Carta aberta a todos os que se têm mostrado tão, tão preocupados com a minha saúde e bem-estar físico nos últimos meses:
Durante 32 anos, tive anemia. Na verdade, ainda a tenho, só que está controlada. Trata-se de um tipo de anemia genética, muito comum na zona do Alentejo, e que segundo me explicaram os médicos, se trata de um legado da presença árabe na nossa região.
Entre os 18 e os 32 anos, a anemia agravou-se, o que me obrigou a tomar comprimidos de ácido fólico (a principal carência, contrariamente à anemia normal, causada por falta de ferro) initerruptamente. Cada caixa custava na altura a módica quantia de 4200$00, e dava para vinte dias. Mesmo assim, tinha frequentemente crises mais graves, que me obrigavam a tratamentos intensivos.
Quem se lembra de mim e de como "eu era tão magrinha" deve lembrar-se que tinha sempre um aspecto de doente, uma cor amarelada e umas olheiras que ficaram para a posteridade. Na altura, dirigiam-me frases muito simpáticas e reconfortantes, tais como:
- Estás doente, não estás? Estás tão mal encarada!
- Vai-te meter em casa rapariga, pareces a morte em andamento...
Estas crises de anemia tinham uma causa adicional, que tive a oportunidade de resolver através de uma intervenção cirúrgica aos 32 anos.
Desde aí, felizmente, sinto-me muito bem. Deixei de ter que parar a meio das escadas da Biblioteca para descansar. Deixei de ter que parar a meio da rua da minha mãe (Av. do Carmo) para retomar as forças. Os meus colegas nunca mais precisaram de ir a correr comprar-me qualquer coisa doce porque eu perdia as cores e ficava sem forças. Nunca mais tomei comprimidos (excepto os da dor de cabeça). Tal como previam os médicos na altura, tenho uma qualidade de vida que não imaginava quando estava doente. E claro, ganhei alguns quilos a mais, com os quais me sinto muitíssimo confortável.
Podia emagrecer. Bastava ter algum cuidado com a alimentação. Mas não estou interessada. Prefiro os quilos extra a voltar a ter anemia.
Esclarecidos?
Óptimo. Agora, agradeço que parem de me chatear a cabeça com essa ditadura da magreza, porque eu não alinho em ditaduras, não estou minimamente preocupada com isso e estou farta de ouvir comentários desagradáveis de quem, pelos vistos, não tem espelho em casa.
Tirando este assunto, podem e devem fazer-me uma visitinha para dois dedos de conversa, que eu gosto muito. Tenho aqui bolachas e rebuçados. Fico à espera.
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