quinta-feira, 23 de julho de 2009

Último dia

Manuel Alegre, de 73 anos, vive hoje o seu último dia na Assembleia da República, após 34 anos de actividade ininterrupta como deputado.

Discordando profundamente de todos os que advogam a saída de Alegre do Partido Socialista, admiro a sua coragem para ficar, divergindo do rumo que o seu partido entretanto tomou e lutando para manter os seus ideais.

Quem está a mais não é Alegre, mas sim os que se esqueceram da verdadeira filosofia do Partido Socialista, do caminho que foi desenhado naqueles fantásticos dias de 1974.

Respeito e concordo com a sua decisão de não integrar uma candidatura liderada pelas pessoas e pelas ideias que já tivemos oportunidade de conhecer nos últimos quatro anos. Se estivesse no lugar dele, faria o mesmo. Pensando bem, até já o fiz.

Tristes são estes tempos em que pessoas como Manuel Alegre são colocadas à margem, para dar lugar a "novos socialistas", cheios de vontade de agradar e ansiosos por saber quando e quanto vão receber em troca. Tristes, muito tristes.


Última Página

Vou deixar este livro. Adeus.
Aqui morei nas ruas infinitas.
Adeus meu bairro página branca
onde morri onde nasci algumas vezes.

Adeus palavras comboios
adeus navio. De ti povo
não me despeço. Vou contigo.
Adeus meu bairro versos ventos.

Não voltarei a Nambuangongo
onde tu meu amor não viste nada. Adeus
camaradas dos campos de batalha.
Parto sem ti Pedro Soldado.

Tu Rapariga do País de Abril
tu vens comigo. Não te esqueças
da primavera. Vamos soltar
a primavera no País de Abril.

Livro: meu suor meu sangue
aqui te deixo no cimo da pátria
Meto a viola debaixo do braço
e viro a página. Adeus.

-
Manuel Alegre

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