É assim por todo o lado, em todos os serviços públicos onde é necessário conhecimento especializado. Os "velhos" saem e já não entra ninguém. As "mobilidades" são - na sua maioria e com o meu pedido de desculpas às excepções - repositórios de pessoas problemáticas, pouco produtivas, eternamente insatisfeitas e muitas vezes incapazes de integrar uma equipa, empurradas para uma terra de ninguém onde estas más características só se agravam.
Além da óbvia dificuldade dos serviços que se vêem impedidos de prosseguir as suas missões (quanto mais melhorar o seu desempenho) há uma outra consequência terrível desta "purga" à função pública: Não há transmissão de conhecimento prático. Os jovens chegam ao mercado de trabalho cheios de conhecimento teórico, que só a convivência com os colegas que já lá estão transforma em experiência. Mas em vez disso, o que Portugal vai ter na administração pública é um esgotamento gradual da capacidade de trabalho especializado até à ruptura total. Só nesse momento de absoluto desespero e perdas irreparáveis será tomada a decisão de abrir portas aos "novos", que nessa altura já serão uns trintões ou quarentões frustrados por anos de desemprego alternados com estágios sem futuro. Entretanto, o saber laboriosamente acumulado por décadas de experiência prática já terá desaparecido. Abandonada para sempre a cultura do "ser" uma profissão, passa-se para a cultura do "por enquanto estou ali".
Se em alguns domínios a ruptura é benéfica, não é o caso das bibliotecas, onde o velho precisa de ser constantemente refrescado pelo novo, sob perigo de perder o contacto com a realidade, e o novo precisa de herdar do velho os valores de missão e o sentido de responsabilidade para com a comunidade.
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