segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Das gerações



No passado, os dias eram perfeitos. Estava sempre sol, mas não havia seca porque chovia secretamente quando não estávamos a ver, ou quando dava jeito a um punhado de crianças a quem apetecia chapinhar na água ou estrear as galochas novas.

No passado, a vida era muito difícil, mas todas as pessoas que conhecíamos eram corajosas e determinadas e resolviam os problemas com firmeza e diplomacia, sem nunca hesitar quanto ao caminho certo.

No passado, venciam-se obstáculos,  matavam-se dragões e construíam-se igrejas, palácios e bibliotecas.

No passado, os pais educavam muito bem os filhos e os chefes ensinavam aos novatos tudo o que sabiam, para que quando se retirassem, uns e outros pudessem seguir o seu caminho.

E, depois, também eles passavam a ser chefes e pais, a construir bibliotecas, palácios e igrejas, a matar dragões e vencer obstáculos. Também eles resolviam problemas com diplomacia e firmeza, sem hesitações, corajosos e determinados perante as dificuldades da vida, sob o sol que brilhava sempre, menos quando as crianças que um dia os iriam substituir queriam chapinhar na água.

Azar o meu, nasci no presente. Problemas por resolver,  imensas dúvidas, já não há dragões para matar e até as estações do ano enlouqueceram.

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