Porque razão temos filhos?
Porque razão insistimos em trazer vidas a este planeta das quais não somos capazes de cuidar?
Porque razão as despejamos nas escolas, nas creches e em amas de madrugada e só voltamos já de noite?
Porque razão não estamos disponíveis para perceber que os nossos filhos estão tristes, acabrunhados, violentados?
Porque razão nós, seres imperfeitos e manifestamente incapazes de lidar com a realidade que vivemos, permanentemente afogados em mágoas e reclamações sobre tudo e sobre todos, insistimos em acreditar que os nossos filhos vão ser seres lindos e perfeitos, sempre lavados e penteados, sempre bem-comportados à mesa, que nunca vão chorar para não incomodar, que nunca vão fazer asneiras, que nunca vão ter problemas, nem angústias, que nunca vão ser infelizes?
Porque razão insistimos em ter filhos se depois permitimos que isto lhes aconteça mesmo debaixo dos nossos olhos e ainda insistimos em negar para não assumirmos que falhámos, que estivemos distraídos, que não vimos os sinais, que não soubemos ser bons pais?
Só uma das partes é inocente, tanto nesta história como nas outras histórias de crianças e jovens perdidos na vida, entregues ao abandono e à violência que têm vindo a público. São eles, as crianças e os jovens, e no entanto, são os únicos que foram punidos. De resto - as amas, os pais das crianças, os professores e todos nós, que construímos esta sociedade onde só o superficial importa - somos todos culpados. Que ninguém se atreva a lavar as mãos como Pilatos.
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Excelente post, Zélia! Tu tens autoridade para falar sobre isto, pois tens filhos (pelo menos, um, o herói futebolístico:) Eu nao os tenho e, muitas vezes, as pessoas nao levam a bem que eu diga que há gente que nao merece ter filhos. Ou que dê a minha opiniao em questoes de educacao. Mas tu disseste aqui tudo aquilo que eu gostaria de dizer. É uma realidade: tem-se filhos porque sim, a sociedade quase nos "obriga" e também há o instinto da continuacao da espécie. Muita gente, porém, nao tem condicoes, nem paciência, para eles. Pensam que ser pais é só pô-los no mundo, o resto resolve-se por si. Nada mais errado!
ResponderEliminar"insistimos em acreditar que os nossos filhos vão ser seres lindos e perfeitos, sempre lavados e penteados, sempre bem-comportados à mesa, que nunca vão chorar para não incomodar, que nunca vão fazer asneiras, que nunca vão ter problemas, nem angústias, que nunca vão ser infelizes" - lindo, muito lúcido, parabéns!
Às vezes, tenho pena de nao ter filhos, às vezes, sinto-me aliviada. Nao foi uma resolucao totalmente voluntária. A "natureza" nao ajudou e resolvemos nao forcá-la, embora haja, hoje em dia, muitas possibilidades. Fizemos bem? Nao sei. E acho que nunca o saberei...
Olá Cristina!
ResponderEliminarObrigada pelas tuas palavras.
Tenho 3 filhos (2 raparigas de 16 e 14 anos e um rapaz com 12). Não é, não tem sido fácil. Eles são a minha primeira escolha sempre, o que significa que deixei muitas coisas que gostaria de fazer para trás. Mas - isto é muito importante - não considero que tenha feito qualquer sacrifício, apenas fiz a minha escolha, percebes? Escolhi tê-los e escolhi protegê-los e educá-los e acompanhá-los e estar presente, custe o que custar.
Mas não sou a mãe perfeita, longe disso. Até porque, tal como não há filhos perfeitos, também não há pais perfeitos. Muitas vezes não sei que caminho escolher, qual a melhor forma de os educar... Muitas vezes dou comigo a pensar o que fariam os meus pais numa dada situação, porque tenho muito orgulho na forma como eles me educaram...
É claro que eu também tinha planos na minha cabeça para eles antes de nascerem, para a personalidade que teriam, para a forma como nos relacionaríamos, etc., mas não há certezas nem receitas infalíveis. Vamos vivendo um dia de cada vez :)
E como amiga? És uma boa amiga? Também puxas o lençol para nos cobrir quando estamos com frio?
ResponderEliminarEsta dificuldade de distinguir o principal do acessório é característica da falta de cultura que por aí grassa!
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