quarta-feira, 9 de abril de 2014

Dia Internacional dos Monumentos e Sítios na BPE

A Biblioteca Pública de Évora vai comemorar o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios. A 18 de Abril (Sexta-feira, feriado) haverá visitas guiadas ao interior da BPE, às 14h30 e às 16h00.

Venha conhecer o nosso fundo documental, acompanhar o percurso dos livros desde a sua chegada até ao balcão de empréstimo e compreender a forma como estão organizados na estante.

As inscrições podem ser feitas através do telefone 266 769 330 ou pelo endereço de email bpevora@bpe.pt

Venha visitar-nos!

terça-feira, 8 de abril de 2014

Alexandra Lucas Coelho, prémio Associação Portuguesa de Escritores

Eis parte do discurso de aceitação:

Estou a voltar a Portugal 40 anos depois do 25 de Abril, do fim da guerra infame, do ridículo império. Já é mau um governo achar que o país é seu, quanto mais que os países dos outros são seus. Todos os impérios são ridículos na medida em que a ilusão de dominar outro é sempre ridícula, antes de se tornar progressivamente criminosa.
Entre as razões porque quis morar no Brasil houve isso: querer experimentar a herança do colonialismo português depois de ter passado tantos anos a cobrir as heranças do colonialismo dos outros, otomanos, ingleses, franceses, espanhóis ou russos.
E volto para morar no Alentejo, com a alegria de daqui a nada serem os 40 anos da mais bela revolução do meu século XX, e do Alentejo ter sido uma espécie de terra em transe dessa revolução, impossível como todas.
Este prémio é tradicionalmente entregue pelo Presidente da República, cargo agora ocupado por um político, Cavaco Silva, que há 30 anos representa tudo o que associo mais ao salazarismo do que ao 25 de Abril, a começar por essa vil tristeza dos obedientes que dentro de si recalcam um império perdido.
E fogem ao cara-cara, mantêm-se pela calada. Nada estranho, pois, que este presidente se faça representar na entrega de um prémio literário. Este mundo não é do seu reino. Estamos no mesmo país, mas o meu país não é o seu país. No país que tenho na cabeça não se anda com a cabeça entre as orelhas, “e cá vamos indo, se deus quiser”.
Não sou crente, portanto acho que depende de nós mais do que irmos indo, sempre acima das nossas possibilidades para o tecto ficar mais alto em vez de mais baixo, Para claustrofobia já nos basta estarmos vivos, sermos seres para a morte, que somos, que somos.
Partimos então do zero, sabendo que chegaremos a zero, e pelo meio tudo é ganho porque só a perda é certa.
O meu país não é do orgulhosamente só. Não sei o que seja amar a pátria. Sei que amar Portugal é voltar do mundo e descer ao Alentejo, com o prazer de poder estar ali porque se quer. Amar Portugal é estar em Portugal porque se quer. Poder estar em Portugal apesar de o governo nos mandar embora. Contrariar quem nos manda embora como se fosse senhor da casa.
Eu gostava de dizer ao actual Presidente da República, aqui representado hoje, que este país não é seu, nem do governo do seu partido. É do arquitecto Álvaro Siza, do cientista Sobrinho Simões, do ensaísta Eugénio Lisboa, de todas as vozes que me foram chegando, ao longo destes anos no Brasil, dando conta do pesadelo que o governo de Portugal se tornou: Siza dizendo que há a sensação de viver de novo em ditadura, Sobrinho Simões dizendo que este governo rebentou com tudo o que fora construído na investigação, Eugénio Lisboa, aos 82 anos, falando da “total anestesia das antenas sociais ou simplesmente humanas, que caracterizam aqueles grandes políticos e estadistas que a História não confina a míseras notas de pé de página”.
Este país é dos bolseiros da FCT que viram tudo interrompido; dos milhões de desempregados ou trabalhadores precários; dos novos emigrantes que vi chegarem ao Brasil, a mais bem formada geração de sempre, para darem tudo a outro país; dos muitos leitores que me foram escrevendo nestes três anos e meio de Brasil a perguntar que conselhos podia eu dar ao filho, à filha, ao amigo, que pensavam emigrar.
Eu estava no Brasil, para onde ninguém me tinha mandado, quando um membro do seu governo disse aquela coisa escandalosa, pois que os professores emigrassem. Ir para o mundo por nossa vontade é tão essencial como não ir para o mundo porque não temos alternativa.
Este país é de todos esses, os que partem porque querem, os que partem porque aqui se sentem a morrer, e levam um país melhor com eles, forte, bonito, inventivo. Conheci-os, estão lá no Rio de Janeiro, a fazerem mais pela imagem de Portugal, mais pela relação Portugal-Brasil, do que qualquer discurso oco dos políticos que neste momento nos governam. Contra o cliché do português, o português do inho e do ito, o Portugal do apoucamento. Estão lá, revirando a história do avesso, contra todo o mal que ela deixou, desde a colonização, da escravatura.
Este país é do Changuito, que em 2008 fundou uma livraria de poesia em Lisboa, e depois a levou para o Rio de Janeiro sem qualquer ajuda pública, e acartou 7000 livros, uma tonelada, para um 11º andar, que era o que dava para pagar de aluguer, e depois os acartou de volta para casa, por tudo ter ficado demasiado caro. Este país é dele, que nunca se sentaria na mesma sala que o actual presidente da República.
E é de quem faz arte apesar do mercado, de quem luta para que haja cinema, de quem não cruzou os braços quando o governo no poder estava a acabar com o cinema em Portugal. Eu ouvi realizadores e produtores portugueses numa conferência de imprensa no Festival do Rio de Janeiro contarem aos jornalistas presentes como 2012 ia ser o ano sem cinema em Portugal. Eu fui vendo, à distância, autores, escritores, artistas sem dinheiro para pagarem dividas à segurança social, luz, água, renda de casa. E tanta gente esquecida. E ainda assim, de cada vez que eu chegava, Lisboa parecia-me pujante, as pessoas juntavam-se, inventavam, aos altos e baixos.
Não devo nada ao governo português no poder. Mas devo muito aos poetas, aos agricultores, ao Rui Horta que levou o mundo para Montemor-o-Novo, à Bárbara Bulhosa que fez a editora em que todos nós, seus autores, queremos estar, em cumplicidade e entrega, num mercado cada vez mais hostil, com margens canibais.
Os actuais governantes podem achar que o trabalho deles não é ouvir isto, mas o trabalho deles não é outro se não ouvir isto. Foi para ouvir isto, o que as pessoas têm a dizer, que foram eleitos, embora não por mim. Cargo público não é prémio, é compromisso.
Portugal talvez não viva 100 anos, talvez o planeta não viva 100 anos, tudo corre para acabar, sabemos, Mas enquanto isso estamos vivos, não somos sobreviventes.

O sítio mais feliz de Portugal



Enquanto espero, vejo-os chegar. Percorrem o corredor com o nervoso miudinho de quem chega ao local onde é esperado. Do outro lado, alguém se manifesta. Sorriso rasgado, vê chegar aquele que espera. Encontram-se neste ponto. Abraços, beijos, afectos tomam o lugar da saudade que apertava o peito ainda há bocadinho. Ali só há reencontro e alegria.

É só um bocadinho de chão, simples, sem pretensões. Fica no terminal de chegadas do aeroporto de Lisboa e é bem capaz de ser o sítio mais feliz de Portugal.

domingo, 6 de abril de 2014

A "animação" nas Bibliotecas Públicas

Pergunto muitas vezes a mim própria se, na ânsia de chamar gente à Biblioteca, não estamos a transformá-la num gigantesco ATL. E, desses participantes entusiastas que gastam material que não temos dinheiro para comprar, quantos se tornam leitores?

Algures, há um risco que separa a promoção da leitura e a disponibilização do acesso ao conhecimento da "festivaleirice". Convinha procurá-lo.

Adenda: A conselho da Manuela Barreto Nunes, aqui deixo um artigo para todos lermos: http://bid.ub.edu/02comell.htm

 

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Onde há de tudo, também há disto

Há uns dias, tive nas minhas mãos um livro. Parece que é um romance, mas por via das dúvidas os senhores da editora escreveram isso na capa, não fosse alguém desconfiar. Chama-se O primeiro alquimista, e diz que é uma história de amor e coragem na idade do bronze em Portugal.

Não fiquem já espantados, de onde isto saiu ainda há mais:

"Breia sabia que não conseguiria continuar a correr assim durante muito mais tempo. Olhando para o sopé do declive que começara a subir viu que os dois portadores-de-machado que a seguiam havia mais de meia lua estavam demasiado perto."

Com uma introdução destas, quem é que não decide imediatamente passar a próxima meia lua (seja lá isso o que for) a devorar esta literatura de alto gabarito? E os diálogos? Oh senhores, os diálogos...!

"- Vejo por entre as giestas algumas grandes lajes de pedra-cinzenta (e depois tem uma nota de rodapé a explicar que é granito) e... afloramentos de pedra-luz? (e outra nota a explicar que são cristais de quartzo hialino, que é uma coisa que fica sempre bem num romance)"

Também tenho uns afloramentos, mas a Biblioteca tem de preservar tudo o que lhe é confiado, por isso vou esperar que me passem.


quarta-feira, 2 de abril de 2014

Hoje, na BPE

Estou na Biblioteca. Onde habitualmente reina o silêncio e a tranquilidade hoje há risos, vozes e correrias. Na sala de cimélios, sempre habitada por investigadores mais ou menos sisudos que analisam com rigor documentos com vários séculos, canta-se à alentejana. "Olh'a laranja da China..."

Na sala de exposições, sob o olhar de Florbela Espanca, mecanismos movem-se como por magia, por acção da luz solar, ainda que seja um sol "fabricado". Ao lado, na hemeroteca, há vulcões em erupção e fósseis de dinossauros.

Sobe-se a escada. Histórias e histórias sem fim, plateias atentas e concentradas. Cá fora, no Bibliomóvel, há mais histórias e actividades. Ao lado, no Museu, nascem pequenos pintores e arqueólogos.

Por todo o lado há meninos, meninas. Alguns dizem-me que já cá tinham vindo uma vez. Peço-lhes que voltem, que tragam os pais. Caras espantadas: "Os meus pais também podem vir?"

É um dia especial. É o Dia do Livro Infantil, na Biblioteca Pública de Évora.













Com o nosso agradecimento à Câmara Municipal de Évora, ao Grupo de Cantares de Évora, à Lógica EM, ao Centro de Ciência Viva de Estremoz, ao Museu de Évora, à APPACDM de Évora, à Junta de Freguesia do Bacelo e Nossa Senhora da Saúde e aos contadores Sílvia Chambino, Rui Melgão, Bru Junça e Susana Coelho.

Pedro



Gosta de música, ouve-a constantemente, mas os ritmos já são diferentes dos meus e já não a reconheço. Respira futebol, vive para o Sporting e vibra com o Real Madrid (nós, as raparigas, gostamos mais do Barça), o A. C. Milan, o Bayern de Munique...

Anda aborrecido, trocaram-lhe as voltas e caiu nas Humanidades quando só vive para o Desporto. A vinda para Évora, que tanto o transtornou, vai possibilitar-lhe essa escolha. Pelo menos isso. Morre de saudades da rapaziada de sempre, dos amigos da primeira infância.

É um homem entre mulheres. Atura-nos todos os dias desde que nasceu, sempre em minoria. Recolhe os frutos de ser o mais novo, de ser "o menino".

Era o meu "Pisca", agora é o Pedro e faz hoje 16 anos. Parabéns, filho.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Urbano Tavares Rodrigues na Biblioteca Nacional

A vida e obra do Homem que deu o nome à minha primeira Biblioteca estarão em exposição na Biblioteca Nacional de Portugal entre 1 de Abril e 28 de Junho de 2014. Um percurso único de um homem singular. Recomendo a visita.


Mais informações aqui.

Mãe

Vou herdar-lhe as flores, pedi-as às minhas irmãs. Um dos grandes amores da sua vida. Mas mãos dela, tudo florescia. O galho mai...