sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Uma crise, dois países

Depois de todos os membros do Governo terem apelado, de uma forma ou de outra, à compreensão dos Portugueses para a necessidade das medidas de austeridade, reafirmando que só o contributo de todos pode permitir ultrapassar uma conjuntura tão negativa, eis que reparamos que, ao nosso lado, há um país que também se chama Portugal, que também é governado por Sócrates, sob a magistratura activa de Cavaco Silva, onde os efeitos da crise são bem diferentes. Vejamos:

1. Para o país dos contribuintes, há reduções salariais entre 5 e 10%, anulando todos os esforços de progressão que haviam sido feitos pela sociedade activa nos últimos anos.

Para o país dos privilegiados, há excepções para evitar a fuga de Einsteins financeiros para o sector privado, como se fosse possível alojar em empresas privadas nacionais todos os boys que recebem vencimentos milionários no sector público e no sector empresarial do Estado.

Não me digam que é o mesmo país.

2. Para o país dos contribuintes, não há hipótese de fuga ao fisco. Pagamos mais IVA, vamos pagar mais IRS e são-nos roubados (desculpem, não encontrei outro sinónimo mais delicado) os abonos de família e outros direitos duramente conquistados.

Para o país dos privilegiados, os dividendos (o lucro referente às acções que tiveram dinheiro para comprar) são antecipados. Em vez de serem pagos no primeiro trimestre do ano seguinte àquele a que se referem, como é normal e habitual, são pagos antes do próprio ano terminar, para assim fugirem ao agravamento dos impostos e serem taxados a uma percentagem mais baixa do que aquela a que vai ser taxado o meu e o seu ordenado no próximo ano, depois de termos trabalhado para o receber.

Não pode ser o mesmo país.

3. No país dos contribuintes, funcionário público é sinónimo de saco onde se pode sempre ir buscar dinheiro. Há défice? Cortem  5 % nos salários dos funcionários públicos. Há dívida ao exterior? Cortem mais 5 %. Querem o TGV? Então, é fácil, cortam-se mais 5 % aos parvos do costume. Ah, e congelem também as progressões nas carreiras. Não precisamos de funcionários graduados. Para os cargos de chefia temos muitos candidatos que podemos nomear.

No país dos privilegiados, há Governos Regionais (Açores), do mesmo partido do Governo, que resolvem retirar dinheiro do Orçamento para compensar os "seus" funcionários públicos, porque esses devem ser os únicos que trabalham, devolvendo-lhes os 5% que o Governo ameaçou retirar-lhes.

É um país diferente, de certeza, e eu quero emigrar.
                        

2 comentários:

  1. Concordo plenamente!!!
    Eu funcionária pública exijo que o meu ordenado de Janeiro e de Fevereiro de 2011, me seja pago em Dezembro de 2010 para não me ser retirado 3,5% desses ordenado, para manter o 1% que me vão roubar para a Caixa geral de aposentações e para que nesses dois ordenados me fique menos dinheiro retido para o IRS...
    Porque é que não se pode fazer isto, se o permitem aos accionistas da PT e sabe-se lá mais de quem???
    MGantes

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