“Oh Zélia, quem a viu e quem a vê!”
Foi com esta frase que o colega de Assembleia Álvaro Azedo, ali presente na qualidade de Presidente da Junta de Freguesia de Santo Agostinho, respondeu à minha pergunta à bancada do PS sobre se estavam arrependidos de ter votado PS nas últimas eleições legislativas.
Previamente, o colega tinha feito uma intervenção em que alegava que o País é bom, mas está mal frequentado e que os nossos governantes não são dignos do nosso voto, pelo que achei que a pergunta que coloquei fazia todo o sentido.
O que não faz sentido é, numa Assembleia onde tanto se discutiu a liberdade de pensamento político, eu ser criticada por ter a ousadia de tomar uma opção diferente. O que não faz sentido é um Presidente de Junta fazer uma intervenção apenas para um ataque personalizado à minha liberdade de escolha.
Nunca o meu percurso político (se é que se pode considerar que tenho um) foi branqueado. Toda a gente que me conhece sabe de onde venho e onde estou. Não obstante, não reconheço ao colega Álvaro Azedo, nem à legião de cabeças que se apressou a acenar com risos de escárnio, a legitimidade para pôr em causa a minha escolha, seja ela qual for. Entendi não responder à provocação na altura porque não era o momento nem o local indicado. Não era a minha pessoa que estava em discussão, mas sim o Orçamento de Estado.
Vamos por partes:
Quando é que ficou legislado que as pessoas não podem mudar de opinião, que eu nunca me apercebi?
Qual é a lei (tem forçosamente de haver uma) que determina que os apoiantes e simpatizantes de outros partidos podem mudar de opinião e passar a apoiar o PS, mas o inverso é proibido?
Não me envergonho de nenhum dos votos que depositei nas urnas eleitorais. Em todas as ocasiões, acreditei sempre estar a votar na melhor proposta que se apresentava, e quando não estava suficientemente convicta, votei em branco. Estou determinada a manter o meu sentido de voto no futuro: de acordo com a minha consciência e não com o cartão que trago no bolso.
Nunca fui, não sou e não tenciono ser militante de nenhum partido político. Sou militante da minha consciência e da minha dignidade.
Até quando vou ser o bode expiatório da frustração de pessoas que, ao fim de todos estes anos, ainda não conseguiram perceber o que estão a fazer de mal e porque razão os apoiantes se continuam a afastar?
Já fizeram o favor de me informar que, no dia em que o PS vencer umas eleições autárquicas e assumir o executivo da Câmara serei posta a correr para fora da Biblioteca e serei colocada à frente de um balde e de uma esfregona. Não há problema, também me ajeito muito bem a lavar o chão. Faço-o sempre que é necessário, por isso, nem nesse dia, a frase que me dirigiu ontem fará sentido.
"Nunca fui, não sou e não tenciono ser militante de nenhum partido político. Sou militante da minha consciência e da minha dignidade"
ResponderEliminarGosto, como se faz no facebook!
Assim é que é falar.
ResponderEliminar“Se numa discussão se começa a atacar pessoalmente quem discorda de nós, a probabilidade de se poder continuar a discutir de forma razoável é mínima. As emoções fortes toldam a razão e se as pessoas responderem aos ataques pessoais, a discussão anterior perde-se e passa-se a discutir outra coisa. Claro que, muitas vezes, é precisamente isso que quer quem não tem argumentos para defender o que está a defender. Mas isto significa apenas que essa pessoa quer fingir que está a discutir ideias, para dar um ar de sofisticação intelectual e legitimidade racional ao que está a defender — tal como os ditadores de repúblicas das bananas gostam de fingir que fazem eleições livres, para dar legitimidade aos seus regimes ditatoriais e corruptos (…)”.
ResponderEliminarPensar Outra Vez: Filosofia, Valor e Verdade, de Desidério Murcho (Quasi, 2006)
Ainda bem que continuaram a discutir a ordem de trabalhos e foram relativizadas as manobras de diversão.
Deixe-me aplaudi-la de pé pela sua resposta!
ResponderEliminarQuanta coragem!
Será que as pessoas não percebem o que é a liberdade? Em todas as suas vertentes?
Quando estiveres de esfregona na mão volta a ler o que aqui escreveste. Este país putrefacto perdeu toda a dignidade. Sou favorável à perda de soberania dentro do espaço europeu para países que não se sabem governar sozinhos. Portugal ficaria muito melhor com um primeiro-ministro imposto por Bruxelas.
ResponderEliminarNeste tempo de cobardias de vária espécie são ainda mais salutares e pedagógicas as opinições frontais que nos lembram que há pessoas capazes de lutar por aquilo em que acreditam, mesmo que tenham de remar contra a corrente dominante, ainda mais quando têm consciência dos riscos que correm com essas tomadas de posição. Gostaria de lhe dedicar este poema de Brecht: "Há homens que lutam um dia, e são bons;
ResponderEliminarHá outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis"
TOMAR PARTIDO
ResponderEliminarTomar partido é irmos à raiz
do campo aceso da fraternidade
pois a razão dos pobres não se diz
mas conquista-se a golpes de vontade.
Cantaremos a força de um país
que pode ser a pátria da verdade
e a palavra mais alta que se diz
é a linda palavra liberdade.
Ary dos Santos
Quem é o partido?
ResponderEliminarBertold Brecht
“Mas quem é
o partido?
Ele fica sentado
em uma casa com
telefones?
Seus pensamentos
São secretos,
Suas decisões
Desconhecidas?
Quem é ele?
Nós somos ele.
Você, eu, vocês –
Nós todos.
Ele veste sua roupa,
Camarada, e pensa
Com sua cabeça.
Onde moro é a casa
Dele, e quando você é
Atacado ele luta.”
Parabéns Zélia pela espinha dorsal e coerência manifestada na sua acção consciente!
A falsa liberdade:
ResponderEliminar“Quem a viu, e quem a vê Zélia”
Uma forma paternalista, estilo Isabel Alçada, que nos diz de forma pedagógica, o que devemos ou não fazer, os perigos dos caminhos que escolhemos, e o quanto nos poderemos arrepender. É assim a Liberdade, expor alguém, apenas porque esta mudou de opinião, mudando o seu conceito, a sua visão da sociedade, desenganando-se com quem lhe vendia falsas promessas.
A Liberdade, de quem defende que os que lhe entram pelo partido a dentro vindo do PCP, ou de outros áreas, são bem-vindos, inatacáveis e que estão no seu pleno direito mudar, como é o caso, e começando pelo que lhe estão próximos:
Têm nas suas listas, Ex. Militantes do PCP como Autarcas de Freguesia, Ex. Apoiantes da CDU, nas várias listam apresentadas.
Pulido Valente/Presidente da Câmara de Beja – Ex Autarca da CDU
José Ernesto/ Presidente da Câmara de Évora – Ex Militante do PCP
Ministros e Ex Ministros, Dirigentes, Autarcas, vindos do PCP – António Mendonça, Pina Moura, Vital Moreira, José Magalhães, Mário Lino, José Luís Judas, entre muitos, mas não esquecerem o seu símbolo maior, Mário Soares, que em jovem foi militante do PCP, mas que nunca admitiu ser a sombra de Cunhal.
O que leva uma pessoa como a Zélia a mudar? o desencanto com as propostas, com as pessoas, com a intolerância, o revanchismo e o desprezo com que tratam os que tem opinião diferente.
O que ganhou ela com a mudança, ganhou o respeito pelo seu trabalho, pela sua opinião, válida como qualquer outra, em que o colectivo decide, em que a militância se faz, “ainda” pelo amor a uma causa, a um objectivo comum, a um ideal, ganhou a nobreza de quem dá desinteressadamente, não ganhou cargos, honrarias, mais dinheiro, ou protagonismo, para além do que tem dentro de um colectivo, onde todos são iguais.
Ganhou o mau hábito dos comunistas, contribuir para o engrandecimento do Partido, através da sua contribuição, tanto no trabalho intelectual, de intervenção política e social, como no voluntarismo das suas contribuições monetárias , não tirando dividendos dos cargos que ocupa, sim porque este Partido é feito das contribuições e da militância, não temos os Grupos Económicos, Grandes Empresários, ou Comunicação Social, tudo nos sai do trabalho
Quantos de vocês o Fazem? O senhor que a interpelou?
E todos aqueles que mudaram? Que descobriram aos 30, 40 anos, que o PCP, não tinha liberdade, onde estão? No PS, com altos cargos e ordenados, apenas mudaram, porque no PCP, apenas podiam acrescentar à sua conta, trabalho, dignidade, solidariedade e respeito, assim como a nobreza de princípios, nunca poderiam acrescentar muito mais do que isto.
Estes senhores são os Paladinos da LIBERDADE?
@ Manuel Gouveia
ResponderEliminar... estou em completa sintonia consigo.
... e quanto à ZP nas tarefas de limpeza, não vou dizer com a esfregona, irei à CMMoura muitas vezes para lhe mandar piropos brejeiros ... rssss.
Eu sei que isso não vai acontecer, não não é parte dos piropos, mas a parte das tarefas de limpeza... rssss !!!
LT, nãe se estique. Já viu como eu respondo às provocações com palavras, imagine quando a minha arma for uma esfregona...
ResponderEliminarComo se diz em Moura,"desviem-se"...LOL
ResponderEliminarZP,
ResponderEliminaro LT pode emprestar-lhe a arma nos dias em que não estiver no papel de Toxic Avenger, rssssss rrssssss
Ele deve ter ensaiado ao espelho várias vezes, gravou a sua entoação quando dissesse "oh Zélia, quem a viu e quem a vê" Não lhe retirem protagonismo, ele adora-se e é taaaao engraçado. acha-se o maximo.
ResponderEliminarZélia, o comentário anterior foi uma pequena provocação em ar de desanuviar o ambiente pesado ... aliás, tenho por si a maior consideração profissional, mas como dá luta, de vez em quando gosto de a provocar
ResponderEliminar... estava sim para me esticar sobre o estado actual de uma certa "elite" local do PS, mas não o vou fazer para bem da minha sanidade mental ... e porque depois tinha que também comentar sobre uma certa célula "surda e pidesca" do PC local que pulula na Câmara e fora dela ... ambas perigosas, ... a sorte é que em ambos os partidos ainda se vão encontrando algumas pessoas que sabem o que é democracia ... e com quem dá gosto conversar e beber uns copos ... os outros, nem ao varrer da porta.
LT
LT
LT,
ResponderEliminarAgora não esteve bem. Quando nos queremos referir a situações concretas com as quais não concordamos devemos especificá-las sob pena de se cair em generalizações que, muitas vezes, não correspondem à realidade. Confundir a árvore com a floresta ou tabelar as pessoas com empatias mais ou menos pessoais, nunca foi um bom princípio - as auto-denominadas elites são o que são, de surdos, cegos e loucos todos temos um pouco e que eu tenha conhecimento, a PIDE funcionava noutros campos políticos.
Em todos os partidos há gente excepcional e gente... enfim, menos agradável. É precisamente para mudar o que está mal que devemos continuar a lutar.E pelo caminho, convém respeitar os que pensam de forma diferente, porque é da diferença e da discussão que surge a evolução.
ResponderEliminarNinguém quer viver numa sociedade onde todos pensam da mesma forma.
@LT
ResponderEliminarQuanto à provocação, percebi, e procurei responder à altura. Nunca me passou pela cabeça que me faltasse ao respeito. Nestes meses de convivência virtual, nem sempre concordou comigo, mas manteve sempre uma postura correcta.
"Não obstante, não reconheço ao colega Álvaro Azedo, nem à legião de cabeças que se apressou a acenar com risos de escárnio, a legitimidade para pôr em causa a minha escolha, seja ela qual for."
ResponderEliminarDiz no seu post, que não reconhece legitimidade a essas pessoas, para porem em causa a sua escolha. No entanto fê-lo em relação a eles, quando lhe perguntou se estariam arrependidos de terem votado PS nas últimas eleições.
Não fui eu quem pôs o voto de ninguém em causa. Leia novamente e complemente com a leitura do resumo da Assembleia, ou com a acta oficial se duvida a minha palavra. Foi o colega em causa que declarou que os nossos governantes não são dignos do voto que os elegeu. E como muito bem disse, eu limitei-me a perguntar, não acusei nem julguei ninguém.
ResponderEliminar@ Anónimo de 31 de Outubro de 2010 17:44
ResponderEliminar... não me dê música, que é coisa que eu já ando há muitos anos a ouvir.
LT
LT
ResponderEliminar...se não pretende música não me puxe pelo instrumento.