sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Mil novecentos e oitenta e quatro



Tinha 14 anos e era 1984. Esperei pelo livro quase todo o ano e finalmente, uns dias antes do natal, chegou às minhas mãos. É o livro da minha vida, não tenho dúvidas. Mesmo que nunca mais o tenha voltado a ler. Mesmo que me invada um frio gorduroso e desconfortável de cada vez que abro uma página ao acaso. Mesmo que volte a sentir o medo dos ratos, da solidão ou da desilusão. Determinou a minha visão do mundo e encontro-o uma e outra vez, em pequenos detalhes do quotidiano, mas sobretudo, na enorme liberdade de pensar que tenho, todos os dias, a oportunidade de ter coragem em vez de ter medo. 
                         

Palavras para quê, é um artista português

Isaltino Morais vai ser libertado. O processo apresenta várias irregularidades que podem determinar a sua nulidade e até poderão originar processos por atentado à honra e liberdade do Presidente da Câmara de Oeiras.
                             

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O rigor da notícia


A jogar com menos dez? Só ficou um em campo?
                              

Demasiado tempo livre

O Senhor Presidente da República veio ontem lamentar que os portugueses em geral, e os políticos em particular, não tenham ouvido os seus repetidos avisos sobre a situação do país. Coitado, estava nervoso por estar na televisão e enganou-se, porque toda a gente sabe que ele só se sente confortável quando fala aos portugueses pela página do Facebook, o que significa que lemos os seus avisos.

Se tivesse optado por falar de viva voz, e de preferência com a boca desocupada de bolo-rei, talvez tivesse sido levado mais a sério. É que isto de escrever protestos no Facebook, deve ser prática comum de 99% dos amigos virtuais que por aí andam, não é propriamente muito original e não chama nada a atenção.

Não abona nada em favor da democracia a sua posição de vítima do sistema, lembrando que o PR nada pode fazer. Se assim é, qual é a utilidade da Presidência da República? Porque é que se candidatou? Se bem me lembro, durante o período da campanha eleitoral, tentou mesmo convencer-nos que a sua eleição era muito importante, quiçá fundamental, para o funcionamento do País. E agora admite que não pode fazer nada?

Sr. Presidente, Sr. Presidente... Essas horas que passa no Facebook estão a atrofiar-lhe o pensamento. Espanta-se com o sorriso das vacas (as da sua quinta virtual não sorriem?), e com o país nesta situação, prefere dedicar a sua atenção à poda das anonas (tem disso lá na Farmville, é?)... A sua Maria devia  limitar-lhe o número de horas diárias de computador. Eu faço isso aos meus filhos.
           

Scones


Descobri que no Pingo Doce há scones prontos a comer (basta um minuto no microondas). Até à próxima vez que me mandem mudar de caixa depois de ter as compras todas em cima do tapete, sou outra vez cliente.
              


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Recorrente

Já ouvimos falar disto no ano passado, e no entanto tudo continua igual. E vou ficar por aqui, porque quem comenta o assunto ainda corre o risco de ser acusado de falta de ética. Já me aconteceu a mim.
           

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Só não sei se ainda lhe podemos chamar voluntariado. Ou bolsa de estudo.

A Câmara Municipal de Felgueiras disponibilizou 75 mil euros destinada a 35 bolsas de estudo para o ensino superior que serão atribuídas a jovens em troca da participação destes em acções de voluntariado promovidas pela autarquia ou por instituições do concelho.

               

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Ambos estão errados

A minha filha tem um professor que insiste em dizer "ambos os dois" e pior ainda, "ambos os quatro".

Ain...
         

Perdoem-me

... se não partilho o entusiasmo que parece ter tomado conta da blogosfera pela entrevista de Passos Coelho à RTP1.

O meu recibo de vencimento continua igual, com aquele desfasamento entre o salário base e o que de facto recebo; os meus 3 filhos continuam a precisar de cadernos, livros e mais uma imensidão de material escolar que varia consoante o humor de alguns professores; eles crescem, mas a roupa não estica e ainda continuamos a precisar de pelo menos 3 refeições por dia. Pelo meio ainda há água, luz e taxas de audiovisual para pagar, despesas médicas e de farmácia, e sim, confesso, o enorme luxo de beber 2 cafés por dia.

De nada me serve que PPC não faça campanha por Jardim na Madeira, porque o partido do qual é líder continua assumidamente presente. Não era este mesmo PSD que se recusava a apoiar candidatos cuja integridade e honestidade levantasse dúvidas?

Além disso, o dinheiro já lá não está, e eu vou ter de contribuir para a sua reposição. É suposto ficar contente com o quê?
             

terça-feira, 20 de setembro de 2011

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Um bom dia

Foi hoje assinado, no Pólo da Biblioteca Municipal em Sobral da Adiça, o contrato de consignação da empreitada de regularização da Ribeira da Perna Seca.

Um dia muito esperado pela população e por todos os que ao longo dos anos têm tido responsabilidades de gestão neste concelho. Fruto da perseverança, da coragem e da determinação, as obras terão início em breve e prolongar-se-ão previsivelmente por 365 dias.

Parabéns a todos os que de alguma forma lutaram por esta realização, aos que se empenharam em reunir fundos que o poder central recusou comparticipar, aos que votaram propostas e resoluções mesmo que isso significasse contrariar disciplinas de voto, e sobretudo, parabéns à população do Sobral da Adiça.
             

Imagem das cheias de Dezembro de 2009, retirada daqui
                       

domingo, 18 de setembro de 2011

Ainda só é o primeiro dia da semana...

O blogue Leitura por prazer ou o prazer da leitura chamou-me a atenção. O Plano Nacional de Leitura e o Gabinete Coordenador da Rede de Bibliotecas Escolares acabam de ser extintos. O trabalho desenvolvido, os resultados obtidos, o enorme investimento realizado de nada valeram.

O Jornal da Tarde passou uma reportagem sobre os protestos realizados ontem em várias cidades relativamente ao desprezo a que a cultura é votada. Por um lado, alguém dizia que só um povo culto pode ser um povo livre. Por outro, alguém comentava o facto de ver ali muitos soldados, mas nenhum general. De Francisco José Viegas, por exemplo, não se ouviu ainda uma única palavra.
                         

Sobre a semana que passou


Na educação, foi a habitual trapalhada do início do ano escolar. Milhares de professores, com 15 e 20 anos de serviço, sem colocação e ao mesmo tempo, escolas sem professores suficientes. 


As universidades abriram as suas portas e desde ontem, 42243 candidatos festejam o seu novo estatuto de estudantes universitários.  Dos 53.500 lugares colocados à disposição pelas instituições de ensino superior, houve 12 cursos que não mereceram o interesse de nenhum candidato e 483 cursos que nem conseguiram chegar aos 20 alunos interessados. Será que quem planificou  e homologou estes cursos vive completamente alheado da realidade?


Na economia, quero dizer, na justiça, quero dizer, na absoluta falta de vergonha e desrespeito pelo próximo, temos mais uma actuação de Alberto João Jardim. Com a esperteza do costume, continua a manter os dirigentes do seu partido e o próprio Presidente da República dentro do seu bolso, obrigando-os a um silêncio ensurdecedor  sobre a sua conduta vergonhosa. Uma dívida astronómica, que ocultou deliberadamente e que agora se recusa a pagar, não admitindo no arquipélago a austeridade a que nós, pobres continentais, estamos sujeitos.


Jardim não está nada preocupado com o facto de ser apontado e comentado por todos. Não são estes que votam nele. Quem o elege são os madeirenses e esses, estão muito satisfeitos com a qualidade de vida que 
lhes é proporcionada, ainda para mais sendo paga por outros.


Na saúde, depois dos cortes orçamentais que tornam o SNS impraticável, surgem novas ameaças. Alguns laboratórios, como a Roche, ameaçam deixar de fornecer os hospitais portugueses por atrasos no pagamento. Os poucos doentes a quem o tratamento médico ainda era assegurado, como os pacientes oncológicos, correm agora o risco de ter de pagar do seu bolso a hipótese de sobrevivência.


A boa notícia, é que esta semana já passou. A má, é que vem aí outra...
                  

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Novamente às voltas com a DGLB

No âmbito do programa de reorganização das estruturas do Estado Português, o Governo decidiu fundir a Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas com a Direcção-Geral de Arquivos.

Como dizia alguém que já li hoje, a evolução pode nem sempre ser sinónimo de melhoria. Se é verdade que somos todos profissionais de informação e documentação, os objectivos das duas estruturas são bem diferentes. Conseguirá a nova "agência" gerir com equilíbrio os seus dois "braços"? Vamos aguardar.
             

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Piada de ocasião, parte II

Oh JJ, é MAN-CHES-TER U-NI-TED! Quem é que deu o curso de inglês a este homem? Devolvam o dinheiro já!


               

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Piada de ocasião

Parece que é suposto apoiarmos os jogadores portugueses nas competições europeias, independentemente do clube onde jogam. Ok, faz de conta que sou do Manchester United desde pequenina.
                   

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Não desapareci...

Estou apenas sem vontade e sem inspiração.
                                 

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Jornadas BAD


Desta vez não vou poder estar presente, mas desejo a todos os colegas uma óptima jornada de trabalho. Os trabalhos podem ser seguidos em directo aqui.
                   

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Aí está a Feira de Setembro



Dia 8 (Quinta-Feira) 
21:00 h - Sessão de Inauguração da Feira 
Animação dos Pavilhões de Exposição e Espaço das Tasquinhas com: 
Grupo Coral e Etnográfico do Ateneu Mourense 
Grupo Musical «Margem Esquerda» (Moura) 

Dia 9 (Sexta-Feira) 
14:30 h - Colóquio: Casas da Nossa Cidade (Auditório da COMOIPREL) 
17:00 h - Chá das 5 – Conversas acompanhadas com chá aromático e sabores locais: «Um cabaz PROVE em Moura - fruta e legumes de proximidade», pela ADCMOURA 
(Pavilhão 2) 
19:00 h - Animação dos Pavilhões de Exposição e Espaço das Tasquinhas com: 
Grupo Coral «As Papoilas em Flor» (Stº. Aleixo da Restauração) 
Grupo Coral «Brisas do Guadiana» (Moura) 
21:00 h - Animação dos Pavilhões de Exposição e Espaço das Tasquinhas com: 
Grupo de Acordeonistas «Alentejo em Melodia» - C.R.A.M. «Os Leões» 
22:00 h - Espectáculo com Projecto PUCARINHO 

Dia 10 (Sábado) 
9:30 h - Fórum: Escola Nacional de Caça, Pesca e Biodiversidade (Auditório da COMOIPREL) 
10:00 h - XVIII Concurso de Méis (Edifício da COMOIPREL) 
Encontro de produtores e outros profissionais da fileira das plantas aromáticas e medicinais (Edifício da COMOIPREL – Sala 1) 
10:30 h - Assembleia Geral da APIVALE – Associação dos Apicultores do Vale do Guadiana (Edifício da COMOIPREL) 
Assinatura de Protocolos com a Herdade da Contenda, EM e com a APIGUADIANA 
14:00 h - Encontro de produtores e outros profissionais da fileira das plantas aromáticas e medicinais (cont.) (Edifício da COMOIPREL – Sala 1)
15:00 h - Entrega de Prémios do Concurso de Méis 
Colóquio: Falemos de Apicultura - Própolis e Pólen, com a presença do Sr. Francisco 
Rogão (Macmel) (Auditório da COMOIPREL) 
17:00 h - Chá das 5 – Conversas acompanhadas com chá aromático e sabores locais: «O porco de raça alentejana - do montado à mesa», pelo Dr. Alberto Franco e pelo Sr. Manuel Fialho (Pavilhão 2) 
19:00 h - Animação dos Pavilhões de Exposição e Espaço das Tasquinhas com: 
Grupo Coral Feminino da Casa do Povo de Safara «Trigueiras do Alentejo» 
Grupo Coral da Casa do Povo de Amareleja 
22:00 h - Espectáculo com VIRGEM SUTA 

Dia 11 (Domingo) 
10:00 h - Oficina de tinturaria natural (Pavilhão 2) 
16:30 h - Chá das 5 – Conversas acompanhadas com chá aromático e sabores locais: «As Plantas no dia-a-dia – como melhorar a sua saúde», pelo Dr. Filipe Rocha e pela Técnica Maria Ferreira (Tinatural) (Pavilhão 2) 
17:00 h - Concurso de Doçaria Azeite e Mel 
18:00 h - Animação dos Pavilhões de Exposição e Espaço das Tasquinhas com: 
Grupo Coral «Espigas Douradas» (Amareleja) 
19:00 h - Espectáculo com GRUPO ROCIERO DE HUELVA (Sevilhanas e Flamenco) 
Entrega dos Prémios do Concurso de Petiscos e do Concurso de Doçaria Azeite e Mel 

Durante os dias da feira: 
Exposição Fotográfica - «Casas da Nossa Cidade», pelos alunos da turma de Multimédia da Escola Profissional de Moura (entrada da Feira) 
Exposição - «A Prova dos 9 - Aromas e sabores de Moura» (Pavilhão 2) 
Exposição - «Inovação e boas práticas nos aromas e sabores» (Pavilhão 2) 
Concurso de petiscos, nas tasquinhas 

Horário dos Pavilhões de Exposição: 
Quinta-feira: 21:00 – 24:00 horas 
Sexta-feira e Sábado: 10:00 – 13:00 horas; 15:00 – 01:00 horas 
Domingo: 10:00 – 13:00 horas; 15:00 – 22:00 horas 



quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A Boazinha

Maria de Belém Roseira será, muito provavelmente, eleita Presidente do Partido Socialista no congresso do próximo fim-de-semana. Nada a opor, simpatizo com a senhora, serena, educada, diplomática, com um sorriso desarmante. O problema é que, ao contrário de outras mulheres eleitas para cargos dirigentes, Maria de Belém parece ser escolhida por ser "a boazinha", a que não discorda, a que não cria problemas, a que deita água na fervura.

Na verdade, o cargo de Presidente no Partido Socialista parece-me ser, quase sempre, meramente honorífico,  e lembrado apenas quando é preciso comentar alguma dissidência interna. A sua atribuição pode nem sempre ser sinal de valorização. É um respeitoso "deixa-te estar aí sossegadinha que já fizeste a tua parte".

Maria de Belém merecia mais. É uma pena que assim seja.
                               

A vida passa

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
    (Enlacemos as mãos.)


Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
    Mais longe que os deuses.


Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
    E sem desassossegos grandes.


Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
    E sempre iria ter ao mar.


Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
    Ouvindo correr o rio e vendo-o.


Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
    Pagãos inocentes da decadência.


Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
    Nem fomos mais do que crianças.


E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
    Pagã triste e com flores no regaço.

Fernando Pessoa (Ricardo Reis)

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Parabéns, António!



Silêncio, meu.
Caminhava por entre sons fugindo aos fumos que se escapavam das janelas. A escuridão esgotava-se no contorno dos telhados incapaz de vencer a escassa iluminação pública e descer até à rua. Sentia que havia ainda muito tempo.A noite revelava-se propícia e pedia cor, de um vermelho vivo, esguichado num último fôlego, onde um vestígio de luz se apagasse para sempre. De preferência numa dor contida e abafada.-Perdão, queira desculpar...Um moço de casaco amarelo esbarrou comigo ao sair duma tabacaria para baixar as grades. Eram horas de fechar. Entrei, a loja estava vazia, adormecida na penumbra. Aguardei. O jovem espreitou.-Só se for coisa simples que estou mesmo a fechar. - gritou-me.Indiferente apontei para a máquina do tabaco, mas foi aquele amarelo vivo que tudo decidiu, um rasgo na noite, uma insinuação, ainda não da cor certa, numa inconformidade prestes a ser corrigida.O jovem entrou e debruçando-se sobre o balcão destrancou a máquina do tabaco. Sobre o altar o cordeiro estava servido. O convite era irresistível.
Só então pensei que era sexta-feira.


A Lua de Marfim, o El Corte Inglés e António Ganhão convidam V. Exa(s) a estarem presentes na apresentação do livro "A desilusão de Judas" que se irá realizar no próximo dia 6 de Setembro de 2011, pelas 18h30, na Sala Âmbito Cultural, piso 7, no El Corte Inglés de Lisboa. 

Obra e autor serão apresentados por Miguel Real. 

Infelizmente, e com muita pena minha, por motivos que o António bem conhece, não vou poder estar presente. Mas envio-lhe daqui um forte abraço, a ele e à bonita família que construiu. Muito sucesso e muita saúde.
                 

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Bom fim-de-semana




Enquanto foi só um bom momento deu
Enquanto foi só um pensamento meu
Deus, deu só num caso forte a mais.

Enquanto se achava graça ao que se escondeu
E as horas eram mais longas do que a verdade
Fez p'ra ser só outro caso mais.

Enquanto for só ternura de Verão
Eu vou,
Enquanto a excitação der para um carinho
Eu dou.
Traz
Uma leveza
Ah, mas concerteza
Eu dou
Um outro melhor bom dia.

Já trocámos nortadas por vento sul
Enquanto demos risadas foi-se o azul
Nem sei qual deles foi azul demais.

Mas não ficará só a sensação de cor
Nem sei o que o coração irá dizer de cor
Se o Inverno for, depois, duro demais.

Os indiferentes




Os Grandes Indiferentes

Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia 
Tinha não sei qual guerra, 
Quando a invasão ardia na cidade 
E as mulheres gritavam, 
Dois jogadores de xadrez jogavam 
O seu jogo contínuo. 

À sombra de ampla árvore fitavam 
O tabuleiro antigo, 
E, ao lado de cada um, esperando os seus 
Momentos mais folgados, 
Quando havia movido a pedra, e agora 
Esperava o adversário. 
Um púcaro com vinho refrescava 
Sobriamente a sua sede. 

Ardiam casas, saqueadas eram 
As arcas e as paredes, 
Violadas, as mulheres eram postas 
Contra os muros caídos, 
Traspassadas de lanças, as crianças 
Eram sangue nas ruas... 
Mas onde estavam, perto da cidade, 
E longe do seu ruído, 
Os jogadores de xadrez jogavam 
O jogo de xadrez. 

Inda que nas mensagens do ermo vento 
Lhes viessem os gritos, 
E, ao refletir, soubessem desde a alma 
Que por certo as mulheres 
E as tenras filhas violadas eram 
Nessa distância próxima, 
Inda que, no momento que o pensavam, 
Uma sombra ligeira 
Lhes passasse na fronte alheada e vaga, 
Breve seus olhos calmos 
Volviam sua atenta confiança 
Ao tabuleiro velho. 

Quando o rei de marfim está em perigo, 
Que importa a carne e o osso 
Das irmãs e das mães e das crianças? 
Quando a torre não cobre 
A retirada da rainha branca, 
O saque pouco importa. 
E quando a mão confiada leva o xeque 
Ao rei do adversário, 
Pouco pesa na alma que lá longe 
Estejam morrendo filhos. 

Mesmo que, de repente, sobre o muro 
Surja a sanhuda face 
Dum guerreiro invasor, e breve deva 
Em sangue ali cair 
O jogador solene de xadrez, 
O momento antes desse 
(É ainda dado ao cálculo dum lance 
Pra a efeito horas depois) 
É ainda entregue ao jogo predileto 
Dos grandes indif'rentes. 

Caiam cidades, sofram povos, cesse
A liberdade e a vida. 
Os haveres tranqüilos e avitos 
Ardem e que se arranquem, 
Mas quando a guerra os jogos interrompa, 
Esteja o rei sem xeque, 
E o de marfim peão mais avançado 
Pronto a comprar a torre. 

Meus irmãos em amarmos Epicuro 
E o entendermos mais 
De acordo com nós-próprios que com ele, 
Aprendamos na história 
Dos calmos jogadores de xadrez 
Como passar a vida. 

Tudo o que é sério pouco nos importe, 
O grave pouco pese, 
O natural impulso dos instintos 
Que ceda ao inútil gozo 
(Sob a sombra tranqüila do arvoredo) 
De jogar um bom jogo. 

O que levamos desta vida inútil 
Tanto vale se é 
A glória, a fama, o amor, a ciência, a vida, 
Como se fosse apenas 
A memória de um jogo bem jogado 
E uma partida ganha 
A um jogador melhor. 

A glória pesa como um fardo rico, 
A fama como a febre, 
O amor cansa, porque é a sério e busca, 
A ciência nunca encontra, 
E a vida passa e dói porque o conhece... 
O jogo do xadrez 
Prende a alma toda, mas, perdido, pouco 
Pesa, pois não é nada. 

Ah! sob as sombras que sem qu'rer nos amam, 
Com um púcaro de vinho 
Ao lado, e atentos só à inútil faina 
Do jogo do xadrez 
Mesmo que o jogo seja apenas sonho 
E não haja parceiro, 
Imitemos os persas desta história, 
E, enquanto lá fora, 
Ou perto ou longe, a guerra e a pátria e a vida 
Chamam por nós, deixemos 
Que em vão nos chamem, cada um de nós 
Sob as sombras amigas 
Sonhando, ele os parceiros, e o xadrez 
A sua indiferença. 

Ricardo Reis, in "Odes" 
Heterónimo de Fernando Pessoa

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Biblioteca nacional


Com a conclusão da fase de remodelação dos pisos da Torre de Depósitos que albergam as colecções do Fundo Geral e de Reservados, a Biblioteca Nacional de Portugal reabre a 1 de Setembro, conforme previsto, os respectivos serviços de Leitura.

As Salas de Leitura do Fundo Geral e de Reservados voltarão, assim, a operar nos horários habituais.
                                             

A pergunta do dia

Quem é o Ricardo Carvalho?

1 de Setembro

Há 17 anos, no meu primeiro dia de trabalho na Biblioteca Municipal de Moura, este era o nº 1 no top britânico. Parte da banda sonora da comédia "Quatro casamentos e um funeral", manteve-se em primeiro lugar durante 15 semanas, entre o início de Junho e Outubro de 1994.



                   

Mãe

Vou herdar-lhe as flores, pedi-as às minhas irmãs. Um dos grandes amores da sua vida. Mas mãos dela, tudo florescia. O galho mai...