Há muitos anos que não se vivia uma festa com o sentimento de bairrismo que se viu nestes dias. Vamos por partes:
1.
Comissão de Festas: Não houve. Os sacrificados elementos da Associação de Festas de Nossa Senhora do Carmo puseram mãos ao trabalho (que remédio, não havia mais ninguém) e deram uma lição à cidade inteira. Com trabalho e honra, tudo se faz. Com criatividade e vontade, faz-se ainda melhor.
Em vez de espectáculos caros e quase vazios nos sítios do costume, enquanto a malta se divertia à porta dos bares, a Associação adoptou o velho lema Se não os podes vencer, junta-te a eles. Os bares foram chamados a colaborar activamente nas festas, defendendo e aumentando as suas possibilidades de lucro e o resultado foi uma cidade viva em todas as ruas e praças. Estão todos de parabéns, mas o meu destaque tem de ser para aquele punhado de homens que não desistiu e nos deu uma belíssima Festa, cheia de alegria, de amigos, de família. Obrigada!
2.
Os amigos. Que coisa tão simples e absolutamente extraordinária é passar tempo com amigos. Rir e conversar, petiscar qualquer coisinha, sentir que temos o nosso lugar. Tão simples. Tão extraordinário.
3.
O fogo. Claro, sem fogo não havia festa. Bastavam meia dúzia de foguetes, na realidade, mas foram mais do que meia dúzia e... verdes, muito verdes. Belo fogo.
4.
A procissão. Sou católica, não sou praticante. A Igreja é para mim mais lugar de reflexão do que de oração. Já lá passei muito tempo, muitas vezes, quando a vida insiste em me pôr à prova.
Acontece que esta procissão é algo que não se consegue explicar. Quem ainda nunca a fez, pode continuar a ler, mas não vai compreender.
Em miúda, cumpria o ritual de quase toda a gente aqui em Moura: via passar o cortejo, depois entrava um bocadinho, depois saía... Milhares de pessoas passam pelos cordões da procissão, entram na praça, saem quando chegam à rua onde moram, à casa da prima, da tia... ou vice-versa. Depois a minha filha mais velha nasceu, acabei o curso, comecei a trabalhar na biblioteca. Sentia-me bem ali, comecei a fazer percursos cada vez maiores.
Acho que só falhei um ano. Andava zangada com a vida... De resto, raras são as vezes em que não cumpro o caminho completo.
Há um ano também o fiz. A minha mãe tinha acabado de ser diagnosticada e eu fiz o caminho com muito revolta, muito medo, muita incompreensão. Pensei mil vezes O que é que eu estou aqui a fazer? De que vale tudo isto? Pensei muitas vezes, durante aquelas duas horas e aqueles (muitos) passos que se o pior acontecesse, nunca mais ninguém me apanharia ali. Fez-me bem. Deixei ali quase tudo, a catarse é completa.
O pior não aconteceu, por isso voltei este ano a cumprir, passo por passo, aquela procissão. Durante aquelas duas horas de silêncio, a cabeça não pára de pensar. No que já fiz, no que deveria ter feito, no que é melhor, no que é pior, no que é preciso, no que está certo. Vejo pessoas amigas, desamparadas, algumas não tiveram a mesma sorte que eu, a vida atraiçoou-os quando menos esperavam. Vejo pessoas felizes e sorrisos contentes. Vejo pessoas que ainda não perceberam o que é a vida, por mais anos que tenham "vivido". Estão ao lado da procissão a comentar as roupas, os saltos e as malas. Não percebem nada, são os verdadeiros infelizes.
Espero poder estar ali outra vez no próximo ano e nos outros que hão-de vir. Eu e a minha "fé especial" como alguém me disse no Domingo. Estarei para lavar a alma dos dias que já tiver deixado para trás e para respirar fundo para novos dias. Estarei para me lembrar das dificuldades vencidas, estarei para arranjar coragem para as dificuldades novas, estarei pela minha família, sobretudo pelos meus filhos. Como todos os outros dias da minha vida, só que tudo condensado em duas horas e muitos passos.
Uma festa como Moura não tinha já há 5 ou 6 anos e eu tambem não. Numa das muitas conversas sem assunto eu falava com um amigo meu sobre as pessoas integras que nós somos, tudo numa galhofa de ir ás lágrimas. Entretanto passa um ilustre desconhecido que chamamos para a conversa sem que ele percebesse o porquê de tal ousadia. Acabei por tentar saber mais sobre o moço, então fiquei a saber que tem os mesmos gostos musicais que eu e partilha tambem um pouco da minha maneira de pensar. Era de Lisboa, perguntei-lhe porque estava nas Festas de Moura e com quem estava ele, respondeu-me assim "Nunca tinha cá estado e isto é um espectáculo. Tou com um amigo meu, o André Escoval, não sei se conheces?". Pronto, e a partir daí passou a ser meu amigo também. Isto para percebermos como o mundo é pequeno, mas as Festas de Moura são grandes!
ResponderEliminarGostei deste formato da festa, trouxe de novo as pessoas à rua. Um especial destaque também para a magnifica açorda de Sábado.
ResponderEliminarE podias ter provado o resto... :) Estava boa, estava, e a companhia também era do melhor. Gostei muito, uma noite muito bem passada.
ResponderEliminarFoi sem duvida uma noite muito bem passada, na companhia de bons amigos. Gostei sim senhora.
ResponderEliminarPorque não juntam o grupinho e realizam as festas de 2013?Estamos à vossa espera.
ResponderEliminarVontade não me falta...
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