Os dois meses de espera transformaram-se numa semana. Havia um carro assim disponível. Só tinha um inconveniente, não tinha encosto para braços, porque era o modelo comemorativo dos 25 anos do Volkswagen Golf. "Mas é verde?" Sim, era verde, portanto fui buscar-te no dia 4 de Setembro de 2001.
Foste a minha primeira compra sozinha, o primeiro passo de uma vida a recomeçar. Foste o carro que sempre quis ter. O meu pai tinha tido um carocha, onde eu aprendi verdadeiramente a conduzir, por isso a Volkswagen impunha-se. O Golf sempre foi o modelo que mais gostei, em todas as versões que já teve e... só podias ser verde. Quando te trouxe, cheirando a novo e tão silencioso que quando parava até pensava que te tinha deixado ir abaixo, os miúdos perguntaram "Mãe, é nosso? Mãe, é dos quatro, não é? Tu dizes que tudo o que há cá em casa é dos quatro, o carro também é, não é?"
Sim, é dos quatro, mas só eu é que te conduzi. Já fizemos muitos quilómetros, tu e eu. Muitas horas solitárias pelas estradas deste Alentejo nas deslocações para dar formação. Foi aí que ganhaste a alcunha de Lindinho. Eras novo e fui a Barrancos dar formação. Estacionei-te numa rua estreitinha e perguntei a uma formanda "Fica aqui bem? Não faz mal? É que ainda é novo e é tão lindinho..." A partir daí perguntavam-me sempre "Então, onde estacionou hoje o Lindinho?" E pronto, ficaste com o nome.
Já pensei em trocar-te. Já não vais para novo e a vida é mesmo assim. Não te troquei ainda por causa deste dia que hoje chegou. O dia em que vais ter outra pessoa a conduzir-te. Guardei-te e estimei-te para que agora cumpras com a minha filha o que cumpriste sempre comigo. Mantém-te à altura dos desafios, mas nunca falhes na segurança, como nunca falhaste comigo. Cuida dela, como cuidaste de mim. Eu prometo que não a deixo pôr gasolina que não seja 98 :)
Este não é o meu lindinho. É um irmão gémeo londrino, em Portobello Road. |
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