segunda-feira, 15 de maio de 2017

Diferentes, mas diferentes.



Estou na fila da caixa, num supermercado. À minha frente está um grupo de jovens rapazes. Vieram comprar uns snacks para o lanche. São cinco. Vão chegando a pouco e pouco e vão pagar em separado, mas nem lhes ocorre ir para o fim da fila. Aproveitam o lugar marcado pelo primeiro e colocam as coisas em cima do tapete. Respiro fundo enquanto me lembro do meu filho e de como ele detesta que eu reclame em locais públicos. 

À fila do lado chegam duas miúdas. Podiam ser as minhas filhas. Conversam animadamente, nem prestam atenção ao que se passa. Os galaroiços da minha fila começam a agitar-se. Mandam bocas em voz alta. Dão risinhos parvos, tecem comentários sobre o que fariam com as miúdas. 

Eu estou a 20 cm deles, mas nada disso os incomoda. São rapazes. Podem fazer aquilo. A sociedade aceita, até acha piada. As miúdas começam a perceber. Viram-se para o outro lado, ficam caladas. Sabem que não lhes resta outra alternativa, a não ser permanecerem em silêncio até que consigam sair dali com a maior discrição possível. Humilhadas.

Estamos no século XXI, em plena civilização ocidental. Há debates institucionais sobre a necessidade de salários iguais para trabalhos iguais. Há leis que determinam números mínimos para a integração de mulheres nas listas candidatas a órgãos político-administrativos. O dia da mulher, essa instituição que a sociedade soube ridicularizar até a tornar num absurdo anedótico, é celebrado com flores oferecidas pelos patrões e mulheres que bebem demais na única vez no ano em que saem sozinhas para jantar. Vivemos a era do politicamente correcto em que os políticos começam os discursos por “Portuguesas e portugueses”, demonstrando apenas que não conhecem o funcionamento da língua portuguesa. 

Mas neste tempo, neste dia vulgar de maio de 2017, às mulheres do meu tempo ainda não é permitido que se movimentem livremente sem terem de aturar o desrespeito dos primatas que ainda vivem dentro dos homens deste tempo. Não é permitido que façam compras num supermercado sem terem de se sujeitar àquela verborreia abjecta a que muitos ainda chamam piropos. 

Não sou feminista, nem reivindico igualdades. Somos diferentes dos homens e tenho orgulho nessas diferenças. 

Peço respeito. Será pedir muito?

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