domingo, 4 de outubro de 2009

Dia de aniversário

Por motivos de saúde (ou falta dela) que não me apetece relembrar, consultei o Dr. Vítor Caeiro no dia 13 de Agosto de 2002. Nessa mesma consulta, soube que tinha de ser submetida a uma intervenção cirúrgica com urgência. Após um tratamento muito intensivo para a minha já famosa e lendária anemia, a cirurgia foi marcada para uma sexta-feira, porque eu achava que na segunda-feira já estaria de volta a casa e os meus filhos, fora para o fim-de-semana, nem notariam a minha ausência.

Essa sexta-feira foi o dia 4 de Outubro, no Hospital do Espírito Santo, em Évora.

Logo de manhã cedo, fui levada para o bloco. A cirurgia começou por volta das 9 horas, e tinha a duração prevista de meia hora, mas acabou por durar quase três horas. As hemorragias não paravam e na verdade, prolongaram-se durante todo o dia, no recobro. De vez em quando, uma enfermeira chamada Ana Maria chamava-me baixinho, arrancando-me daquele torpor gelado em que estive todo o dia e mudava-me a roupa da maca onde estava.

Cá fora,  a minha família começava a ficar assustada, ninguém lhes dava informações concretas sobre o meu estado.

Quando o dia escureceu, o meu médico, que já ia a caminho de Madrid para participar num congresso, interrompeu a viagem e voltou para me ajudar, porque a minha hemoglobina, que no início da manhã estava nuns orgulhosos 12, tinha descido abruptamente e já marcava 7.

Devo-lhe a minha vida. Abri os olhos, arrancada outra vez àquele sono pesado da anestesia e ele disse-me que tinha de ser operada outra vez. Tive muito medo, disse-lhe que preferia ficar assim, não arriscar mais, porque os meus filhos eram muito pequenos e precisavam de mim. Respondeu que não podia deixar-me ficar, arriscar era a única hipótese.

Quando acordei novamente no recobro, senti um alívio que nunca conseguirei descrever. Lembro-me de ver o saco com sangue de alguém cuja generosidade ajudou a salvar a minha vida e a quem devo todos os dias que vivi daí para cá. A enfermeira chamada Ana Maria já estava fora de turno, mas tinha ficado à espera que eu acordasse e estava ao lado da minha cama. Nunca lhe agradeci o suficiente.

Já passava da meia-noite quando cheguei ao quarto e liguei o telemóvel para dizer à  minha irmã Marta que tudo tinha terminado. Fiquei internada mais 12 longos e penosos dias.

Este foi o pior dia da minha vida. Durante muito tempo não conseguia falar do assunto sem chorar. Nos primeiros anos só conseguia sentir pena de mim. Depois, o tempo ajudou-me a ver tudo de uma nova perspectiva. Este foi na realidade, o dia em que comecei literalmente uma nova vida. Por isso, hoje é dia de festa. Parabéns para mim.

1 comentário:

  1. Parabéns sim, lembro-me que o joão nunca fez o caminho tao depressa para Évora, lembro-me de aflita subir as escadas porque a mãe não queria dizer que tiveste k ser operada outra vez, lembro-me do alivio e do choque de te ver deitada, branca, sem reacção. Pensei se irias ficar sempre assim, mas Graças a Deus, tu como o exemplo de força que és, conseguiste passar por tudo isso. Nem sempre foram dias bons, houveram outros que foram maus, mas tiveste sempre, apesar do nosso apoio, sempre o amor incondicional dos teus filhos que nunca, nunca te deixaram sozinha.
    Parabéns par ti mana, por celebrares a vida de uma forma tao fantástica sendo o exemplo de pessoa que és, trabalhadora, dedicada, esforçada e acima de tudo uma lutadora, embora nem sempre saibam reconhecer isso.
    Tu, apesar de todos os teus problemas, aquela que esta sempre pronta a ajudar quem precisa ( e a Bá adora-te!!!), sem perguntas, sem criticas.
    Obrigado mana
    Patricia

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