domingo, 29 de julho de 2012

Carta aberta a António José Seguro

(Não comecem já a esbracejar porque dói-me muito a cabeça.)

Caro Tó-Zé

Como sabe, em tempos simpatizei consigo. Ainda simpatizo, não acredito que haja alguém em Portugal que não sinta alguma empatia consigo, porque você (posso tratá-lo assim?) é um rapaz simpático. O que é surpreendente é, considerando o ano horrível que acabamos de passar e somando-lhe as perspectivas negras dos meses e talvez anos que aí vêm, que você não consiga descolar nas sondagens.

Está a ver, o problema pode ser esse, você é só um rapaz simpático. Às vezes quer fazer cara de mau, mas não consegue e depois toda a gente fica cheia de pena de si enquanto comentam em voz baixa (às vezes não tão baixa) que o Tó-Zé não tem estofo para líder.

Eu acho que a melhor solução é assumir a sua condição. Se é um bom rapaz, paciente e tal, não vale a pena andar a imitar tiques d'O Padrinho ou coisa assim, porque é contraproducente. Coordene, delegue, observe quem está à sua volta e tente tirar partido do mau-feitio que alguns manifestamente têm. Eles fazem o papel de maus enquanto o Tó-Zé se afirma pela positiva, está a ver? Não pode fazer de polícia bom e polícia mau ao mesmo tempo...

Outra coisa muito importante: Deixe de andar a reboque dos cabeçalhos dos jornais. Este exemplo é flagrante e foi até a motivação para esta carta. É que dá a impressão que anda distraído, que o seu grupo de trabalho anda distraído e depois quando sai qualquer coisa nos jornais, o Tó-Zé veste o casaco e põe a gravata à pressa e vem para a televisão e para as rádios com o ar mais indignado que consegue arranjar e exige uma coisa qualquer, só para aparecer. Essa estratégia já o Louçã usou até à exaustão.

Quanto a mim, só tem duas opções: Ou arranja maneira de se antecipar a este tipo de notícias e ser o primeiro a confrontar o governo com factos deste género (é você que faz a notícia), ou então tem de encarar estas coisas com uma certa autoridade moral que a sua condição de bom rapaz ainda lhe dá, e demonstrar com ironia - quando lhe perguntarem, deixe que sejam os jornais a procurá-lo - a ineficácia do governo, as prioridades trocadas, blá, blá, blá. Percebe?


É que isto que você faz, Tó-Zé, tem pouca diferença do que eu e milhares de outros bloggers fazem. Leio as notícias, e quando há alguma coisa que me interessa, comento, se possível com alguma ironia. Mas eu posso fazer isso porque sou só uma eleitora insignificante, que vive algures numa terra pequena no meio do Alentejo profundo. Você quer ser Primeiro-Ministro, homem, tem de se fazer respeitar, e não é assim que lá vai, garanto-lhe. Parece um miúdo no recreio a apontar o dedo ao colega que foi descoberto a fazer asneira (depois de ele ter sido descoberto, claro!).

Tentar argumentar consigo nem tem piada, basta um ataque certeiro à sua insegurança para descredibilizar o que você diz. É a estratégia que o Passos Coelho utiliza, já reparou? Você aponta críticas e ele responde-lhe com uma ironia, você fica logo KO e aqueles seus "amigos" das filas de trás a esfregarem as mãos de contentes. Tem de ser ao contrário, percebe? Você é da oposição, o seu papel é obrigar o Governo a demonstrar que está certo.

Pense nisto. Cumprimentos,

Zélia Parreira

2 comentários:

  1. Pobre Tó-Zé...parece que anda a apanhar chapéus!
    Ontem esteve na feira do anho...não foi? é como eu o vejo...um pobre anho para ser sacrificado em lume brando...até o PS ter condições para ser alternativa! e aí saltarão todos os galifões que já estão a posicionar-se!!!!
    Bom texto. Uma abraço MMgantes

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  2. LOL :D
    Devias ser consultora de políticos. Já agora, não tens nenhuma sugestão para o penteado do "Tozé"? Sei que o cabelo dele é difícil, mas, quando o vejo na televisão, sinto-me, pelo menos, 30 anos recuada no tempo. E devia deixar aquela expressão de jovem atinadinho, mas sofrido, como quem diz: "que chatice, ainda tanto para estudar"...

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