quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Antes do dia 24

 

A maioria dos especialistas aponta para uma abstenção recorde.
 
Eu não sou especialista de nada, só percebo vagamente umas coisas de bibliotecas. Mas isso obriga-me a observar com muita atenção as pessoas, a forma como se movem e o que as motiva. E, com base nisto, digo-vos:
 
A abstenção vai descer, porque:
 
1. Há uma imensa massa de gente que não se manifesta porque sabe pouco das movimentações políticas, não compreende as diferenças entre os candidatos e as suas opções económicas e sociais. São os que vivem vidas inteiras alternando entre os transportes públicos durante a semana e o pijama/fato de treino ao fim-de-semana, que contam os meses pelo ritmo da carta da luz, da água ou do dia de pagar a renda. Não compreendem como caíram naquela rotina nem mostram vontade de compreender como podem sair dela. São também os que, mais na província, e por oposição, não conhecem a diferença entre domingo e segunda. Todos os dias os animais têm que comer, as terras precisam de cuidados e o pão precisa de estar na mesa. E depois há os que já estão fora do sistema. Milhares de cidadãos em lares, casas de acolhimento, onde a mudança de orientação política não chega nunca.
 
2. Esta imensa massa de gente, que afirma que "eles são todos iguais", que "para nós não faz diferença, eles é que ganham o dinheiro ", que sistematicamente se absteve de votar por não compreender a importância do voto, viu subitamente aparecer alguém que fala uma linguagem acessível. Nada de teorias sociais e económicas. Só expressões simples como as que deram a vitória ao Brexit (take back control), a Trump (make America great again) ou a Bolsonaro (Brasil acima de tudo) e agora, com o nosso próprio cretino (pessoas de bem).
 
3. São estas pessoas, que os especialistas não incluem nos estudos ou sequer "vêem", que causam as surpresas que temos tido nos últimos 5 anos e que causam tanto espanto aos especialistas, o "como é que é possível?", "mas as pessoas são burras?" que temos repetido sem parar depois da asneira feita.
 
4. Isto é o que nos vai acontecer no dia 24. A maioria silenciosa não vai ficar toda em casa, desinteressada, porque acha que apareceu alguém, como ele insiste em repetir, de fora do sistema, sem medo e que, se calhar, só para provocar, "porque ele não tem hipótese de ganhar", vão votar nele. "Só para pregar um susto aos de sempre".
 
5. Por outro lado, a maioria silenciosa que vota, que está a ser contabilizada a favor de Marcelo, votou nele porque ele era a pessoa que explicava o que se passava ao domingo à noite, com aquele ar de avô culto, fora do sistema. Mas, 5 anos depois da PR, ele tornou-se um "deles" e isso vai ter consequências. 
 
Portanto, meus amigos aproveitem estes 3 dias de Portugal livre e democrático, porque depois de domingo, tudo vai mudar. Tudo vai ser muito pior, feio e negro. 
 
E nós deixámos que isto acontecesse.

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