeram.
Porém, dou comigo a fazer contas à esperança média de vida e a quantos anos me restam. Não é um pensamento constante, mas está cá, como um herpes adormecido que se manifesta com mais veemência quando morre alguém conhecido. É que dantes, "quando eu era nova", só morriam pessoas com quem não me relacionava, ou que eram das relações dos meus pais. Mas agora, é a minha geração que vê partir os seus conhecidos. Na grande maioria, pessoas mais velhas, é verdade, mas ainda assim, pessoas que nos habituámos a cumprimentar, com quem trabalhámos ou com quem desenvolvemos projectos.
Mais vale, portanto, aproveitar cada dia. Mas não a qualquer preço. Ainda que no futuro, o reumático me obrigue a andar curvada, quero continuar sempre a olhar as pessoas de frente, mesmo que os que me respondam da mesma forma sejam cada vez menos.