quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Da amizade


Quem é nosso amigo? Aquele que sabe apreciar as nossas qualidades, que sabe captar os movimentos do nosso espírito, aquele em quem podemos confiar com a certeza de sermos compreendidos. Aquele a quem podemos confiar o nosso dinheiro e até os nossos filhos, porque tomará conta deles como se fosse seus. Aquele que nos consola mas que também sabe dizer-nos onde erramos. Aquele que nos aconselha sempre para o nosso bem e que age de forma a não nos ofender, respeitando a nossa dignidade. Aquele que não nos inveja, que não fala mal de nós e que, pelo contrário, nos defende das calúnias, dos ataques malévolos. Alguém que está sempre do nosso lado na difícil luta da vida. Que quer saber se estamos bem, mesmo quando estamos longe, e que está sempre pronto a acorrer quando pensa que precisamos dele. Que nos faz justiça quando os outros nos tratam injustamente.

A amizade é uma forma de amor, impregnada, entretecida de moralidade. O amigo está sempre do nosso lado, mas exige de nós um comportamento correcto, como o que impõe a si mesmo em relação a nós. Os amigos são iguais no afecto, nos direitos e nos deveres.

Existem três tipos de relações amorosas. As ligações fortes, as medianas e as fracas. As ligações fracas são as que estabelecemos com os conhecidos, os colegas, os vizinhos, para com os quais não experimentamos sentimentos fortes nem obrigações particulares. (…) Pelo contrário, as ligações fortes resistem ao tempo e às frustrações, como as que se estabelecem entre pais e filhos, e vice-versa. A mãe fica do lado do filho faça ele o que fizer (…) O amor de mãe está para além do bem e do mal. Mas também são fortes as ligações que se estabelecem com o enamoramento (…) 

A relação com os amigos, pelo contrário, pertence à categoria das ligações médias. Enquanto a paixão surge de improviso e, como um furacão, impele os dois amantes a viverem juntos, sacrificando ao seu amor qualquer outra relação, a amizade constitui-se lentamente através de encontros sucessivos, e cada indivíduo continua a ser igual a si mesmo. Ela não pede que as pessoas se desliguem do passado para renascerem, para constituírem uma nova entidade social que reorganiza o mundo à sua volta. Naturalmente, também os amigos têm pontos de vista semelhantes, partilham muitos valores. Mas como individualidades distintas, cada um tem o seu mundo privado, que o outro tem de respeitar e mesmo proteger. Por isso, a amizade é livre, serena, não opressiva. Por isso mesmo, porém, exige atenção e delicadeza.

(…)


 Francesco Alberoni in Viagem pela alma humana

4 comentários:

  1. Zélia

    Sou um Biólogo e Professor brasileiro.
    Estou divulgando, de forma aleatória, o blogue Ver de Vida. Visite-o se assim desejar.

    Sua página é múltipla e acolhedora.

    Felicidade em sua caminhada.

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  2. É ao ler textos destes que tomámos consciência dos poucos amigos que temos. Se calhar, nenhum...

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    1. Não acredito, Cristina. Só se quem te rodeia está cego e surdo. Ainda te conheço pouco, mas do que conheço, não acredito.
      Eu tenho dois, dos verdadeiros mesmo verdadeiros, sem dúvidas nem hesitações. Espero nunca os perder, porque preciso mesmo deles e tenho muito orgulho em saber que eles contam comigo da mesma forma. A seguir a ser mãe dos meus filhos, acho que é o meu maior orgulho, é saber que aquelas pessoas me escolheram para amiga.

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  3. A culpa também foi minha,apostei nas pessoas erradas durante vários anos. Nos últimos tempos, abri os olhos e arrisquei afastar-me delas. Fez-me bem, prejudicavam-me mais do que ajudavam. E continua a haver pessoas com quem gosto de conversar, embora não as possa considerar amigas. Ainda não... ;)

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