1995
Com o ano de 1995, a Feira do Livro vê o fim muito perto. As últimas edições não se podiam classificar como bem sucedidas, e parecia não haver hipóteses para o desenvolvimento da iniciativa.
A pedido da Biblioteca, decide-se, já durante o Verão, fazer mais uma tentativa, passando este sector a assumir a responsabilidade da sua realização, em coordenação com a então Divisão Sócio-Cultural.
A Feira acaba por realizar-se em Setembro, no Jardim Dr. Santiago. A presença de Moita Flores e alguns espectáculos musicais contribuíram para a animação do certame, mas não foram suficientes. O saldo total das vendas é muito fraco e ronda os 147 mil escudos, o que equivale a cerca de 750 euros.
imagens retiradas do Boletim Municipal
Em Portugal, diz-se que “as gravuras não sabem nadar”, com o intuito de evitar a construção da Barragem de Foz Côa e preservar as pinturas rupestres da região.
Esta polémica caba por condicionar de alguma forma os resultados eleitorais nas Legislativas desse ano, em que o PS de António Guterres é eleito para formar governo.
Diogo Freitas do Amaral é o Presidente da 50ª Assembleia Geral da ONU. Em Israel, o primeiro-ministro Yitzhak Rabin é assassinado. Um ataque com gás sarin atinge cinco estações no metropolitano de Tóquio. A guerra na Bósnia-Herzegovina chega finalmente ao fim com a assinatura do acordo de paz em Paris.
No desporto, destaque neste ano para o ciclismo e para a quinta vitória consecutiva de Indurain na Volta a França.
A 17 de Janeiro morre o escritor Miguel Torga. O mundo das letras perde também Hugo Pratt, famoso autor de Banda Desenhada. No ano em que o José Saramago publica Ensaio sobre a Cegueira, que considero uma das suas melhores obras, o Nobel da Literatura vai para o irlandês Seamus J. Heaney, ''pelos seus belos trabalhos cheios de profundidade ética e contempladores dos pequenos milagres de todos os dias''.
O filme deste ano é Forrest Gump. Lembram-se? É a história de um homem, Forrest, brilhantemente interpretado por Tom Hanks, sentado numa paragem de autocarro enquanto conta a história da sua vida a uma mulher sentada ao seu lado. Os ouvintes na paragem de autocarro mudam regularmente com o decorrer da história, cada um deles mostrando diferentes reacções desde a incredulidade e indiferença até uma profunda admiração.
Em 1995 morre fisicamente Miguel Torga mas deixa-nos mensagens sem tempo, onde não há lugar à resignação. A resignação é a negação do presente e, consequentemente, da própria vida:
ResponderEliminar(…) Escrevo para ti desde que comecei, sem te lisonjear, evidentemente, mas também sem ser insensível às tuas reacções. Fazemos parte do mesmo presente temporal e, quer queiras, quer não, do mesmo futuro intemporal. Agora, sofremos as vicissitudes que o momento nos impõe, companheiros na premente realidade quotidiana; mais tarde, seremos o pó da História, o exemplo promissor ou maldito, o pretérito que se cumpriu bem ou mal. Se eu hoje me esquecesse das tuas angústias, e tu das minhas, seriamos ambos traidores a uma solidariedade de berço, umbilical e cósmica; se amanhã não estivéssemos unidos nos factos fundamentais que a posteridade há-de considerar, estes anos decorridos ficariam sem qualquer significação, porque onde está ou tenha estado um homem é preciso que esteja ou tenha estado toda a humanidade (…) Apostar literariamente no porvir é um belo jogo, mas é um jogo de quem já se resignou a perder o presente. Ora eu sou teu irmão, nasci quando tu nasceste, e prefiro chegar ao juízo final contigo ao lado, na paz de uma fraternidade de raiz, a ter de entrar lá solitário como um lobo tresmalhado. Ninguém é feliz sozinho, nem mesmo na eternidade (…).
(Miguel Torga)