A conferência de imprensa do porta-voz do governo da então Alemanha Oriental (RDA), no horário nobre da televisão, foi o despoletar dos acontecimentos. Günter Schabowski, acabara de anunciar a nova legislação sobre viagens do país. Devido a um mal-entendido, respondeu à pergunta de um jornalista italiano, a respeito do momento em que a lei entraria em vigor, com uma frase que se tornou famosa: "Pelo que sei, ela entra... já, imediatamente".
Como se de uma senha secreta se tratasse, milhares de alemães das “duas Alemanhas” saíram das suas casas. O peso das pessoas literalmente derrubou, a 9 de Novembro de 1989, o Muro de Berlim, também conhecido como o "muro da vergonha", principal símbolo da guerra fria, que durante 28 anos marcou a ferro e fogo a vida dos berlinenses.
O muro, construído em Agosto de 1961, foi a materialização da famosa imagem descrita por Winston Churchill quando, no final da década de 40, declarou que "uma cortina de ferro' tinha caído sobre o leste da Europa.
A queda do muro pôs fim a um longo êxodo de alemães orientais, que recorrendo aos métodos mais diversificados, simples ou sofisticados, haviam tentado durante 28 anos cruzar o muro por cima ou por baixo: 239 pessoas morreram nessa tentativa e 4.000 conseguiram chegar ao lado ocidental.
Naquela noite, há vinte anos atrás, estava a jantar em casa de umas pessoas conhecidas. Não conseguia afastar os olhos da televisão e só conseguia pensar que estava a assistir à História a acontecer. O Muro de Berlim estava a cair e eu estava a assistir em directo.
Lembro-me de pensar que um dia poderia dizer aos meus filhos que vira tudo aquilo acontecer: a coragem de Mikhail Gorbachov e a sua capacidade de renovar o socialismo integrando a evolução que o mundo havia sofrido desde o início do século, a queda de ditadores que se serviram de uma ideologia para seu proveito próprio, contrariando tudo o que essa mesma ideologia defendia e preconizava, e por fim, aquela noite extraordinária. A queda do muro e a reunificação da Alemanha, da Europa, da humanidade.
Não estive lá, mas vivi aqueles dias a rebentar de orgulho por viver numa sociedade, numa época que conseguia resolver os seus assuntos pela via do diálogo, da tolerância e da paz.
Infelizmente, estava enganada.
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