Voltei há dias, por outras razões, ao consultório da pediatra dos meus filhos. Enquanto esperava pela Dra. Cristina Miranda, lembrei-me de tantas horas ali passadas. Tanta ansiedade com os problemas de ouvidos e cirurgias da Inês, tanto medo no primeiro exame da Mariana, depois de um parto tão difícil, tanta angústia nos primeiros meses do Pedro, enfraquecido por um refluxo que não o deixava alimentar-se.
Dito assim, parece tudo muito dramático e quando me lembro, pergunto-me como foi possível que os dias passassem ligeiros. Três filhos, três vidas, três ritmos de alimentação, de sono, de fraldas, três histórias de febres, de otites, três sequências de vacinas, de consultas, de exames de rastreio...
Mas tudo foi tranquilo, porque do outro lado da mesa, do outro lado do telefone, havia uma pessoa chamada Maria Cristina Miranda. Sempre calma, mas de uma precisão e rigor inigualáveis. Com ela houve sempre uma confiança total e absoluta e, como vim a perceber na pior fase da minha vida, uma generosidade e disponibilidade muito raras nos dias de hoje.
Nada sei sobre a sua vida privada, nem sobre os seus gostos ou hobbies. Nada sei sobre os problemas que a preocupam ou que partidas a vida já lhe pregou. Ela sabe dos meus, porque ali encontrei um apoio inestimável, um porto de abrigo, alguém com quem partilhei a mais nobre missão que me foi confiada: criar os meus filhos. Cuidou deles comigo, deu-me ferramentas e estratégias, ânimo e coragem.
Obrigada por tudo.
segunda-feira, 27 de junho de 2016
terça-feira, 14 de junho de 2016
Inês, 22
Para a que vive a vida com a alegria do Verão.
Para a que sacode os problemas como sacode o cabelo.
Para a que enfrenta o mundo com a confiança de que tudo se vai resolver.
Para a menina que me fez mãe e que nunca deixará de ser a menina linda, linda que conheci há exactamente 22 anos.
Parabéns!
segunda-feira, 13 de junho de 2016
Distracções planeadas.
De todas as pragas que o Facebook nos trouxe, o narcisismo avassalador é capaz de ser uma das piores.
Pessoas aparentemente equilibradas e racionais a tirarem dezenas de fotografias a si próprias, em poses supostamente distraídas, apanhadas desprevenidas pelo clique do seu próprio dedo no seu muito pessoal e intransmissível telemóvel.
Pessoas aparentemente equilibradas e racionais a tirarem dezenas de fotografias a si próprias, em poses supostamente distraídas, apanhadas desprevenidas pelo clique do seu próprio dedo no seu muito pessoal e intransmissível telemóvel.
domingo, 5 de junho de 2016
Pesos e medidas
(Foto de Tiago Mota Saraiva) |
Quando o jornalista lhe relembra que as únicas turmas que
vão ser encerradas – aliás, que não vão abrir com financiamento do Estado – são as de zonas onde o serviço
público satisfaz as necessidades de ensino, o professor manifestante pede-lhe a
identificação, duvidando que seja jornalista. Esperava ser levado ao colo, não
esperava ser confrontado com o óbvio.
Quero acreditar que este detalhe demonstra uma viragem decisiva na
opinião pública, traduzida nos comentários que vários jornalistas e comentadores fizeram em seguida. Ao contrário dos primeiros dias, em que o movimento dos
amarelos foi levado ao colo pela comunicação social, a imprensa parece mudar a sua
postura e a partir daqui, parece-me que o caminho
amarelo será descendente.
Para isso contribuiu – e muito – a infeliz “manifestação” de hoje.
Eram só 50 mas, graças ao local e ao momento, tiveram muito mais destaque do que muitas manifestações de mais
de 50 milhares em que participei. Estive presente em luta por muitos direitos:
desde logo o direito ao trabalho que permita a todos os cidadãos o sustento das
suas famílias, o direito a cuidados de saúde para todos, o direito à indignação
pela sangria imposta às famílias para salvar bancos vítimas de corruptos, o
direito à cultura e a tudo o que ela representa – identidade, património,
história, conhecimento, livre expressão – e sim, o direito à escola pública.
Nunca, nas manifestações dessa esquerda tão mal amada, vi o
que vi hoje, nas mãos dos senhores professores dos colégios privados. Além das
ofensas óbvias, vistas e revistas nas televisões e nas redes sociais, o que hoje
estava patente era o mais absoluto desprezo pela opinião dos outros, pela
convicção dos outros, pelo voto dos outros.
A esquerda, que reuniu o consenso que permitiu ao PS formar
governo, obteve votos. Obteve os votos necessários para que esse consenso fosse
mais forte do que o consenso da direita. A CDU e o BE mereceram milhares e
milhares de votos que lhes permitiram eleger o número de deputados suficiente
para terem uma palavra a dizer. Infelizmente, para estes senhores e outros eternos
inconformados que por aí andam, um voto num partido de esquerda não pode ter o
mesmo peso nem merecer o mesmo respeito que um voto num partido de direita. Em
sua opinião, votar no que eles chamam extrema-esquerda até devia ser considerado
crime. Ora esta esquerda tem tanto de extrema como o CDS tem de extrema-direita.
Esses votos também devem ser criminalizados?
Se os colégios deixam de ser viáveis sem o financiamento do
Estado, é porque essas são as regras do todo-poderoso mercado. É assim que
funciona o mundo da iniciativa privada. Caso contrário, o Estado tinha que
injectar dinheiro em todas as empresas que passam dificuldades no país.
Se as escolas privadas têm melhores condições que as
públicas, é exactamente por isso que o dinheiro do Estado tem de ser canalizado
para a escola pública, para a dotar de melhores condições, ao alcance de todos.
Atirar para os olhos dos portugueses com o “maior despedimento
colectivo da história” só pode ser uma anedota infeliz, quando todos ainda nos
lembramos dos mais de 30 mil professores que a educação de Crato entregou ao
desemprego. Já para não falar na enorme janela de oportunidade que isto
representará nas suas vidas, como tão bem aconselhou Passos Coelho aos
desempregados quando era primeiro-ministro.
E falar no colégio privado das filhas da Secretária de
Estado é um tiro no pé, porque para a educação das meninas, os meus impostos
não contribuíram. Foi ela pagou as propinas.
Sobre as palavras de ordem de baixo-nível, nem me vou pronunciar. Mas confesso que não queria os meus filhos ensinados por estes senhores. Livra!
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