sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Maria José Moura

Duas alentejanas, teimosas, sem papas na língua e com a mania de lutarem por aquilo em que acreditam não pode dar bom resultado. Por isso os nossos últimos tempos foram difíceis.

Deste lado, uma "rapariga incontrolável ", como ela me chamava. Do outro, a "mãe das bibliotecas públicas ", como todos lhe chamávamos. Dos dois lados, uma admiração profunda. Bom, mais do meu lado, porque tinha muito, tanto, tanto trabalho feito por ela para admirar, enquanto ela só reconhecia em mim a mesma vontade inabalável, o mesmo "pêlo na venta" (desculpem, é  um post sobre duas alentejanas), a mesma paixão pelas bibliotecas.

Enfim, as circunstâncias afastaram-nos. Dirigiu-me palavras que não consegui  perdooar naquela altura. Que tonta! Não consegui ver que, nela, era um sinal de consideração. Podia ter-me simplesmente ignorado, como fazia a tantos com quem nem perdia o seu tempo. Mas gastava tempo comigo, e eu com ela.

Maria José Moura deixou-nos hoje, depois de meses de doença e sofrimento. A tristeza é imensa. Com ela desaparece também uma espécie de confiança em que tudo se resolverá. É,  inegavelmente,  o fim de uma era. Agora, como dizia hoje a Ana Paula Gordo, é connosco. Está nas nossas mãos.

Por coincidência reli hoje um texto que circula pela internet: as boas mães são as que se tornam dispensáveis com o tempo, porque dão aos filhos os instrumentos e os valores para seguirem com as suas vidas. Não sei se todos estamos conscientes do que o grupo coordenado pela Maria José Moura nos deu: uma missão,  uma profissão, o trabalho que nos sustenta. Nada seríamos sem a Rede Nacional de Bibliotecas Públicas. Nem sequer existiríamos. Todos aqueles que hoje ou amanhã estão demasiado ocupados com o trabalho da Biblioteca para a acompanhar,  precisam de se lembrar que, sem o seu trabalho - a par com o de outros que já fomos perdendo ou nos preparamos para perder em silêncio e indiferença  - o deles não existiria.

Por isso, façamos o nosso trabalho, tão bem quanto as nossas forças nos permitirem. Elevemos as nossas bibliotecas. Essa é a melhor forma de honrar o legado que recebemos.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Desordem e retrocesso



O Brasil escapou por um triz e tem agora uma bolsa de oxigénio para três semanas antes da decisão final, que é tão simples como isto: liberdade ou ditadura.

Bem sei que há imensos casos de corrupção que envolvem o PT, mas, infelizmente, não é só o PT a estar envolvido, bem pelo contrário. Nem vou entrar aqui em detalhes sobre a forma vergonhosa como a Dilma foi afastada do cargo para o qual foi eleita, ou sobre as muitas dúvidas que a acusação contra Lula levanta a quem se quiser dignar a prestar cinco minutos de atenção, em vez de só ler as gordas. Porque o que está em causa no Brasil hoje, e até dia 28, é a escolha entre liberdade ou ditadura.

É só isto. As posições extremaram-se de tal forma que neste momento, só resta isto. Branco ou preto. Todos os cinzentos desapareceram. O que começou por ser uma escolha entre o que era menos mau transformou-se agora numa decisão simples. Ser ou não ser livre.

A decisão parece óbvia, especialmente num país onde tantos habitantes são descendentes de minorias subjugadas durante séculos, de escravos, de indígenas que viram os seus territórios ocupados. Quem não quer ser livre, ainda por cima quando há um passado destes para honrar? E no entanto, o dilema aí está. Liberdade ou ditadura. E a ditadura está a 3 semanas de ganhar. É um longo e muito escuro inverno que se aproxima.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Olhar para cima



Um recado para todos os recados que vejo insistentemente nas redes sociais e que tantas vezes me fazem deixar de seguir pessoas com quem até simpatizo.

Há uma vida para viver. Levantem os olhos do chão, elevem-se, deixem de olhar para baixo e perder tempo com quem não merece a vossa atenção. A vida e o tempo encarregam-se de esclarecer tudo e conduzir tudo ao seu devido lugar.

Desculpem o desabafo, mas às vezes, quando percorro o mural do facebook, só me falta ouvir o silvo das setas envenenadas. Nada de bom pode vir daí. Como é que dizia o Gandhi? "Sejam a mudança que querem ver no mundo". E agora, chega de sermão. Bom fim-de-semana!

#freejubas



O novo lema da FPF deve ser alguma coisa do género "forte com os fracos e fraco com os fortes". Tanto por onde pegar no futebol português e vai multar uma mascote porque deu um abraço a um jogador da sua equipa. Hilariante. Ou será ridículo?

Entretanto, uma enorme onde de solidariedade tomou conta das mascotes do futebol e das redes sociais
#freejubas
#jubassemcadastro

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

#pensarquehaarvoresquemorremparaisto

Pois, pois.*




*expressão habitualmente usada por mim, quando tenho que ser educada e não posso dizer o que penso.

sábado, 1 de setembro de 2018

24 anos a ser bibliotecária

24 anos depois do meu primeiro dia como Bibliotecária, seguimos em frente, com mais garra,  mais empenho, mais orgulho e o mesmo deslumbramento de há 24 anos. 
Viva a Biblioteca Pública!



(Desenho dos EvoraSketchers.)

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Raça e futuro



João Benedito é o meu candidato.
Tem a vontade e a garra necessárias. Tem o Sporting entranhado nas veias e na alma. Nada do que ele fez até hoje me envergonha ou embaraça, sempre foi motivo de orgulho sportinguista.
Tem um projecto coerente e exequível. Tem feito uma campanha pela positiva, afirmando o seu programa, seguindo o seu caminho, sem ataques pessoais e sem denegrir outros candidatos. Trabalha em equipa. Para ele não existe "Eu", só existe o "Nós".
É o único com capacidade para verdadeiramente unir o Sporting. Não tem anti-corpos, é um símbolo do Clube, reconhecido por todos.
Estou convicta de que vai ganhar, mas se, porventura, isso não acontecer, terá sido um orgulho votar nele.

sábado, 30 de junho de 2018

Sem noção



Isto das fake news está cada vez pior.
Vejam bem que agora até dizem que as 3 primeiras figuras da Nação mais o presidente da CML foram a um evento pago, de natureza comercial,  com fins altamente lucrativos, "actuar" no palco principal.

Presidente da República, Presidente da Assembleia da República,  Primeiro Ministro e Presidente da Câmara da Capital. Tudo aos pulos a cantar "A minha casinha", que é uma coisa que é cada vez mais difícil de arranjar para um português normal.

Naaaaaa... só pode ser piada.

Adenda: vídeo disponível aqui: https://www.facebook.com/100007213535373/posts/2022067611377004/

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Biblioteca Municipal de Moura: 50º aniversário




A 27 de Junho de 1968 era inaugurada a Biblioteca Municipal de Moura. Passam hoje 50 anos sobre essa data. Meio século de história de uma das primeiras bibliotecas no Alentejo, de uma das primeiras bibliotecas a integrar a Rede Nacional de Leitura Pública.

Foram bibliotecários desta instituição João Francisco da Mouca (1968-1987, 19 anos), Isabel Martins (1987-1991, 4 anos) Zélia Parreira (1994-2013, 19 anos) e José António Oliveira (2014 até à actualidade).

Ao longo deste tempo recebeu a Biblioteca Fixa nº 149 da Fundação Calouste Gulbenkian e desenvolveu projectos pioneiros e boas práticas reconhecidas, designadamente (entre outros que foram ficando pelo caminho):
  • o projecto Padrinhos de Leitura; 
  • a Feira do Livro de Moura, que chegou a ser a terceira feira do livro do país em volume de vendas e visitantes; 
  • o Projecto Semeando Leituras, que inscreve todos os alunos do concelho na Biblioteca desde a sua entrada no sistema de ensino, garantindo que, daqui a alguns anos, toda a população do Concelho de Moura será utilizadora da Biblioteca; 
  • criou a primeira Rede Concelhia de Bibliotecas, em cooperação com as bibliotecas escolares; 
  • implementou uma rede de pólos que cobre todo o concelho, sendo que, em alguns casos, desenvolveu uma solução de pólo da biblioteca municipal e biblioteca escolar que veio a ser replicada em muitos concelhos do país; 
  • criou o projecto Comércio com Livros;
  • integrou uma das primeiras redes intermunicipais de bibliotecas a partir de uma proposta da própria Biblioteca Municipal ao Conselho Executivo da CIMBAL.
O concelho de Moura assinala esta data tão importante com o mais absoluto silêncio.

Resultado de imagem para faça silencio

terça-feira, 26 de junho de 2018

O Bibliotecário do Vaticano


Afinal de contas, o Papa ainda é capaz de fazer milagres. Acho que foi a primeira vez que ouvi a palavra "bibliotecário" num telejornal. Até me pareceu que nem a sabiam pronunciar bem.


sexta-feira, 15 de junho de 2018

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Inês, 24



Independente, trabalhadora, responsável, incansável, imparável, divertida, sensível, sonhadora, solidária, frágil, minha filha, minha amiga. A minha Inês faz 24 anos!!!

Foto de Inês Parreira.

terça-feira, 8 de maio de 2018

Sobre o dia de ontem

Duas horas para expor e defender seis anos de trabalho. Duas horas para mostrar com alegria a coisa mais difícil que fiz na vida. Não pela dificuldade da investigação, que me proporcionou uma aprendizagem e uma visão sobre o mundo das bibliotecas públicas que não imaginava. Difícil por tudo o que me roubou: a tranquilidade, o tempo, a paciência, a paz de espírito.

Tudo chegou ao fim ontem: Aprovada no Doutoramento em Ciências de Informação e Documentação com Distinção e Louvor.

Nenhuma palavra é suficiente para agradecer a todos os que ontem escolheram estar comigo. Também não sei como posso agradecer o carinho com que me brindaram nas centenas de mensagens e tantos telefonemas que me chegaram.

Cada vez acredito mais na Biblioteca Pública e na sua capacidade para mudar a comunidade em que se insere. Se ontem cheguei àquele lugar, devo-o aos meus pais e à coragem de teimarem em proporcionar oportunidades às quatro filhas. Devo-o aos meus filhos e à motivação constante que eles me dão para ser melhor a cada dia, a cada instante. Mas devo-o também à Biblioteca Pública, onde encontrei todos os livros que li e que me ensinaram a pensar e escrever. Foi ali também que encontrei os livros de que precisei para estudar e prosseguir o meu percurso académico. E foi na Biblioteca Pública e na sua afirmação que encontrei uma causa à qual dedicar a minha vida.

"Os livros não mudam o mundo. Os livros mudam as pessoas e as pessoas é que mudam o mundo."









segunda-feira, 7 de maio de 2018

Sobre o dia de hoje

Se és capaz de conservar o teu bom senso e a calma,
Quando os outros os perdem, e te acusam disso,

Se és capaz de confiar em ti, quando te ti duvidam
E, no entanto, perdoares que duvidem,

Se és capaz de esperar, sem perderes a esperança
E não caluniares os que te caluniam,

Se és capaz de sonhar, sem que o sonho te domine,
E pensar, sem reduzir o pensamento a vício,

Se és capaz de enfrentar o Triunfo e o Desastre,
Sem fazer distinção entre estes dois impostores,

Se és capaz de ouvir a verdade que disseste,
Transformada por canalhas em armadilhas aos tolos,

Se és capaz de ver destruído o ideal da vida inteira
E construí-lo outra vez com ferramentas gastas,

Se és capaz de arriscar todos os teus haveres
Num lance corajoso, alheio ao resultado,
E perder e começar de novo o teu caminho,
Sem que ouça um suspiro quem seguir ao teu lado,

Se és capaz de forçar os teus músculos e nervos
E fazê-los servir se já quase não servem,
Sustentando-te a ti, quando nada em ti resta,
A não ser a vontade que diz: Enfrenta!

Se és capaz de falar ao povo e ficar digno
Ou de passear com reis conservando-te o mesmo,

Se não pode abalar-te amigo ou inimigo
E não sofrem decepção os que contam contigo,

Se podes preencher todo minuto que passa
Com sessenta segundos de tarefa acertada,

Se assim fores, meu filho, a Terra será tua,
Será teu tudo que nela existe

E não receies que te o tomem,

Mas (ainda melhor que tudo isto)
Se assim fores, serás um HOMEM.

(Rudyard Kipling)

segunda-feira, 23 de abril de 2018

23 de Abril



Hoje é o dia do meu melhor amigo. Que não me levem a mal os meus amigos de carne e osso, mas foi nos livros que encontrei sempre o meu refúgio.

Foram eles que me apresentaram o mundo. Todos os sítios que visitei, já os conhecia das páginas de tantos livros. Em todos aqueles que ainda quero visitar espero reencontrar o que as páginas de outros tantos livros já me mostraram. E as pessoas que encontramos pelo caminho? Já as vimos e conhecemos nas histórias que lemos. Tornam-se fáceis de decifrar, de interpretar, de ler.

Haverá combinação mais insípida e simples que esta? Uns fios de tinta preta desenhados sobre umas folhas brancas. 26 letras repetidas, multiplicadas, combinadas, reposicionadas dão origem a milhões de textos, de sentimentos, de viagens, de aventuras, de experiências. Conhecimento, informação, lazer, prazer: eis o Livro.

São tantas as vezes que já me salvou da tristeza, da solidão, da incerteza, da amargura, da mágoa, da dor, que não imagino o que seria viver sem ele. Foi nele que encontrei o meu caminho, a minha realização profissional, a minha felicidade. Viva o Livro, vivam os livros!



segunda-feira, 2 de abril de 2018

Pedro, 20

O "pisca" cresceu mais do que eu poderia imaginar. Do Pedrocas ao mister Pedro Fialho vai um mundo, uma vida. Foi apenas um piscar de olhos, mas nós sabemos que foram muitos dias, muitos meses, vinte anos cheios de tudo o que faz uma família.

Parabéns mister Pedro!




quarta-feira, 21 de março de 2018

Antes medíocre que hipócrita

Durante a nossa vida, é demasiado frequente encontrarmos pessoas que ficam felizes com as derrotas dos outros. É o sistema e o único caminho que os medíocres conhecem para o sucesso: esperar que os outros percam, que caiam pelo caminho, que a infelicidade os atraiçoe.

Esses, os medíocres, merecem a nossa pena e algum cuidado, mas os piores são os outros: os que têm capacidades, os que podem lá chegar por mérito próprio, os que têm tudo para fazer o seu caminho, à velocidade que desejam, sabendo que têm em si tudo o que é necessário para ultrapassar adversidades. E, no entanto, ei-los felizes com a desgraça alheia, chegando mesmo a armadilhar "só um bocadinho" o caminho dos outros, mesmo que aqueles em nada os prejudiquem. Ei-los, tão divertidos, incapazes de solidariedade, de empatia, de humanidade.

Pensam que ninguém repara. Acham-se tão inteligentes e superiores que pensam que o comum dos mortais nunca conseguirá perceber a maldadezinha escondida nos gestos bonacheirões ou nas intervenções "pertinentes". Mas é essa arrogância que, fácil e fatalmente, os denuncia.

No dia mundial da poesia

Fala do homem nascido

(chega à boca da cena, e diz:)

"Venho da terra assombrada,
do ventre da minha mãe;
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.

Trago boca para comer
e olhos para desejar.
Com licença, quero passar,
tenho pressa de viver.
Com licença! Com licença!
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
não tenho tempo a perder.

Minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte;
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.

Quero eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.

Com licença! Com licença!
Que a barca se faz ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar."


António Gedeão, in Teatro do Mundo

domingo, 18 de fevereiro de 2018

48



18-02-2018.

O mais próximo que alguma vez vou estar de uma capícua, a não ser que viva até aos 111 anos e chegue a 18-02-2081.

É a minha capícua, ligeiramente imperfeita,  como são todas as coisas importantes da minha vida. Assim tenho a hipótese de gastar os meus dias a tentar melhorar e aperfeiçoar tudo o que conheço,  começando por mim.
São 48 anos. Cheios de vida, de garra, de luta, muitas lágrimas e muitas gargalhadas.

'Bora lá,  que há muito caminho pela frente!

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Lindinho

O meu carro está velho. O facto de a dona ser uma mulher nada interessada em mecânica não ajuda. Já não aguenta viagens grandes sem dar sinal de exaustão.

Hoje precisei de sair e deixei-o em Évora. Quando voltei lá estava ele. Veio-me à cabeça o Porto Sentido do Rui Veloso: "Ver-te assim, abandonado, nesse timbre pardacento, nesse teu jeito fechado, de quem mói um sentimento. E é sempre a primeira vez, em cada regresso a casa, rever-te nessa altivez de milhafre ferido na asa".

Estava todo salpicado. A passagem de outros carros por uma poça de água próxima deixou as suas marcas. Fui lavá-lo. Revi a amolgadela que lhe fiz  numa manobra junto a uma pedra de grande dimensão à esquina da rua Bica dos Quartéis, onde morei há 15 anos. Revi os vestígios de uma pastilha elástica que o meu filho Pedro resolveu atirar pela janela numa das nossas viagens, em pleno movimento, e que ficou colada ao vidro. Revi a marca de uma pedrinha que saltou de um camião para o vidro da frente quando ele tinha apenas 2 semanas nas minhas mãos. Vi o sítio da peça que caiu porque a minha filha Inês anda nas calçadas de Évora à mesma velocidade que circula na estrada alcatroada. Revi as marcas do estacionamento aqui na rua estreita onde moro nos primeiros dias de carta da minha filha Mariana,  ao lado dos que eu própria fiz numa fase em que ele se desligava em andamento e bloqueava a direcção.

Revi as viagens que fizemos os quatro, para conhecer o país,  nas nossas férias.  Revi as horas sozinha, por trás do volante, em deslocações para dar formação,  para vir à Universidade ou a caminho da Biblioteca Nacional.  Revi os quilómetros feitos a caminho de Alvalade. Revivi o dia em que o fui buscar ao stand. A primeira coisa que comprei sozinha, quando a minha vida deu a volta.

"Ainda tens este carro?" perguntam-me às vezes.  Sim. Já estive a milímetros de o trocar mais do que uma vez. Não consigo. Enquanto andar, continuará a ser o meu carrinho, o meu "lindinho".

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Marco do correio



Os CTT, privatizados, ameaçam fechar várias estações. A ameaça é fulgurante e fatal. Quando os utentes se preparam para reclamar, já a porta encerrou e os funcionários desapareceram. É um processo que tem vindo a ocorrer há vários anos, mas só agora chegou à comunicação social e até teve direito a debate de Prós e Contras. 

A diferença é que, agora, as populações afectadas vivem em cidades grandes. A diferença é que, agora, a decisão vem de uma empresa privada e criticar a sua actuação não fere lealdades partidárias. Mas há 7 ou 8 anos, quando os primeiros postos dos CTT fecharam, essa ordem veio do Estado, legítimo proprietário e gestor do serviço, com o propósito de embelezar o pacote para o potencial comprador. Portanto, as vozes que agora se levantam, naquela altura ficaram em silêncio.

A diferença é que, agora, os lesados têm outros postos de CTT a distâncias que podem ir até 1 km, mas há 7 ou 8 anos, quando fecharam os postos dos CTT nas aldeias do interior, essas populações ficaram definitivamente privadas do serviço (que chegou a ficar a mais de 30 km de distância). A diferença é que, agora, as populações lesadas possuem, na generalidade, competências que lhes permitem utilizar o facebook e o twitter, o email e internet banking, fazem compras online que são entregues ao domicílio e dispõem de meios de deslocação próprios ou públicos. No caso dos postos de CTT que encerraram há 7 ou 8 anos, as populações lesadas eram maioritariamente idosos, sem acesso à internet, sem meios de locomoção próprios e, lá está, sem acesso a meios de transporte públicos, porque também foram cortados para poupar ou para privatizar. Portanto, as vozes que agora se levantam, naquela altura ficaram em silêncio.

Mas não se preocupem, indignados de agora. Nós, as populações desse interior que o poder político decidiu encerrar há muito tempo, estamos do vosso lado. Contem connosco para a luta, seja ela qual for. As nossas vozes fazem coro com as vossas. Mas não se vão daqui sem o troco, mesmo que seja preciso citar o já estafado mas sempre pertinente poema de Martin Niemoller:

Primeiro levaram os comunistas,
Mas não falei, por não ser comunista.
Depois, perseguiram os judeus,
Nada disse então, por não ser judeu,
Em seguida, castigaram os sindicalistas
Decidi não falar, porque não sou sindicalista.
Mais tarde, foi a vez dos católicos,
Também me calei, por ser protestante.
Então, um dia, vieram buscar-me.
Nessa altura, já não restava nenhuma voz,
Que, em meu nome, se fizesse ouvir.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Certidão de pré-óbito

Dito com todas as letras e assumindo todas as consequências, que é o que quem lá está não pode fazer:
Quando acabarem de desmantelar a Biblioteca Municipal de Moura, avisem. Gostava de ir ao funeral.


sábado, 6 de janeiro de 2018

Como se (des)faz um leitor




Diálogo abreviado mas absolutamente real:

- Olá, bom ano! Já há algum tempo que não a via, não tenho ido à Biblioteca.
- Olá, bom ano! Então,  mas está tudo bem?
- Sim, só que o meu filho este ano tem 5 ou 6 livros de leitura obrigatória e se formos à Biblioteca,  ele vem de lá carregado de livros escolhidos por ele e depois só quer ler esses. Não quer ler os livros obrigatórios da escola. Tem sido um castigo para o obrigar a ler. Até lhe digo "Ó filho, mas tu gostas tanto de ler..." mas, enfim, gosta de ler o que ele escolhe!

Mãe

Vou herdar-lhe as flores, pedi-as às minhas irmãs. Um dos grandes amores da sua vida. Mas mãos dela, tudo florescia. O galho mai...