domingo, 18 de julho de 2010

Da minha aldeia

A minha dor de cabeça, que é muito minha amiga, veio passar a festa comigo. Deu um ar de sua graça na sexta-feira à noite e ontem chegou, de armas e bagagens e instalou-se. Para lhe fazer companhia, acabei por passar várias horas do dia de hoje deitada às escuras no meu quarto, a ouvir os barulhos da rua.


Coincidência ou não, já aqui passaram 3 pessoas que vieram relembrar a casa onde moraram, o lugar onde nasceram. Ouço o orgulho na sua voz, quando dizem: “Vês, aqui, esta porta? Foi aqui que eu nasci.” ou “Olha esta casa, olha! A pedra da rua ainda é a mesma. Tantas horas que passei aqui sentada no verão…” ou ainda “Era aqui, era aqui mesmo!”.

Há qualquer coisa de especial nesta Rua de Arouche. Há qualquer coisa de especial nestas ruas, nestas pedras, nestes passeios de Moura. Há uma luz que não há em mais lugar nenhum do mundo. Há um cheiro que só percebemos quando chegamos, regressados de uma viagem qualquer, que tanto desejámos “para poder sair daqui”. Mas mal saímos, mal passamos a ponte do Ardila, ou outra ponte qualquer no nosso caminho, sabemos que não é ali que pertencemos, mas aqui, neste espaço entre a Salúquia e o Sete e Meio, nesta Moura dos anos 30 e 40 e 50 que se gravou para sempre nas nossas memórias, mesmo daqueles que não a conheceram nesses tempos.

Era a Moura das janelas floridas, do bairro do Castelo, do bairro operário, a Moura das Feiras na Rua de Serpa, a Moura das noites de Verão, das largadas e dos mastros, a Moura das Festas de Nossa Senhora do Carmo.

Não nasci aqui. Sou de Aldeia Nova de S. Bento (sim, eu sei que agora é Vila). Mas sou daqui. Hoje e desde o primeiro dia em que pus os pés nesta terra. Sou de Moura. Agora é a Moura ao lado da Barragem de Alqueva e do maior lago artificial da Europa, a Moura sede do concelho onde se situa a maior central fotovoltaica do mundo, a Moura que lidera projectos internacionais na área do desenvolvimento sustentável e do equilíbrio ecológico. Mas hoje, como desde o primeiro dia em que para aqui vim, aquilo de que tenho mais saudades quando saio de Moura é da luz do sol, quando bate nas pedras da calçada. Aqui, como em nenhum outro lugar do mundo.

2 comentários:

  1. Bonito texto... e viva Moura!

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  2. Olha prima, eu também não sou de Moura, mas também sou um pouco daí. Por aí viverem tantas pessoas que adoro e que volto sempre para visitar, e por razões que não sei explicar. Costumo dizer, amiúde, que um dia aínda vou ter uma casa no Alentejo, e digo isto há muito tempo, muito antes de ser moda ter casa no Alentejo. A verdade é que o Alentejo desperta em mim uma paz e uma sensação de conforto é difícil de compreender, para quem sempre foi visitante e nem muito regular.
    Beijos com muitas saudades do Alentejo e de todo o clã!

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