Confesso que me preocupa, aflige mesmo, tomar conhecimento de notícias sobre a forma como decorrem algumas aulas nas escolas do nosso país. Sou mãe, tenho três filhos integrados no sistema educativo e não reconheço na escola deles a vivência que eu tive enquanto estudante.
Sim, eu sei que o mundo entretanto mudou, não estive distraída nestes últimos vinte anos. Mas eu não falo de mentalidades, falo do divórcio entre escola e educação.
O sistema instituído, a que não podemos de forma nenhuma alhear a responsabilidade dos últimos Ministérios da Educação tem vindo a promover um ambiente de desconforto, de desmotivação e desinteresse, quer nos alunos, quer nos professores.
Quem não tem um ou dois professores que lhe marcaram a vida pela positiva? Desde a austera D. Francisca Pataca, passando pela calma da D. Mariana Aguilar, até à minha professora de História do 8º ano, que marcou decisivamente o meu percurso futuro. No 10º ano voltei a ter outra professora de História que apagou quaisquer dúvidas que eu pudesse ter sobre o rumo que queria dar à minha vida, e foi também na mesma altura que fui aluna da Professora Conceição Alvarinho e da Professora Geninha. Não só como professoras, mas como amigas, acompanharam-me desde essa altura, felizes pelos meus bons momentos, solidárias nos maus momentos.
E depois, na Universidade de Évora, o Professor José Alberto Machado, uma das pessoas mais inteligentes que tive oportunidade de conhecer, e um dos professores mais exigentes que tive.
E agora, digam-me lá, isto tem alguma coisa a ver com as reportagens que vemos nos jornais e na televisão? O que se passa, alguém sabe explicar?
Que ensino temos quando não há respeito mútuo entre seres humanos, sejam eles alunos, professores ou auxiliares? Que educação podemos ter quando prevalece o grito mais alto, a ofensa mais grave, o gesto mais agressivo?
E onde estão os Encarregados de Educação, que só aparecem quando a notícia chega à televisão? Onde está a comunidade educativa, que é uma expressão tão bonita para se usar em discursos, mas que na maioria dos casos não se traduz na realidade?
Como é possível que uma conversa dentro de uma sala de aula descambe para a violência verbal e psicológica a que pudemos assistir? Como é possível que se chege ao extremo de gravar aulas para poder comprovar queixas? Em que clima se vai viver a partir de agora dentro das salas de aula, sabendo que já não há limites para a desconfiança, sabendo que a relação que se estabelece entre professor e aluno foi irreversivelmente abalada pelos últimos acontecimentos?
E não falo só destes episódios que surgem nas notícias, falo do clima de revolta e angústia, de frustração e de inquietação que se vive nas nossas escolas. Não é de certeza este o caminho que queríamos percorrer. Não será portanto altura de parar e reflectir?
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