terça-feira, 21 de julho de 2009

De volta

Acabaram-se as férias (quais férias?), estou de volta à minha biblioteca. Ontem acabaram também as Festas de Moura, num ano particularmente difícil para os festeiros.

É difícil ser festeiro, muito, muito difícil. Ninguém quer assumir a responsabilidade, é muito mais fácil ficar em casa e criticar o trabalho daqueles que ousaram dar a cara e meter ombros à tarefa de organizar o momento mais alto da vida da cidade.

Esta postura de "treinador de bancada", que se verifica de igual forma noutras áreas da nossa vida, como o associativismo, a política, as organizações em prol da comunidade, a simples participação na vida escolar dos nossos filhos, não só é um desperdício de forças, de energia, de capacidade de trabalho, como vai minando tudo à sua volta, criando um deserto de ideias e de vontades que nos desanima, nos adormece.

Já é tempo de acordar. Já é tempo de cada um de nós deixar de se lamentar pelo que os outros fizeram. Já é tempo de fazermos melhor. Já é tempo de ter coragem.



Antes que Seja Tarde
Amigo,
tu que choras uma angústia qualquer
e falas de coisas mansas como o luar
e paradas
como as águas de um lago adormecido,
acorda!
Deixa de vez as margens do regato solitário
onde te miras
como se fosses a tua namorada.
Abandona o jardim sem flores
desse país inventado
onde tu és o único habitante.
Deixa os desejos sem rumo
de barco ao deus-dará
e esse ar de renúncia
às coisas do mundo.
Acorda, amigo,
liberta-te dessa paz podre de milagre
que existe
apenas na tua imaginação.
Abre os olhos e olha,
abre os braços e luta!
Amigo,
antes da morte vir
nasce de vez para a vida.
-
Manuel da Fonseca, in "Poemas Dispersos"

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