A minha mãe e o meu pai sempre foram adeptos daquele clube que agora tem o estádio em frente ao Colombo. Na casa dos meus pais nunca se falou muito de futebol. Por isso, quando entrei para a Escola Preparatória (actual 2º ciclo), fiquei um pouco abananada quando me perguntaram pela primeira vez de que clube era. Foi aí que comecei a prestar atenção.
Na minha turma e entre os meus amigos, o Sporting estava em minoria e até dava aflição quando perdiam um jogo. O resto da malta apresentava-se na segunda-feira sedenta de vontade de espezinhar, humilhar, enxovalhar.
Se às vezes a situação se invertia, os poucos sportinguistas perdiam imediatamente o direito a demonstrar a sua alegria. Os matulões encarnados não viam com bons olhos a audácia dos poucos verdes que se atreviam a chegar sorridentes à escola ou, pior ainda, gozar um bocadinho com alguma derrota dos adversários.
Por isso, a pouco e pouco, as coisas foram-se definindo no meu espírito. Nunca poderia apoiar aquela soberba e presunção dos encarnados. Por outro lado, cada vez simpatizava mais com o Sporting e com os sportinguistas.
Quando andava no 6º ano, o Sporting, contra todas as expectativas divulgadas na comunicação social, ganhou um derby (se acham a imprensa tendenciosa, experimentem ser do Sporting). Não sei o resultado, duvido que tenham sido os famosos 7 a 1, mas sei que fiquei tão contente como só costumava ficar no dia dos meus anos. Percebi que me tinha tornado Sportinguista, de corpo e alma. E acreditem, não foi fácil, porque mais ou menos por essa altura o Sporting começava a longa travessia no deserto que haveria de durar 17 anos.
Embora não o tenha feito propositadamente, sei que o meu entusiasmo acabou por contagiar quase toda a minha família. É claro que a entrada do meu cunhado Francisco Manta para o clã foi determinante para o sucesso, e foi verdadeiramente em família que comemorámos os dois campeonatos com que o Sporting quebrou o jejum.
Acompanho os relatos pela rádio, recebo as sms do costume no telemóvel quando o Sporting perde e acho piada ao seu silêncio imóvel quando estamos a vencer. Grito quando há golo e respiro fundo quando a bola entra na nossa baliza.
Há golos inesquecíveis: o ombro de Miguel Garcia ou o ímpeto do Rui Patrício a atravessar o campo no último minuto para marcar e decidir o jogo. Os treinadores Augusto Inácio, Lazslo Bölöni e Paulo Bento. E jogadores: o Jardel sempre a mexer no cordão dos calções ali perto da área e depois, golo! Os guarda-redes Schmeichel e Ricardo, o André Cruz, o Acosta, Beto, Hugo Viana e o Pedro Barbosa. E agora o miúdo, João Moutinho e claro, Liedson. Meia equipa nas pernas, no espírito e na garra daquele Levezinho.
E momentos tristes, que nos fortaleceram: O penalty falhado de Miguel Garcia contra os encarnados, o silêncio da final da Taça UEFA em Alvalade e a desilusão gelada da primeira Taça da Liga no Estádio do Algarve.
Ninguém consegue imaginar a euforia que se vive na minha casa quando o Sporting marca e ganha. E quando perde, a sensação que nos invade de desilusão, de oportunidade desperdiçada...
Sim, eu sei que este ano tem sido trágico nesse aspecto, mas é precisamente nestes momentos, quando a derrota pesa e o desânimo parece não querer levantar âncora, que me apetece dizer a cada pessoa que encontro na rua:
Olá. Sou a Zélia. Mãe, Bibliotecária e Sportinguista.
O Núcleo Sportinguista de Moura completa dezasseis anos no dia 17 de Fevereiro. À minha família sportinguista, muitos parabéns. Na minha lista de boas memórias estão gravadas as horas de trabalho nas tasquinhas e as excursões a Alvalade. Mas o que está à nossa frente é o futuro, a nova sede, mais petiscos e muitos, muitos gritos de golo.
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Ok, vou ler. Obrigada.
ResponderEliminarAh prima, estiveste tão perto de ser perfeita...
ResponderEliminarZélia,
ResponderEliminarDevo dizer que, nesses anos de escola, ser-se politicamente assumido em determinados partidos, diferentes dos “politicamente correctos” (os partidos do centrão), não andaria muito longe dessa sensação de pertencer-se a um clube mais pequeno. No entanto, essa sensação de não pertencer a qualquer maioria funcionava, simultaneamente, como uma força invisível que nos dava alento para não seguirmos atrás de qualquer rebanho só porque…sim … principalmente quando os líderes de tais rebanhos, ostentavam tiques de superioridade, frequentavam os pátios da moda e vestiam, sem qualquer originalidade, aquelas roupas de marca tremendamente estereotipadas.
Sem querer colocar clubismos ao mesmo nível das opções políticas, porque acho que o primeiro apenas faz sentido enquanto desporto, tempo de lazer e saudável competição, confesso-me uma encarnada moderada e nunca fui apologista de clubes anti-portistas e anti-sportinguistas (excepto, é claro, quando jogam com as minhas saltitantes papoilas). Confesso, inclusive, ter tido, em tempos, alguma simpatia pelo Sporting (vinha no meio da tabela, é claro) até ao dia em que um desses adeptos e pretensos “seres superiores” me confirmou que eu fazia parte do “clube do povo” e, logo, não sendo sportinguista, não pertenceria a tal grupo elitista que era, nem mais nem menos, o que ele designava pela suprema “nata da sociedade”. Tal declaração deixou-me de tal forma esclarecida sobre a naturalidade com que me encaixava na minha esquipa de eleição, que a partir desse dia, o Sporting passou a constar da penúltima equipa com a qual me identificaria.
Há, assim, pormenores, que parecendo tão insignificantes, têm a capacidade de inconscientemente (ou não) condicionar a nossa visão sobre as coisas. Mal sabia ele que eu nem sou grande apreciadora de pastéis de nata…eh eh eh
Obs.-
1.Subscrevo a opinião do "primo". :)
2.Não disse uma das mais belas palavras que existem. A tal que é censurada :)
BB
... estas ameijoas de Olhão são um bocado indigestas ... pode ser que com uma água Castello a coisa passe ...
ResponderEliminartss tsss
LT
Não comi nenhuma, não gosto de ameijoas. A sorte foi o jantar da minha Mariana, senão tinha passado cá uma fominha...
ResponderEliminarAi, ai... Ainda falta muito para o fim da época?