sexta-feira, 10 de junho de 2011

Dias

Há dias que nos ameaçam, com as suas passadas largas sobre o calendário. Evitamo-los, esticamos as horas, pedimos o milagre de lhes passar por cima, com a mesma indiferença com que pisamos as pedras da calçada. Há dias que nos fazem querer acordar no dia seguinte de humor inalterado, na ignorância feliz de não os ter conhecido.

Há dias que nos intimidam, tememos a sua inevitabilidade, tememos o sofrimento que nos vão trazer. Ainda vêm longe e já vemos o negro das suas nuvens, tão depressa queremos o alívio da chuva que limpará toda a pressão como desejamos ardentemente que a trovoada passe por nós e se dirija a outros que não conhecemos, para que não tenhamos de nos confrontar com as suas consequências.

Ontem foi assim. Do lado de fora correram indiferentes todas as vidas que nos passam ao lado. Mas na nossa vida não foi assim. As nuvens que esperávamos já rebentaram, a primeira chuva já caiu. Aparentemente, o céu clareou, e hoje, a manhã que tanto desejámos, acordou com alívio. Vivemos o dia que temíamos e sobrevivemos. Tombámo-lo sobre o calendário e continuamos de pé. Pelo menos até à próxima trovoada.

                  

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