quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A frase da noite

“Oh Zélia, quem a viu e quem a vê!”


Foi com esta frase que o colega de Assembleia Álvaro Azedo, ali presente na qualidade de Presidente da Junta de Freguesia de Santo Agostinho, respondeu à minha pergunta à bancada do PS sobre se estavam arrependidos de ter votado PS nas últimas eleições legislativas.

Previamente, o colega tinha feito uma intervenção em que alegava que o País é bom, mas está mal frequentado e que os nossos governantes não são dignos do nosso voto, pelo que achei que a pergunta que coloquei fazia todo o sentido.

O que não faz sentido é, numa Assembleia onde tanto se discutiu a liberdade de pensamento político, eu ser criticada por ter a ousadia de tomar uma opção diferente. O que não faz sentido é um Presidente de Junta fazer uma intervenção apenas para um ataque personalizado à minha liberdade de escolha.

Nunca o meu percurso político (se é que se pode considerar que tenho um) foi branqueado. Toda a gente que me conhece sabe de onde venho e onde estou. Não obstante, não reconheço ao colega Álvaro Azedo, nem à legião de cabeças que se apressou a acenar com risos de escárnio, a legitimidade para pôr em causa a minha escolha, seja ela qual for. Entendi não responder à provocação na altura porque não era o momento nem o local indicado. Não era a minha pessoa que estava em discussão, mas sim o Orçamento de Estado.

Vamos por partes:

Quando é que ficou legislado que as pessoas não podem mudar de opinião, que eu nunca me apercebi?

Qual é a lei (tem forçosamente de haver uma) que determina que os apoiantes e simpatizantes de outros partidos podem mudar de opinião e passar a apoiar o PS, mas o inverso é proibido?

Não me envergonho de nenhum dos votos que depositei nas urnas eleitorais. Em todas as ocasiões, acreditei sempre estar a votar na melhor proposta que se apresentava, e quando não estava suficientemente convicta, votei em branco. Estou determinada a manter o meu sentido de voto no futuro: de acordo com a minha consciência e não com o cartão que trago no bolso.

Nunca fui, não sou e não tenciono ser militante de nenhum partido político. Sou militante da minha consciência e da minha dignidade.

Até quando vou ser o bode expiatório da frustração de pessoas que, ao fim de todos estes anos, ainda não conseguiram perceber o que estão a fazer de mal e porque razão os apoiantes se continuam a afastar?

Já fizeram o favor de me informar que, no dia em que o PS vencer umas eleições autárquicas e assumir o executivo da Câmara serei posta a correr para fora da Biblioteca e serei colocada à frente de um balde e de uma esfregona. Não há problema, também me ajeito muito bem a lavar o chão. Faço-o sempre que é necessário, por isso, nem nesse dia, a frase que me dirigiu ontem fará sentido.

22 comentários:

  1. "Nunca fui, não sou e não tenciono ser militante de nenhum partido político. Sou militante da minha consciência e da minha dignidade"


    Gosto, como se faz no facebook!

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  2. “Se numa discussão se começa a atacar pessoalmente quem discorda de nós, a probabilidade de se poder continuar a discutir de forma razoável é mínima. As emoções fortes toldam a razão e se as pessoas responderem aos ataques pessoais, a discussão anterior perde-se e passa-se a discutir outra coisa. Claro que, muitas vezes, é precisamente isso que quer quem não tem argumentos para defender o que está a defender. Mas isto significa apenas que essa pessoa quer fingir que está a discutir ideias, para dar um ar de sofisticação intelectual e legitimidade racional ao que está a defender — tal como os ditadores de repúblicas das bananas gostam de fingir que fazem eleições livres, para dar legitimidade aos seus regimes ditatoriais e corruptos (…)”.

    Pensar Outra Vez: Filosofia, Valor e Verdade, de Desidério Murcho (Quasi, 2006)

    Ainda bem que continuaram a discutir a ordem de trabalhos e foram relativizadas as manobras de diversão.

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  3. Deixe-me aplaudi-la de pé pela sua resposta!
    Quanta coragem!
    Será que as pessoas não percebem o que é a liberdade? Em todas as suas vertentes?

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  4. Quando estiveres de esfregona na mão volta a ler o que aqui escreveste. Este país putrefacto perdeu toda a dignidade. Sou favorável à perda de soberania dentro do espaço europeu para países que não se sabem governar sozinhos. Portugal ficaria muito melhor com um primeiro-ministro imposto por Bruxelas.

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  5. Neste tempo de cobardias de vária espécie são ainda mais salutares e pedagógicas as opinições frontais que nos lembram que há pessoas capazes de lutar por aquilo em que acreditam, mesmo que tenham de remar contra a corrente dominante, ainda mais quando têm consciência dos riscos que correm com essas tomadas de posição. Gostaria de lhe dedicar este poema de Brecht: "Há homens que lutam um dia, e são bons;
    Há outros que lutam um ano, e são melhores;
    Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
    Porém há os que lutam toda a vida
    Estes são os imprescindíveis"

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  6. TOMAR PARTIDO

    Tomar partido é irmos à raiz
    do campo aceso da fraternidade
    pois a razão dos pobres não se diz
    mas conquista-se a golpes de vontade.

    Cantaremos a força de um país
    que pode ser a pátria da verdade
    e a palavra mais alta que se diz
    é a linda palavra liberdade.

    Ary dos Santos

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  7. André Escoval29/10/10, 14:51

    Quem é o partido?
    Bertold Brecht

    “Mas quem é
    o partido?
    Ele fica sentado
    em uma casa com
    telefones?
    Seus pensamentos
    São secretos,
    Suas decisões
    Desconhecidas?
    Quem é ele?

    Nós somos ele.
    Você, eu, vocês –
    Nós todos.
    Ele veste sua roupa,
    Camarada, e pensa
    Com sua cabeça.
    Onde moro é a casa
    Dele, e quando você é
    Atacado ele luta.”


    Parabéns Zélia pela espinha dorsal e coerência manifestada na sua acção consciente!

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  8. A falsa liberdade:
    “Quem a viu, e quem a vê Zélia”
    Uma forma paternalista, estilo Isabel Alçada, que nos diz de forma pedagógica, o que devemos ou não fazer, os perigos dos caminhos que escolhemos, e o quanto nos poderemos arrepender. É assim a Liberdade, expor alguém, apenas porque esta mudou de opinião, mudando o seu conceito, a sua visão da sociedade, desenganando-se com quem lhe vendia falsas promessas.
    A Liberdade, de quem defende que os que lhe entram pelo partido a dentro vindo do PCP, ou de outros áreas, são bem-vindos, inatacáveis e que estão no seu pleno direito mudar, como é o caso, e começando pelo que lhe estão próximos:
    Têm nas suas listas, Ex. Militantes do PCP como Autarcas de Freguesia, Ex. Apoiantes da CDU, nas várias listam apresentadas.
    Pulido Valente/Presidente da Câmara de Beja – Ex Autarca da CDU
    José Ernesto/ Presidente da Câmara de Évora – Ex Militante do PCP
    Ministros e Ex Ministros, Dirigentes, Autarcas, vindos do PCP – António Mendonça, Pina Moura, Vital Moreira, José Magalhães, Mário Lino, José Luís Judas, entre muitos, mas não esquecerem o seu símbolo maior, Mário Soares, que em jovem foi militante do PCP, mas que nunca admitiu ser a sombra de Cunhal.
    O que leva uma pessoa como a Zélia a mudar? o desencanto com as propostas, com as pessoas, com a intolerância, o revanchismo e o desprezo com que tratam os que tem opinião diferente.
    O que ganhou ela com a mudança, ganhou o respeito pelo seu trabalho, pela sua opinião, válida como qualquer outra, em que o colectivo decide, em que a militância se faz, “ainda” pelo amor a uma causa, a um objectivo comum, a um ideal, ganhou a nobreza de quem dá desinteressadamente, não ganhou cargos, honrarias, mais dinheiro, ou protagonismo, para além do que tem dentro de um colectivo, onde todos são iguais.
    Ganhou o mau hábito dos comunistas, contribuir para o engrandecimento do Partido, através da sua contribuição, tanto no trabalho intelectual, de intervenção política e social, como no voluntarismo das suas contribuições monetárias , não tirando dividendos dos cargos que ocupa, sim porque este Partido é feito das contribuições e da militância, não temos os Grupos Económicos, Grandes Empresários, ou Comunicação Social, tudo nos sai do trabalho
    Quantos de vocês o Fazem? O senhor que a interpelou?
    E todos aqueles que mudaram? Que descobriram aos 30, 40 anos, que o PCP, não tinha liberdade, onde estão? No PS, com altos cargos e ordenados, apenas mudaram, porque no PCP, apenas podiam acrescentar à sua conta, trabalho, dignidade, solidariedade e respeito, assim como a nobreza de princípios, nunca poderiam acrescentar muito mais do que isto.

    Estes senhores são os Paladinos da LIBERDADE?

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  9. @ Manuel Gouveia
    ... estou em completa sintonia consigo.
    ... e quanto à ZP nas tarefas de limpeza, não vou dizer com a esfregona, irei à CMMoura muitas vezes para lhe mandar piropos brejeiros ... rssss.
    Eu sei que isso não vai acontecer, não não é parte dos piropos, mas a parte das tarefas de limpeza... rssss !!!

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  10. LT, nãe se estique. Já viu como eu respondo às provocações com palavras, imagine quando a minha arma for uma esfregona...

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  11. Como se diz em Moura,"desviem-se"...LOL

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  12. ZP,
    o LT pode emprestar-lhe a arma nos dias em que não estiver no papel de Toxic Avenger, rssssss rrssssss

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  13. Ele deve ter ensaiado ao espelho várias vezes, gravou a sua entoação quando dissesse "oh Zélia, quem a viu e quem a vê" Não lhe retirem protagonismo, ele adora-se e é taaaao engraçado. acha-se o maximo.

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  14. Zélia, o comentário anterior foi uma pequena provocação em ar de desanuviar o ambiente pesado ... aliás, tenho por si a maior consideração profissional, mas como dá luta, de vez em quando gosto de a provocar
    ... estava sim para me esticar sobre o estado actual de uma certa "elite" local do PS, mas não o vou fazer para bem da minha sanidade mental ... e porque depois tinha que também comentar sobre uma certa célula "surda e pidesca" do PC local que pulula na Câmara e fora dela ... ambas perigosas, ... a sorte é que em ambos os partidos ainda se vão encontrando algumas pessoas que sabem o que é democracia ... e com quem dá gosto conversar e beber uns copos ... os outros, nem ao varrer da porta.

    LT

    LT

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  15. LT,
    Agora não esteve bem. Quando nos queremos referir a situações concretas com as quais não concordamos devemos especificá-las sob pena de se cair em generalizações que, muitas vezes, não correspondem à realidade. Confundir a árvore com a floresta ou tabelar as pessoas com empatias mais ou menos pessoais, nunca foi um bom princípio - as auto-denominadas elites são o que são, de surdos, cegos e loucos todos temos um pouco e que eu tenha conhecimento, a PIDE funcionava noutros campos políticos.

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  16. Em todos os partidos há gente excepcional e gente... enfim, menos agradável. É precisamente para mudar o que está mal que devemos continuar a lutar.E pelo caminho, convém respeitar os que pensam de forma diferente, porque é da diferença e da discussão que surge a evolução.
    Ninguém quer viver numa sociedade onde todos pensam da mesma forma.

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  17. @LT
    Quanto à provocação, percebi, e procurei responder à altura. Nunca me passou pela cabeça que me faltasse ao respeito. Nestes meses de convivência virtual, nem sempre concordou comigo, mas manteve sempre uma postura correcta.

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  18. "Não obstante, não reconheço ao colega Álvaro Azedo, nem à legião de cabeças que se apressou a acenar com risos de escárnio, a legitimidade para pôr em causa a minha escolha, seja ela qual for."

    Diz no seu post, que não reconhece legitimidade a essas pessoas, para porem em causa a sua escolha. No entanto fê-lo em relação a eles, quando lhe perguntou se estariam arrependidos de terem votado PS nas últimas eleições.

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  19. Não fui eu quem pôs o voto de ninguém em causa. Leia novamente e complemente com a leitura do resumo da Assembleia, ou com a acta oficial se duvida a minha palavra. Foi o colega em causa que declarou que os nossos governantes não são dignos do voto que os elegeu. E como muito bem disse, eu limitei-me a perguntar, não acusei nem julguei ninguém.

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  20. @ Anónimo de 31 de Outubro de 2010 17:44

    ... não me dê música, que é coisa que eu já ando há muitos anos a ouvir.

    LT

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  21. LT
    ...se não pretende música não me puxe pelo instrumento.

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