Entrei para a Universidade no ano lectivo de 1989-90. Foi o ano mais curto de sempre, porque graças às trapalhadas da PGA e outras modernices, o ano só começou a 15 de Janeiro de 1990.
Como não simpatizava muito com as praxes, decidi baldar-me logo ao início e só fui às aulas na tarde do dia 17 de Janeiro.
Era uma aula de duas horas de uma cadeira chamada Teoria das Fontes e Problemáticas do Saber Histórico. A professora chamava-se Teresa Amado e só assisti a duas aulas, porque no segundo dia, estava a tirar uma dúvida com uma colega sobre uma recensão crítica e a senhora chamou-me a atenção, dizendo que o Jardim de Infância não era ali. Entre as palavras e o tom de voz, decidi arrumar as minhas coisas e sair.
O que guardo de bom dessa primeira aula, é o facto de ter conhecido nesse dia os meus colegas da universidade.
Hoje só quero falar da Jacinta, de Aveiro. Tranquila e um pouco triste, era mais ouvinte do que interveniente. Naqueles dias mais complicados, em que o trabalho apertava e começávamos a descarregar uns nos outros, a Jacinta ria-se e dizia. "Estamos todos doidos".
Tinha uma atenção especial com cada um de nós. Perguntava-me sempre "Estás bem? Precisas de alguma coisa?", porque eu só ia 2 dias por semana às aulas e precisava de pedir fotocópias aos meus colegas.
Depois da Queima, só a vi 2 vezes. Ela vivia em Évora, mas somos todos tão atarefados, temos todos vidas tão importantes, que não somos capazes de nos reunir e passar uns bons bocados com os amigos. E agora já é tarde de mais.
A Jacinta morreu no Domingo.
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Esta nossa "mania" de que temos todo o tempo do mundo, cai por terra quando nos confrontamos com estes acontecimentos. Infelizmente temos a memória curta. Meditamos por instantes mas, logo a seguir, voltamos à confortável ilusão que tudo controlamos.
ResponderEliminarPenso que o problema não está só em nós. A sociedade actual condiciona-nos, muitas vezes, a deixar para segundo plano tudo aquilo que deveria ser, naturalmente, prioritário.
Mas, nem que seja de vez em quando, deveriamos tentar mudar isso, não te "paresse"? ;)
Beijinhos.
Prima, não será também o efeito de irmos amealhando muitos amigos ao longo da vida? Já pensaste na quantidade de pessoas que vamos conhecendo e com as quais criamos laços de empatia?
ResponderEliminarÉ impossível manter uma relação próxima com todos. Percebo a tua tristeza, também a senti várias vezes ao longo da vida, mas temos que aceitar as nossas limitações...
Um beijo e um abraço!
É isso mesmo, nestas alturas arranjamos sempre tempo para acompanhar os funerais, para pensar no que deveríamos ter feito, mas continuamos a não prestar atenção a quem temos aqui ao nosso lado.
ResponderEliminarEu devo confessar que já aprendi alguma coisa neste sentido, e aprendi da pior forma, com a morte de uma grande amiga, há quase dez anos.
Desde aí, tenho procurado mudar algumas coisas no meu comportamento. Por exemplo, não fico aborrecida ou zangada com ninguém após um problema. Aprendi a reservar-me até estar suficientemente calma para falar do assunto sem magoar ou ferir e depois, o assunto fica resolvido, e a amizade segue o seu curso.
Não guardo rancor de ninguém. É claro que já tive desilusões com algumas pessoas, acções que não podem ser apagadas. Nesses casos, simplesmente desisto, não deixo que me magoem mais.
Acho que até sou uma pessoa de sorte, porque com todas as rasteiras que a vida já me pregou, os amigos nunca me faltaram. Se há coisa de que não me posso queixar é de falta de apoio e de amparo, que tento corresponder sempre.
Eu sei, Rogério, que é impossível estarmos perto de todos os que nos querem bem e a quem queremos bem. Mas a distância física não é o mesmo que a distância afectiva. E o que me magoa neste caso, é que nos afastámos uns dos outros, por descuido, ou desleixo. É uma culpa que não consigo apagar, que pesa muito.