quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Mãe


Podia ter sido quase tudo, mas é só minha mãe. Podia ter sido professora, médica, advogada, mas se alguma vez chegou a ter uma profissão, foi apenas costureira. Podia ter sido uma chef conceituada, mas os seus pratos só alimentaram a sua família. Podia ter sido uma líder em qualquer domínio, mas contentou-se em ser a mulher do meu pai.

A minha mãe é a mulher que nasceu fora do seu tempo, ou fora do seu lugar. Outras circunstâncias, com mais liberdade e menos preconceito, num meio mais desenvolvido teriam destacado a sua inteligência e perspicácia e teriam feito dela uma mulher brilhante. Assim, foi sempre actriz secundária no filme da sua própria vida.

A minha mãe é uma mulher entristecida e eu compreendo-a, porque a vida foi injusta com ela. Cresceu à sombra dos humores da minha avó e depois dedicou toda a sua vida a ser a âncora da família, o colo onde podemos sempre voltar e a opinião em que podemos sempre confiar, sem nunca ter tempo nem oportunidade para ser ela própria.

Foi com ela que aprendi quase tudo o que sou. Autodidacta, corajosa e pragmática, ensinou-nos a não baixar os braços perante a adversidade. Paciente, ensinou-nos a esperar e resistir ao desespero e à auto-comiseração. Liberal, ensinou-nos a tolerância e a solidariedade. Honesta e responsável, ensinou-nos a dignidade. Dona de um sentido de humor apuradíssimo, ensinou-nos a rir de nós próprias e das nossas vidas. Como Mãe, ensinou-nos a crescer e fez de nós mulheres activas, trabalhadoras e independentes.

Sei que hoje a sua felicidade é a nossa, que vive os seus sonhos através dos nossos e que se sente realizada pelo que conseguimos. Não se preocupe, Mãe. No meio dos trambolhões da vida garanto-lhe que somos felizes, porque nos ensinou a tirar partido de todas as pequenas coisas da vida e sobretudo porque cada uma de nós tem cá dentro a memória de todos os pequenos gestos com que sempre anulou as dificuldades.


Escrito para ser publicado aqui, há mais ou menos um ano,
 mas que se impõe relembrar hoje. 
Obrigada a todos os amigos, familiares e colegas que hoje estiveram connosco.
                                  

4 comentários:

  1. Omenagiar os nossos,principalmente quando eles o merecem, não é um acto de boa vontade é uma obrigação que devemos impor a nós próprios.

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  2. Mais uma tua liiiinda homenagem!

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  3. Pronto, lá me fizeste emocionar outra vez com este texto, como da primeira vez...
    Espero que esteja tudo bem com ela (dentro do possível)...
    Beijinhos.

    VM

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  4. Uma mãe assim, é eterna, não haverá vento que a derrube, nem tempestade que a arraste, será sempre uma fortaleza erguida que nada nem ninguém poderá alguma vez destruir... É assim no reino das mães boas, como a sua, a minha e tantas outras pessoas que a lêm...
    Uma boa mãe també merece uma boa filha a Zélia. Bonito texto.

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