sábado, 15 de outubro de 2011

Manuel da Fonseca, 100 anos

Antes que Seja Tarde

Amigo,
tu que choras uma angústia qualquer
e falas de coisas mansas como o luar
e paradas
como as águas de um lago adormecido,
acorda!
Deixa de vez
as margens do regato solitário
onde te miras
como se fosses a tua namorada.
Abandona o jardim sem flores
desse país inventado
onde tu és o único habitante.
Deixa os desejos sem rumo
de barco ao deus-dará
e esse ar de renúncia
às coisas do mundo.
Acorda, amigo,
liberta-te dessa paz podre de milagre
que existe
apenas na tua imaginação.
Abre os olhos e olha,
abre os braços e luta!
Amigo,
antes da morte vir
nasce de vez para a vida.

Manuel da Fonseca, in "Poemas Dispersos"
         

3 comentários:

  1. O sistema está prestes a ruir, seria inevitável, o Estado não se consegue reformar, acaba por tratar pior os bons, dedicados, porque os medíocres esses ficarão à espera... Lamento o estado a que se chegou, tudo poderia ter sido diferente, mas não foi, quando avisados, os portugueses preferiram Euros e Expo, Obras, festas e inauguração, desprezando, ignorando ou apelidando de profetas da desgraça os que se atreveram a fazer contas e não embarcaram na ilusão colectiva. Está aí a factura, infelizmente dividida a pagar pelos suspeitos do costume, também responsáveis, mas não os principais, estes infelizmente talvez se safem melhor, pela lamentável situação...

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  2. Antes que seja tarde?
    Amiga Zélia, a esta hora até as vacas do Cavaco Silva já tiraram o sorriso da cara.

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  3. Uma oportuna (e muito actual) evocação!

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