sexta-feira, 4 de março de 2011
Cão como nós
Pode vir a ser o best seller da Feira do Livro de Moura. Chama-se "O cão de Sócrates" e retrata a vida doméstica dos últimos seis anos no Palácio de S. Bento, pelos olhos de um cão.
A história começa quando o primeiro-ministro decidiu adoptar um cãozinho para alegrar os corredores da sua residência oficial. O rafeiro, criado na rua, chegou a São Bento como um animal «carente, sem confiança própria» e «sem aquela coragem canina que os donos tanto apreciam» nos cães. Mas o convívio com Sócrates transformou-o por completo. «Foi em São Bento que mudei de vida e de atitude. O contacto íntimo e diário com o primeiro-ministro transformou-me, fez de mim um cão novo, um cão moderno. Observando o meu dono, seguindo os seus ensinamentos e copiando os seus gestos e acções com uma paixão canina, deixei de sentir que todos os outros cães me eram superiores e passei a considerá-los inferiores. Deixei de os temer e passei a fazê-los sofrer. Tal como o sr. primeiro-ministro, tornei-me um animal feroz».
O cão de Sócrates conta, por exemplo, que foi ele quem roeu o certificado de habilitações do primeiro-ministro emitido pela Universidade Independente, que as páginas do SOL são utilizadas para apanhar os seus cocós, que foi treinado para mudar o canal da televisão sempre que aparece Manuela Moura Guedes - «aquela jornalista da TVI de boca enorme e olhos muito abertos» - ou que o primeiro-ministro se fechou numa sala no Parlamento para ver várias vezes a repetição dos corninhos de Manuel Pinho dirigidos ao líder da bancada comunista antes de o demitir.
O caso Freeport e a greve geral são outros dos momentos recordados nas páginas do livro. E nem sequer as perguntas que a Comissão Parlamentar de Inquérito enviou ao primeiro-ministro sobre o negócio Prisa/TVI foram esquecidas: «O meu dono estava extenuado. Desde os últimos exames que fizera, via fax, na Universidade Independente, para terminar o curso de engenheiro, que não fazia uma directa nem estudava tanto».
Mas o cão, tal como os portugueses, está desiludido, triste, desalentado. «Ao longo destes seis anos fiz tudo o que podia para agradar ao meu dono - abocanhei as canelas de alguns jornalistas, rosnei ao Presidente da República, mordi à chanceler Angela Merkel, passei pulgas para os líderes da oposição e comi os jornais com notícias desfavoráveis. Sacrifiquei-me pelo meu dono, mas para quê?»
Sócrates não se apercebe do estado depressivo do seu fiel amigo, mas, ainda assim, não o censura. «Se este é o mesmo chefe de Governo que durante meses e meses não se apercebeu de uma gigantesca e mortífera crise financeira que ia alastrando pelo mundo e pelo país como é que eu queria que ele se apercebesse da crise depressiva de um cão?».
«Há seis anos que sou o cão do sr. primeiro-ministro e o seu maior e mais fiel amigo de quatro patas apesar de, nos últimos meses, andar militantemente à procura de um novo dono. A verdade é que estou muito desiludido com ele. Eu sei que cerca de 10 milhões de portugueses também estão desiludidos com o meu dono e muito provavelmente também eles estão a tentar encontrar um novo dono para governar o país».
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O cão do Sócrates faz tudo para não perder as mordomias. Não se pode negar: é muito inteligente! Morde o bolso do povo que o alimenta e abana a cauda (rabo), em sinal de manifestação de carinho, para quem realmente manda.
ResponderEliminarCarlos - RJ
O humor continua a ser uma arma muito eficaz!
ResponderEliminarCãopatível
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