Depois de tanta tinta ter corrido sobre a trágica morte do jovem cantor e actor Angélico Vieira e de um dos passageiros que seguiam no carro, eis que hoje, surge isto:
Uma miúda de 18 anos, sem carta, resolve acelerar a fundo na A24, transportando uma irmã de apenas 1 ano e a ama da criança. Despistou-se e, para não ser apanhada sem carta de condução... fugiu.
A bebé tem um traumatismo craniano, e a irmã, se eu a apanhasse aqui à minha frente provavelmente ficava com outro, porque levava tantas...
quinta-feira, 30 de junho de 2011
Este país não é normal... - 1
Já não bastava a arrogância da ex-ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, que se recusou a passar a pasta a Francisco José Viegas alegando que "Ministro não passa pasta a Secretário de Estado".
Agora ficámos a saber que o governo socialista mandou apagar dos computadores dos funcionários de vários ministérios toda a informação que mantinham nos computadores com que trabalhavam, o histórico dos emails profissionais, a lista de contactos e até tudo o resto que continham nos discos rígidos.
Agora ficámos a saber que o governo socialista mandou apagar dos computadores dos funcionários de vários ministérios toda a informação que mantinham nos computadores com que trabalhavam, o histórico dos emails profissionais, a lista de contactos e até tudo o resto que continham nos discos rígidos.
quarta-feira, 29 de junho de 2011
Quando o futebol é o que menos importa no campeonato
Ainda sou do tempo em que não havia televisão por cabo. Nessa época, era comum nas tardes de Domingo, ver os homens sentados nos bancos da Praça ou do Jardim com o rádio colado ao ouvido, ou pousado entre eles, enquanto os locutores relatavam com emoção as jogadas dos heróis da bola.
No estúdio havia uma espécie de maestro, que coordenava a emissão, passando de um estádio para o outro. De vez em quando, aquele grito. "Goooooooooooooooloooooooo!". O relato que estava no ar era subitamente interrompido e a atenção desviada para o estádio onde, graças à magia de um qualquer pontapé, a bola acabava de entrar na baliza.
O futebol era por isso uma das definições das tardes de Domingo, a que se juntavam as bolachas recheadas de chocolate do Sr. Nicolau, à porta do Jardim e, lá mais para a tardinha, as matinés d'Os Amarelos.
Agora, o futebol é à noite e a horas tão óbvias como 19:15 ou 20:45, para fazer coincidir os intervalos cheios de publicidade com as horas certas do relógio.
Agora, o futebol é para as transmissões televisivas e os estádios estão cada vez mais vazios de gente, enquanto crescem as receitas das estações por cabo.
Agora, os sorteios já não são sorteios, são equações matemáticas, em que não pode haver "clássicos" antes da 5ª jornada, nem em jornadas consecutivas, etc., etc... Agora, o futebol é apenas um detalhe, abafado pelo festival de comentadores, pelas declarações polémicas, pelas conferências de imprensa, e por uma data de palavras estrangeiras mal pronunciadas, como flash interview e outras tretas do género.
Agora, já não há Campeonatos. Há Ligas com nomes de marcas e taças com nomes de cervejas, e estádios com nomes de empresas.
Agora já não há futebol. É só negócio, mais nada.
Jornada de Reflexão BAD em Moura
2ª Jornada de Reflexão
Construir comunidades, reforçar o reconhecimento profissional
Biblioteca Municipal de Moura
(Cine-Teatro Caridade)
2 de Julho de 2011
OBJECTIVO DO ENCONTRO
Promover a reflexão e o debate em torno do tema desta Jornada;
Orientar resultados do encontro para a estratégia da Associação;
Agregar/envolver associados e potenciais associados na reflexão e conhecer as suas necessidades, interesses e perspectivas.
ORGANIZAÇÃO DO EVENTO
Sessão plenária seguida de duas sessões paralelas, de acordo com os seguintes temas, numa tentativa de orientar a reflexão para o caso BAD e a montagem da sua nova estratégia:
TEMA 1
Interior/litoral: uma profissão a duas velocidades?
Existem diferenças entre o exercício da profissão de I-D no interior e no litoral do país? Que oportunidades e vantagens, em ambas as situações? Qual o papel da BAD para amplificar as boas práticas/iniciativas inovadoras e atenuar eventuais desvantagens existentes?
Coordenação: Nuno Marçal (moderador), Dora Pereira e Nuno Marques
TEMA 2
Como conseguir presença pública relevante e reconhecimento para a actividade dos profissionais de I-D?
Perspectivas: organizacional, profissional e associativa.
Coordenação: Constantino Piçarra (moderador), Paulo Fernandes e Zélia Parreira
PROGRAMA
Dia 2 de Julho
09h30
Acolhimento
10h00
Abertura *
Maria José Silva, Vereadora da Cultura, Educação e Acção Social
Paula Santos, Presidente do Conselho Directivo Nacional da BAD
10h15
Um percurso para a construção de uma estratégia para a BAD
Pedro Penteado e Pedro Príncipe
11h00
Intervalo
11h30
Sessões paralelas de reflexão
Tema 1
Interior/litoral: uma profissão a duas velocidades?
Tema 2
Como conseguir presença pública relevante e reconhecimento para a actividade dos profissionais de I-D?
13h00
Almoço (custo 10,00 €)
14h30
Sessões paralelas de reflexão (cont.)
16h00
Intervalo
16h30
Sessão Plenária (resultados e debate geral)
17h30
Encerramento
Zélia Parreira, Biblioteca Municipal de Moura e Paula Santos, BAD
Programa social e turístico "À Descoberta das Terras da Moura Encantada"
19h00
Viagem de autocarro para a aldeia de Santo Amador, Moura
20h00
Jantar convívio e visita ao Festival Ervançum na aldeia de Santo Amador
* Durante a manhã está previsto um programa de turístico para os acompanhantes.
Dia 3 de Julho
Manhã
Passeio de Barco em Alqueva
10h00
Saída do autocarro (em frente ao Cine-Teatro, Praça Sacadura Cabral)
10h30
Início do passeio de Barco em Alqueva (com prova de vinhos e degustação de gastronomia regional)
13h00
Almoço
Apoio
Câmara Municipal de Moura
terça-feira, 28 de junho de 2011
O que nos espera
Ser ou não ser, eis a questão
Centenas de pessoas concentraram-se na noite de segunda feira, junto do Hospital de Santo António, no Porto, para uma vigília de apoio ao cantor Angélico Vieira.Já sei que vou ser mal interpretada, mas mesmo assim, vou dar a minha opinião. Assim como assim, estou em minha casa, não é verdade?
Ainda bem que há tanta gente preocupada com o estado de Angélico Vieira. Eu, aqui nos confins do Alentejo profundo, também desejo que recupere e sobreviva. Mas não consigo deixar de me sentir revoltada (sempre tive esta mania de alinhar com os mais fracotes e impotentes) por ninguém se importar com a miúda que também está internada em estado grave e sobretudo com a "pessoa" que morreu vítima da irresponsabilidade de um jovem que tinha tudo nas mãos, mas optou por conduzir a alta velocidade, sem cinto de segurança, num carro que não era seu e que nem tinha seguro de responsabilidade civil.
Um jovem que é, como toda a sua "geração morangueira" um exemplo seguido pelos adolescentes. É óbvio que cada um tem o direito de viver a vida à sua maneira, mas quando dependemos das graças do público para sobreviver e ter sucesso, convém que tenhamos um bocadinho de respeito pelas pessoas. Qualquer uma das fãs nº1 que estão à porta daquele hospital podiam ter estado, por um azar horrível, num carro que circulasse, àquela hora naquele lugar e que tivesse sido atingido pela irresponsabilidade do seu ídolo.
Estas palavras não são para o Angélico, que precisa de tudo menos de sermões. São para todos os outros ídolos com pés de barro que aí andam, e que precisam de se convencer que a fama e o estatuto não são seguro de vida.
As minhas condolências à família da vítima mortal. As minhas condolências às famílias de todas as vítimas da irresponsabilidade de alguns condutores.
Liberdade de expressão
Bernardo Bairrão era administrador do grupo Media Capital, que detém a TVI. Foi convidado para um lugar de Secretário de Estado no Ministério da Administração Interna e depois, apenas algumas horas depois, foi substituído por Filipe Lobo d'Ávila sem sequer ter tomado posse.
Tudo porque foi impaciente e resolveu começar a emitir opiniões - antes de estar no lugar - contrárias à privatização da RTP, e portanto, à opinião daquele que é agora o grande líder.
"Ou estás comigo, ou estás contra mim", outra vez?
Tudo porque foi impaciente e resolveu começar a emitir opiniões - antes de estar no lugar - contrárias à privatização da RTP, e portanto, à opinião daquele que é agora o grande líder.
"Ou estás comigo, ou estás contra mim", outra vez?
segunda-feira, 27 de junho de 2011
15 poemas, 75 dias, 75 pessoas
A última semana de Um poema por dia está aí. Durante 75 dias ouvimos 15 poemas ditos por 75 pessoas oriundas das mais diversas áreas e sem estatuto profissional de declamadores. Poemas simplesmente ditos. Uma ideia óptima e muito simples, que só peca por chegar ao fim.
Podem rever os vídeos aqui. Eu escolhi este:
Podem rever os vídeos aqui. Eu escolhi este:
sábado, 25 de junho de 2011
Bom fim-de-semana
Entre por essa porta agora
E diga que me adora
Você tem meia hora
Prá mudar a minha vida
Vem, vambora
Que o que você demora
É o que o tempo leva...
sexta-feira, 24 de junho de 2011
1968-1991-2011
A "minha" Biblioteca celebra hoje 20 anos sobre a inauguração da 1ª fase das obras de remodelação que lhe permitiram estar no grupo das primeiras, a nível nacional, a integrar a Rede de Bibliotecas Públicas portuguesa.
A "minha" Biblioteca está a estourar pelas costuras. Durante estes vinte anos, crescemos de todas as formas possíveis, recusando aceitar os limites impostos pelas grossas paredes que a protegem. Estendemo-nos a todas as freguesias do concelho (caso raro, senão único em Portugal), fomos às escolas e criámos parcerias inéditas e exemplares com a Rede de Bibliotecas Escolares. Reformulámos serviços e implementámos projectos de promoção e difusão da leitura. Criámos o primeiro catálogo colectivo concelhio online a nível nacional e somos referência no funcionamento em rede. Fazemos uma das melhores feiras do livro do país e mantivemos sempre a "porta aberta", de acordo com os preceitos do Manifesto da UNESCO para as Bibliotecas Públicas.
Durante estes vinte anos, procurámos sempre, em todos os instantes, cumprir o nosso papel de facilitadores do acesso dos cidadãos ao conhecimento, ao pensamento, à cultura e à informação. Garantimos liberdade, igualdade, isenção. Criámos as condições necessárias para que todos os cidadãos, sem distinção de idade, raça, sexo, religião, nacionalidade, língua ou condição social se sentissem bem-vindos no espaço da Biblioteca e procurámos honrar a confiança depositada em nós enquanto força viva para a educação, a cultura e a informação, e como agente essencial para a promoção da paz e do bem-estar espiritual nas mentes dos homens e das mulheres.
Éramos 4, quando cheguei à Biblioteca, em 1994. Hoje somos 14. Crescemos e procurámos dignificar o trabalho de todos os que por aqui passaram, de todos os que tiveram a coragem e a sabedoria para investir numa Biblioteca, conscientes da ligeireza com que essas medidas são consideradas como supérfluas, mas conhecedores da sua importância e da forma como determinarão o futuro da nossa sociedade. Honra seja feita também a todos os que procuram os nossos serviços, que usufruem das nossas instalações, equipamentos e projectos. É para vocês que trabalhamos, todos os dias, e só convosco fazemos sentido.
Está tudo feito? Não, nem pensar... E o dia de hoje, sendo um dia feliz, deve ser também um momento de balanço. Olhar para trás e analisar o caminho que já percorremos e a forma como o fizemos, mas também olhar para a frente e planificar o caminho que temos de percorrer para afirmar o nosso dinamismo, para crescer enquanto instituição, para cumprir a nossa missão, para honrar os nossos pergaminhos, para servir a nossa comunidade.
Vamos continuar a projectar o futuro.
quinta-feira, 23 de junho de 2011
terça-feira, 21 de junho de 2011
Casa onde não há pão...
Francisco Louçã está desnorteado. O carisma do político sem gravata foi-se e o Bloco de Esquerda afundou.
A polémica agora é com Rui Tavares, que alegadamente terá dado indicações erradas numa entrevista, omitindo o nome de Fernando Rosas enquanto fundador do Bloco e substituindo-o pelo de Daniel Oliveira. Ora Rui Tavares diz que nunca disse tal coisa e Francisco Louçã, qual adolescente amuada, tratou de o desancar via Facebook. Os pedidos de desculpas e tentativas de conciliação que supostamente se sucederam não deram em nada e agora, na sequência desta questão de suprema importância, Rui Tavares, eurodeputado eleito pelas listas do Bloco de Esquerda resolve desvincular-se do partido que o elegeu, e assumir-se como eurodeputado independente, alinhando no Grupo político dos Verdes europeus. Diz que "perdeu a confiança pessoal e política".
E agora, pergunto eu: O senhor Rui Tavares, a quem eu até dava razão nesta quezília ridícula, acreditará que as pessoas que votaram no Bloco de Esquerda nas eleições europeias, o fizeram pelo seu nome? Desengane-se. As pessoas votaram no BE. Se o senhor não se identifica com o projecto do partido pelo qual foi eleito, só tem uma coisa a fazer, venha-se embora e deixe entrar o seguinte. Agarrado ao tacho é que não.
A polémica agora é com Rui Tavares, que alegadamente terá dado indicações erradas numa entrevista, omitindo o nome de Fernando Rosas enquanto fundador do Bloco e substituindo-o pelo de Daniel Oliveira. Ora Rui Tavares diz que nunca disse tal coisa e Francisco Louçã, qual adolescente amuada, tratou de o desancar via Facebook. Os pedidos de desculpas e tentativas de conciliação que supostamente se sucederam não deram em nada e agora, na sequência desta questão de suprema importância, Rui Tavares, eurodeputado eleito pelas listas do Bloco de Esquerda resolve desvincular-se do partido que o elegeu, e assumir-se como eurodeputado independente, alinhando no Grupo político dos Verdes europeus. Diz que "perdeu a confiança pessoal e política".
E agora, pergunto eu: O senhor Rui Tavares, a quem eu até dava razão nesta quezília ridícula, acreditará que as pessoas que votaram no Bloco de Esquerda nas eleições europeias, o fizeram pelo seu nome? Desengane-se. As pessoas votaram no BE. Se o senhor não se identifica com o projecto do partido pelo qual foi eleito, só tem uma coisa a fazer, venha-se embora e deixe entrar o seguinte. Agarrado ao tacho é que não.
Também acho que o dinheiro gasto em bibelots é um desperdício
E além disso, ainda é preciso andar sempre a limpar-lhes o pó... Uma desilusão para os que estavam à espera dos tais "lugares".
Passos Coelho já não nomeia novos governadores civis
Uma boa notícia - Parte II
O jornal Sol dá conta das intenções expressas no programa do novo Governo sobre as medidas a tomar na área da Cultura. Considerando ser «fundamental restaurar a identidade cultural e o prestígio dos teatros nacionais debilitados por políticas erráticas e irracionais», defende-se o «aperfeiçoamento do estatuto dos profissionais das artes», e aposta-se «na divulgação internacional dos criadores portugueses», e sim, muito importante, «completar a Rede de Bibliotecas Municipais»
É preciso lata!
O FC Porto recebeu esta terça-feira um fax em nome de André Villas-Boas, em que o treinador anuncia que rescinde o contrato com o clube, pagando a cláusula de rescisão.
Por fax? Caramba... Miúdo mal-comportado e mal-agradecido.
Por fax? Caramba... Miúdo mal-comportado e mal-agradecido.
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Ainda haverá esperança?
Ainda é possível resistir a quem prefere atalhos para chegar aos objectivos?
O dia de hoje faz-nos pensar que sim. Fernando Nobre, depois de perder as eleições para primeira figura da Nação, falha a eleição para segunda figura do Estado e o Conselho Pedagógico do Centro de Estudos Judiciários deliberou que os candidatos a magistrados vão ter de repetir o exame do copianço que, pasme-se, era de cruzinhas...
Sim, ainda pode haver esperança.
O dia de hoje faz-nos pensar que sim. Fernando Nobre, depois de perder as eleições para primeira figura da Nação, falha a eleição para segunda figura do Estado e o Conselho Pedagógico do Centro de Estudos Judiciários deliberou que os candidatos a magistrados vão ter de repetir o exame do copianço que, pasme-se, era de cruzinhas...
Sim, ainda pode haver esperança.
Pobre República
Com o país a viver uma das maiores crise de que há memória, damos-nos ao luxo de continuar a comemorar a República, apesar de o ano de 2010 já se ter despedido há muito.
Há quanto tempo duram estas comemorações? Quantos salários principescos temos pago, a começar pelo ilustre Comissário Artur Santos Silva? Quantas pessoas estão envolvidas nesta estrutura? Não acham que já chega?
Há quanto tempo duram estas comemorações? Quantos salários principescos temos pago, a começar pelo ilustre Comissário Artur Santos Silva? Quantas pessoas estão envolvidas nesta estrutura? Não acham que já chega?
É hoje
A todos os deputados que hoje iniciam as suas funções, votos de bom trabalho, e sobretudo, que não se esqueçam - cada um deles - que estão a representar milhares de pessoas que neles confiaram.
domingo, 19 de junho de 2011
Uma boa notícia?
Será a preocupação economicista suficiente para abafar a consciência de um homem, ou vamos ter finalmente, um boa notícia?
sábado, 18 de junho de 2011
Sopa de espinafres
Ela chegou primeiro, de mão dada com a filha. Vinha da caminhada, equipamento desportivo, calças justas e t-shirt a deixar ver o umbigo. A menina, que soube mais tarde chamar-se Inês, tinha aquele corpo rechonchudinho próprio dos seus 7 ou 8 anos, óculos e um equipamento cor-de-rosa.
A mãe olhava em volta sem parar, enquanto passava as mãos pelo cabelo. Sentou-se numa mesa e foi nessa altura que ele apareceu. Certificou-se que estacionava no lugar que lhe permitia dar o menor número de passos possível até chegar à mesa, abriu a porta traseira e deixou sair dois miúdos, rapazes.
O comportamento dela, típico de uma fêmea à procura de acasalamento, fez-me pensar que era uma nova família em constituição. Ela com a filha dela, ele com os filhos dele, numa acção de charme infantil, sexta-feira ao final da tarde na esplanada do McDonald´s. Mas rapidamente percebi que não. A cabeça dela continuava à roda como um cata-vento e ele emitia pouco mais que monossílabos. Afinal eram um casal em final de viagem, a tentar desesperadamente ter um jantar vagamente semelhante ao de uma família feliz.
- Já pediste?
- Eu não. Achas que tenho carteira?
São como cristal, as palavras. Algumas, um punhal*, cortam até o ar que se respira. Ele estendeu-lhe a carteira como se fosse um ramo de oliveira, mas só conseguiu fermentar a agressividade.
- Toma.
- Eu é que vou pedir? Eu???!!! Nem fui eu que quis vir aqui. Olha, vou-me calar que já estou a falar alto.
- Ok. O que querem?
Pedidos anotados, surge o primeiro problema: Havia dois tipos de sopa. A menina cor-de-rosa ainda veio com ar doce "Mãe, o pai pergunta que sopa é que queres? Há de espinafres e de..."
- De espinafres! Parece impossível, o teu pai ainda não sabe que eu quero espinafres?
As mãos de unhas vermelhas passam nervosamente pelos cabelos enquanto o olhar continua a procura incessante. Ao lado os miúdos ainda ensaiam umas brincadeiras, mas a mãe não está disposta a ouvi-los.
O pai chegou, com os tabuleiros. Fez várias viagens, mais ninguém se levantou da mesa.
Os miúdos começam a comer mas a mãe insiste em lhes gritar permanentemente "Come!", enquanto lhes dá palmadas nos braços. "Aloooô...! Come! Já me estás a irritar!" Por fim, dirige todo o seu ódio ao verdadeiro alvo.
- Viver contigo é horrível, percebes? O ambiente onde quer que tu estejas, é horrível. Não aguento mais, estou farta!
- Tu é que és horrível, cala-te.
Os miúdos já se calaram. Mastigam em silêncio e de cabeça baixa.
Apeteceu-me levantar da mesa e ir lá dizer-lhes que a vida não tem de ser assim.
A vida não precisa de ser isto. Os vossos filhos têm o direito de viver numa casa onde as conversas não sejam sinónimo de agressão. Têm direito a viver em paz com as pessoas de quem gostam. Têm direito a estar com os pais sem que estes estejam permanentemente a agredir-se, insultar-se, humilhar-se. A vida pode ser muito mais do que uma eterna discussão porque o outro ainda não sabe que a sopa preferida é de espinafres.
* Eugénio de Andrade, As Palavras
A mãe olhava em volta sem parar, enquanto passava as mãos pelo cabelo. Sentou-se numa mesa e foi nessa altura que ele apareceu. Certificou-se que estacionava no lugar que lhe permitia dar o menor número de passos possível até chegar à mesa, abriu a porta traseira e deixou sair dois miúdos, rapazes.
O comportamento dela, típico de uma fêmea à procura de acasalamento, fez-me pensar que era uma nova família em constituição. Ela com a filha dela, ele com os filhos dele, numa acção de charme infantil, sexta-feira ao final da tarde na esplanada do McDonald´s. Mas rapidamente percebi que não. A cabeça dela continuava à roda como um cata-vento e ele emitia pouco mais que monossílabos. Afinal eram um casal em final de viagem, a tentar desesperadamente ter um jantar vagamente semelhante ao de uma família feliz.
- Já pediste?
- Eu não. Achas que tenho carteira?
- Toma.
- Eu é que vou pedir? Eu???!!! Nem fui eu que quis vir aqui. Olha, vou-me calar que já estou a falar alto.
- Ok. O que querem?
Pedidos anotados, surge o primeiro problema: Havia dois tipos de sopa. A menina cor-de-rosa ainda veio com ar doce "Mãe, o pai pergunta que sopa é que queres? Há de espinafres e de..."
- De espinafres! Parece impossível, o teu pai ainda não sabe que eu quero espinafres?
As mãos de unhas vermelhas passam nervosamente pelos cabelos enquanto o olhar continua a procura incessante. Ao lado os miúdos ainda ensaiam umas brincadeiras, mas a mãe não está disposta a ouvi-los.
O pai chegou, com os tabuleiros. Fez várias viagens, mais ninguém se levantou da mesa.
Os miúdos começam a comer mas a mãe insiste em lhes gritar permanentemente "Come!", enquanto lhes dá palmadas nos braços. "Aloooô...! Come! Já me estás a irritar!" Por fim, dirige todo o seu ódio ao verdadeiro alvo.
- Viver contigo é horrível, percebes? O ambiente onde quer que tu estejas, é horrível. Não aguento mais, estou farta!
- Tu é que és horrível, cala-te.
Os miúdos já se calaram. Mastigam em silêncio e de cabeça baixa.
Apeteceu-me levantar da mesa e ir lá dizer-lhes que a vida não tem de ser assim.
A vida não precisa de ser isto. Os vossos filhos têm o direito de viver numa casa onde as conversas não sejam sinónimo de agressão. Têm direito a viver em paz com as pessoas de quem gostam. Têm direito a estar com os pais sem que estes estejam permanentemente a agredir-se, insultar-se, humilhar-se. A vida pode ser muito mais do que uma eterna discussão porque o outro ainda não sabe que a sopa preferida é de espinafres.
* Eugénio de Andrade, As Palavras
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Mãe
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