"Há um ano que nos apercebemos de que as crianças gozavam com as orelhas do Rafael, mas pensávamos que era uma situação resolvida. É de lamentar, sinceramente. Ele era um menino querido". As palavras são de uma professora da Escola Pedro Santarém, em Benfica, Lisboa, onde estudava Rafael Pereira – a criança de dez anos que anteontem de manhã enrolou uma corrente ao pescoço e terminou com a vida quando estava em casa sozinho. Segundo uma vizinha, o menino estava "cansado de ser gozado".Há um ano que se aperceberam, mas ninguém fez nada para evitar. O que é de lamentar é que as nossas escolas continuem a permitir que estas situações aconteçam, só "para não se meterem em conversas de rapazes", só "para não arranjarem chatices".
A vida do Rafael resume-se agora a isto, meia dúzia de linhas num jornal sensacionalista. Mas antes, houve muitos dias, muitas alegrias e tristezas, muitas esperanças e projectos para o futuro. O Rafael não era apenas um "miúdo de 10 anos". Na realidade, faria 12 anos em Novembro e era o leitor número 6597 desta Biblioteca. Passou muitas das suas horas livres no Pólo de Santo Amador, uma aldeia que hoje está de luto e chora a morte de um dos seus meninos.
Como muitas outras, a família do Rafael deixou o Alentejo e foi à procura de uma vida melhor na "civilização". E essa civilização deu-lhe um bando de miúdos egoístas e mal formados que o magoaram até à exaustão sem que ninguém mexesse um dedo para o defender, para o ajudar.
Infelizmente, o sistema não tem consciência, e limita-se a lamentar, "sinceramente".
A verdade é que ninguém sequer imagina estes desfechos. A verdade é que andamos todos demasiado ocupados, nesta "civilização", e deixámos de ter tempo de reparar nas angústias daqueles que nos cercam. Às vezes, simplesmente, deixamos de querer reparar...
ResponderEliminarQue triste!
ResponderEliminarEu fui muito gozada pelo meu nariz. Os meus pais nunca souberam.
Se isso me afectou? Sim, bastante... formou o meu caracter ... acabei por me fechar um pouco (muito?) para o mundo. Medo de tudo...
Mesmo qd esses cometarios deixam de existir e sobrevivemos a isso a cicatriz da ferida fica lá...
Um alerta importante.
ResponderEliminarTu és uma mulher bestial.
Beijos.
Os papás e as mamãs são igualmente monstros como os filhos, pois é deles que não chega qualquer forma de moralização ou disciplina que os forme como adultos. Quando os progenitores estão mais preocupados com a casa dos trambolhos do que com os seus (nas suas palavras) castigos. Pouco há a fazer. Eu faço assim: situações deste tipo puxo a mão atrás e onde cair é lucro! Era o que me faltava daqui a uns anos ser atropelado por merdas que nem gente são!
ResponderEliminarem cheio.
ResponderEliminar@"Especialmente", durante quase 30 anos fui incapaz de usar o cabelo apanhado em público, porque tenho orelhas compridas... Também nunca sorria e costumava pôr a mão sobre a boca para me rir, porque tenho os dentes um bocadinho tortos. E como já alguém fez o favor de dizer aqui, tenho os olhos um bocado "orientais". Fui muito gozada quando era pequena, mas nada que se assemelhasse à violência que exerceram sobre uma das minhas filhas por razões que prefiro não nomear. Fui à escola, pedi para a mudarem para uma nova turma que a acolheu com todo o carinho do mundo. A directora da Escola foi de uma disponibilidade que nunca esquecerei. Quando lhe pedi desculpa por estar a incomodar com aquele assunto, respondeu-me: "Zélia, não há justificação para uma criança viver esse sofrimento na escola".
ResponderEliminarAnos mais tarde, houve um miúdo que resolveu implicar com a minha outra filha. Costumava fazer o caminho de escola a casa atrás dela, a chamar-lhe nomes em voz alta e a gozar. Falei com a mãe do miúdo, respondeu-me: "Não o conhece? Quando o encontrar na rua diga-lhe!" Foi o que fiz. Assunto arrumado.
Agora vão dizer-me que sou uma mãe intrometida? Talvez. Acontece que quis muito ter estes filhos, lutei muito por eles e não admito a ninguém que os humilhe. Tento prepará-los para as derrotas e desilusões que a vida certamente lhes trará, nunca lhes escondi as dificuldades, mas deixar que os humilhem, nem pensar.
Anónimo: Concordo, os pais são os primeiros e principais responsáveis pela boa ou má educação dos seus filhos. Isso é inquestionável. Mas deixe-me discordar de si numa coisa: Toda a gente é gente. Quando nos damos ao luxo de pensar que há gente que é menos gente do que nós, abrimos espaço para este tipo de comportamentos.
Quando digo não serem gente devia ter dito pessoas adultas, minimamente bem formadas, porque ainda sou do tempo (este chavão magnífico) em que havia pessoas assim, e quando não o eram no mínimo ouviam: "Cresça e apareça até ser Gente!".
ResponderEliminarEsclarecida :) Obrigada.
ResponderEliminarDo que conheci do Rafael isto poderá ter sido uma brincadeira dele, que acabou mal.É verdade ele era gozado pelas orelhas grandes mas quando estava aqui comigo no Pólo nem ligava, nem dava resposta.
ResponderEliminarAgora numa escola devia ser muito complicado, não devia ser fácil para ele. Mas muita coisa que se disse acerca do caso do Rafael não é verdade.O Rafael era um muito educado e muito querido, vou sentir muito a falta dele.
Célia Almeida