São 8 e pouco da manhã, estou num hospital público português. Ao meu lado está um casal a falar baixinho com ar preocupado. As análises de rotina, realizadas no hospital, custaram a módica quantia de 24,68 €. No guichet está outro casal. A funcionária pede-lhes 68 euros pelas análises que constam da requisição. Não vinham preparados, pedem desculpa e vão ao multibanco levantar dinheiro.
Agora é quase meio-dia e estou no balcão de marcação de análises e exames. À minha frente está um senhor de idade. Tem vários exames externos para fazer, porque o hospital público não tem os meios e a capacidade de resposta que seria desejável. Um dos exames é em Algés e o senhor pede transporte. “Já não há, só podemos pedir transporte para doentes acamados”, responde a funcionária, “Se quiser transporte agora, tem de pagar do seu bolso. Não tem ninguém de família que o leve lá?” O senhor diz que não, não tem ninguém. “Vá procurar o seu médico, explique-lhe a situação, pode ser que ele ainda lhe passe uma requisição…” Ao lado está outra senhora a marcar análises, a quem pedem mais 21 euros.
É este o serviço nacional de saúde, que desejámos público e tendencialmente gratuito? É este o Estado social de que tanto ouço falar nas notícias?
Anda toda a gente preocupada com os impostos que poderão vir a taxar as heranças deixadas por quem morre (se há herança é porque havia património) e ninguém se lembra dos que ainda estão vivos?