Saio da Biblioteca para ir à papelaria mais próxima buscar um artigo básico para o expediente geral: envelopes. O Largo está cheio de turistas. Quando é que não está? Desde que aqui trabalho, não me lembro de um único dia em que não haja turistas à volta do Templo.
Cruzo-me com uma família. O pai vem à frente, a reclamar: "Estas obras não eram para ser feitas nesta altura. Agora que estão cá os turistas é que se põem a fazer obras?" Como acho que sou um bocadinho anfitrã no Largo, ainda me viro para lhe explicar que tinha que ser agora, porque é uma medida urgente e, além disso, este género de obras tem obrigatoriamente de ser feito no verão. No Inverno seria apenas deitar dinheiro à rua. Mas pensei duas vezes e voltei ao meu rumo, calada.
Chego à papelaria, está uma mãe de primeira viagem a perguntar pelos livros do 1º ano do 1º ciclo. A funcionária, renitente, diz-lhe que o governo este ano oferece os livros, mas tem que pensar bem, porque depois o menino não pode escrever nos livros, praticamente não os pode utilizar, porque têm que ser devolvidos no fim do ano e se estiverem estragados, tem que os pagar. Intrometo-me, digo que não tem nada que pagar. Tem que os devolver, mas os livros podem e devem ser usados. A funcionária ignora-me e continua "é assim, o governo dá, mas não dá... a senhora é que sabe o que quer fazer, mas vá por mim, que eu é que sei".
O mundo está cheio de gente que sabe tudo.
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