sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Pensávamos que nunca mais lhe veríamos a cor


Publicado por Henrique Monteiro em http://henricartoon.blogs.sapo.pt/



Ouçam, vale mesmo a pena.

2 comentários:

  1. Das duas uma: ou sofre de graves problemas de amnésia ou deixa-se "tentar" com relativa facilidade...
    Ainda há quem se interrogue sobre o descrédito geral na política? Sobre as elevadas taxas de abstenção? Sobre os níveis de corrupção transversais a toda a sociedade portuguesa, começando por aqueles que deviam dar o exemplo? E que tristeza de deputados tem atrás da sua prepotente figura - pagos para aplaudir e dizer "Muito bem", entre sorrisos idiotamente cínicos...
    ..."Não vá por aí.."?? Isto era uma ordem? Um conselho? Um futuro plágio premeditado?
    Esta frase só me faz lembrar um daqueles poemas incontornáveis que nos deixam sempre a pensar.... E por muitas vezes que já o tenhamos lido, encontramos sempre novos motivos, para o voltar a reler:

    Cântico Negro

    "Vem por aqui" --- dizem-me alguns com olhos doces,
    Estendendo-me os braços, e seguros
    De que seria bom se eu os ouvisse
    Quando me dizem: "vem por aqui"!
    Eu olho-os com olhos lassos,
    (Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
    E cruzo os braços,
    E nunca vou por ali...

    A minha glória é esta:
    Criar desumanidade!
    Não acompanhar ninguém.
    --- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
    Com que rasguei o ventre a minha mãe.

    Não, não vou por aí! Só vou por onde
    Me levam meus próprios passos...

    Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
    Por que me repetis: "vem por aqui"?
    Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
    Redemoinhar aos ventos,
    Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
    A ir por aí...

    Se vim ao mundo, foi
    Só para desflorar florestas virgens,
    E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
    O mais que faço não vale nada.

    Como, pois, sereis vós
    Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
    Para eu derrubar os meus obstáculos?...
    Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
    E vós amais o que é fácil!
    Eu amo o Longe e a Miragem,
    Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

    Ide! tendes estradas,
    Tendes jardins, tendes canteiros,
    Tendes pátrias, tendes tectos,
    E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
    Eu tenho a minha Loucura!

    Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
    E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

    Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
    Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
    Mas eu, que nunca principio nem acabo,
    Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

    Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
    Ninguém me peça definições!
    Ninguém me diga: "vem por aqui"!
    A minha vida é um vendaval que se soltou.
    É uma onda que se alevantou.
    É um átomo a mais que se animou...
    Não sei por onde vou,
    Não sei para onde vou,
    --- Sei que não vou por aí.

    José Régio

    BB

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